APREENSÃO DE VEÍCULOS

PL defende cobrança de diárias do Pátio da Emdec apenas em dias úteis

Projeto de lei de Rodrigo Farmadic pretende acabar com as taxas aos sábados, domingos, feriados e pontos facultativos; votação acontece amanhã na Câmara

Luis Eduardo de Sousa luis.reis@rac.com.br
16/06/2024 às 09:44.
Atualizado em 16/06/2024 às 12:41
Sem contar a remoção, que tem valor fixado de R$ 388, o Pátio Municipal arrecadou R$ 1,6 milhão com estadias em 2023; atualmente, o local abriga 4.050 veículos apreendidos (Alessandro Torres)

Sem contar a remoção, que tem valor fixado de R$ 388, o Pátio Municipal arrecadou R$ 1,6 milhão com estadias em 2023; atualmente, o local abriga 4.050 veículos apreendidos (Alessandro Torres)

Um projeto de lei (PL) do vereador Rodrigo Farmadic (União) quer tirar a cobrança de diárias do Pátio Municipal da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) aos sábados, domingos, feriados e pontos facultativos. No texto, que foi aprovado em primeira votação, o vereador justifica que o poder público não pode deter um bem privado sem dar ao proprietário o direito de retirar o veículo e ainda cobrar por isso. A votação em definitivo acontece na sessão de amanhã, segunda-feira (17), na Câmara Municipal. Se aprovado, o PL vai à sanção do prefeito Dário Saadi (Republicanos).

Nas ruas, a medida foi aprovada com unanimidade pelos motoristas ouvidos pelo Correio Popular. Muitos deles justificam que quando as apreensões acontecem às quintas ou sextas, a cobrança é certa, uma vez que os trâmites burocráticos não permitem a retirada do veículo no mesmo dia. Somente em 2023, o Pátio Municipal arrecadou R$ 1,6 milhão com estadias - sem contar a remoção, que tem valor fixado de R$ 388 para qualquer veículo guinchado, independente da categoria. Segundo a Emdec, o montante representa 0,84% da receita obtida no ano passado. Sobre a tramitação do PL, a empresa ressaltou que “respeita qualquer decisão do Legislativo”.

Projeto similar foi aprovado em dezembro de 2022 no Rio de Janeiro (RJ). À época, o prefeito Eduardo Paes sancionou a lei aprovada na Câmara. Os argumentos usados para justificar o dispositivo legal foram os mesmos apresentados pelo parlamentar campineiro: "uma vez que o motorista está impossibilitado pelo próprio poder público, fica vedada a incidência de cobranças pela estadia do veículo”.

Em entrevista, Rodrigo Farmadic disse que o projeto decorre de vários pedidos que recebeu em seu gabinete solicitando a mudança, oriundos de moradores da cidade que tiveram problemas ao tentar retirar seus veículos apreendidos aos fins de semana e feriados. “O projeto é uma forma de reparar uma injustiça”, diz Farmadic, “se o veículo está sob posse do poder público, mas ele não disponibiliza meios para a liberação, então ele não deve cobrar”, continua. “Se a Emdec oferecesse servidores para que o cidadão possa retirar o veículo, aí tudo bem, mas como está realmente não há sentido”, complementa.

Além do sucesso no Rio, projetos similares foram propostos em cidades do Brasil e na Câmara dos Deputados, caso do PL 5206/20, que limita a cobrança de diárias e despesas dos veículos recolhidos nos pátios dos Departamentos de Trânsitos (Detran) dos estados e do Distrito Federal. O texto ainda não foi aprovado pela Casa.

Levada à rua, a proposta agradou os motoristas, sobretudo os que precisam parar o carro nas vias da região central, área onde as remoções são comuns por estacionamento irregular. “Eu concordo com a cobrança de segunda a sexta, agora, sábado, domingo e feriado já é sacanagem”, diz o vigilante Gustavo Mendes, de 29 anos. “Se o carro for apreendido numa sexta e segunda for feriado, misericórdia... fica uma facada”, opina.

Benedito Xavier, 42 anos, é dono de uma lanchonete na Rua Ferreira Penteado, Ele relata que as remoções são quase diárias e considera que a retirada da taxa é um alívio para o bolso do motorista. Xavier não vê o projeto como um estímulo às infrações de trânsito. “Se puder tirar, ótimo, perfeito. A gente já paga tanto imposto, taxas... a máquina pesa muito contra o bolso do brasileiro. Aí o cidadão vem e ou paga estacionamento. ou zona azul, por causa de um centímetro tem o carro guinchado, já tem que pagar o próprio guincho, fica impossibilitado de tirar o carro e aí são mais gastos ainda”, diz o empresário, que recorre com frequência às vagas de carga e descarga para abastecer seu negócio. “Espero que seja aprovado”, finaliza. “Eu já perdi uma moto para o pátio, porque não dei conta de pagar a quantidade de taxas. Se for ver, não tem cabimento uma coisa dessas, então tem que tirar sim”, opina Daniela Cristina, uma vendedora de 29 anos

O advogado Edson Carneiro Junior lidera um coletivo que acompanha os movimentos de revitalização do Centro. Ele aponta que esse é um problema relatado por clientes do seu escritório, anexo à Rua Doutor Quirino. “Assim como a Emdec cobra zona azul nos fins de semana somente até o começo da tarde, pelo princípio da isonomia do serviço público, a cobrança de diária aos fins de semana é injusta. Não estou afirmando que isso exista, mas abre margem para condutas erradas do órgão público, como apreender mais veículos nas sextas-feiras, por exemplo. Espero que o projeto avance e corrija essa injustiça”, expõe.

As diárias no Pátio Municipal custam R$ 38,90 para motocicletas, táxis, transporte por aplicativo e transporte escolar. O valor salta para R$ 116,69 para veículos pesados do transporte alternativo, e R$ 284,85 de fretamento - valor que também é praticado para veículos de transporte clandestino. A taxa de remoção é de R$ 388 para qualquer veículo, mas os pesados pagam uma taxa de apreensão no valor de R$ 2,8 mil.

Ontem a reportagem visitou o espaço, localizado na Rua Miguel Cascaldi Júnior, 141, no Jardim São José. A vendedora Edileusa Moreira, 51 anos, aguardava para retirar o carro do filho, apreendido há nove dias. As taxas a deixaram incrédula. “Cobram o fim de semana, que é um absurdo, e burocratizam tudo para empurrar cada dia mais a estadia. Não tem cabimento, é revoltante”, diz a mulher. Edileusa ainda teve que pagar R$ 100 para um guincho particular apenas tirar o veículo do pátio e descarregar na rua.

“Para retirar o veículo apreendido, é preciso pagar as eventuais multas vencidas, taxas e despesas do Pátio (remoção, estadias), como estabelece o Art. 271 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A liberação também é condicionada à apresentação da documentação do veículo regularizada e quitada, CNH ou RG do proprietário emitido há no máximo dez anos e ao perfeito funcionamento dos equipamentos obrigatórios e de segurança”, informa a Emdec em nota. Caso o proprietário não procure o órgão em 60 dias, o veículo vai a leilão.

Atualmente, o local abriga 4.050 veículos. Em todo o ano passado, foram 6.431 entradas. Já em 2024, até ontem, 3.106 veículos foram apreendidos. Em nota, a Emdec disse ainda que estuda o impacto financeiro do PL (caso vire lei) em seu orçamento. Conforme o texto do projeto, a medida é válida apenas para veículos removidos por infrações de trânsito. Veículos que estiverem com documentação irregular continuarão pagando, uma vez que é vedada a retirada do Pátio antes da quitação dos débitos. “Espero que o texto passe, dada a importância da matéria para a cidade. Vamos ver, no entanto, como os vereadores vão reagir às réplicas da Emdec, Secretaria de Transportes, Finanças, enfim, entes da administração diretamente envolvidos”, conclui o vereador Rodrigo.

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