TRAGÉDIA EM VINHEDO

Perícia usa drone para nova varredura em local atingido por queda de avião

Identificação de novos restos mortais entre os destroços paralisou trabalho de recuperação dos pertences das vítimas fatais

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
14/08/2024 às 10:49.
Atualizado em 14/08/2024 às 11:01
Além de drone, Polícia Científica usou fotometria para procurar por mais material genético no condomínio Residencial Recanto Florido, em Vinhedo; em outra frente de apuração, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou ontem que realizou a extração das informações das duas caixas-pretas do ATR-72 (Rodrigo Zanotto)

Além de drone, Polícia Científica usou fotometria para procurar por mais material genético no condomínio Residencial Recanto Florido, em Vinhedo; em outra frente de apuração, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou ontem que realizou a extração das informações das duas caixas-pretas do ATR-72 (Rodrigo Zanotto)

A Polícia Científica paulista retomou ontem de manhã os trabalhos de perícia no local da queda do avião ATR-72 da Voepass em Vinhedo. O reinício dos trabalhos ocorreu após a identificação novos restos mortais entre os destroços. O achado causou a suspensão da liberação da área no Condomínio Recanto Florido. A companhia aérea precisou interromper a recuperação dos pertences das 62 pessoas que morreram no acidente, para posterior entrega às famílias, e também paralisou o trabalho realizado pela seguradora.

Os policiais fizeram ontem uma varredura do local da queda com uso de drone e fotometria para procurar outros restos mortais. Esse último equipamento permite a identificação de materiais diferentes entre o metal por meio da medição de luz. A previsão era de que o trabalho fosse encerrado ainda ontem.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou ontem que realizou a extração das informações das duas caixas-pretas do ATR-72. São o Cockpit Voice Recorder (CVR, gravador de voz da cabine) e do Flight Data Recorder (FDR, gravador de dados de voo) da aeronave de matrícula PS-VPB. As informações são consideradas importantes para a apuração da causa que provocou a queda do avião no início da tarde da última sexta-feira (9). A extração foi realizada pela equipe técnica especializada do Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (LabData) do Cenipa, em Brasília-DF.

“Com relação ao CVR, está sendo realizado um estudo minucioso dos diálogos e sons estabelecidos na cabine e com o controle do espaço aéreo. Ainda, por meio do CVR, devem ser identificados os possíveis alarmes sonoros, cuja pesquisa pode requerer, se necessário for, uso de software de análise espectral do som”, explicou o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno. “Por meio do FDR, já no início do processo, busca-se, após a extração e obtenção das informações gravadas nas caixas-pretas, a conversão dos dados eletrônicos binários em unidade de engenharia (como no painel da aeronave)”, acrescentou.

OUTRAS AÇÕES

O órgão da Força Aérea Brasileira (FAB) reiterou a previsão de divulgar no prazo de 30 dias o relatório preliminar com dados do acidente aéreo e realizou ontem à tarde o transporte de três urnas funerárias de vítimas do acidente, o que ocorreu após serem identificadas no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo. Elas foram levadas para os aeroportos de Cascavel-PR, onde duas urnas serão desembarcadas. A outra será enviada para Pelotas-RS. O avião KC-390 Millennium decolou da Base Aérea de São Paulo (BASP), às 15h13, onde, antes, aconteceu uma celebração religiosa.

Na queda do ATR-72 morreram 58 passageiros e quatro tripulantes. Desse total, a força-tarefa do IML identificou 42 vítimas por meio da arcada dentária e pelas impressões digitais. Porém, o médico-legista Paulo Sérgio Tieppo Alvo afirmou que há a possibilidade de que alguns corpos passem por exames de DNA para serem identificados. A Polícia Científica do Paraná, Estado de origem da maioria dos passageiros, enviou para São Paulo 31 amostras de DNA e 19 de documentação odontológica para ajudar os peritos paulistas nesse processo.

“Os que ficam mais para o final são aqueles que demandam mais exames. No final, certamente alguns casos vão precisar de identificação com auxílio do exame de confronto genético (exame de DNA)”, afirmou Paulo Tieppo durante entrevista. “Eu garanto para vocês que quando esses corpos forem entregues aos seus familiares eles vão ter 100% de certeza que realmente é aquela pessoa. Nós não liberamos nenhum corpo, nenhuma pessoa, nenhum cadáver, se não houver uma certeza dessa verificação. É por isso que daqui pra frente o processo vai ser um pouco mais lento”, acrescentou o médico-legista. Não há uma previsão de quando o trabalho de reconhecimento terminará.

“A identificação de corpos em acidente aéreos é sempre um desafio por conta da carbonização. Neste caso, serão necessários exames de DNA, além da reunião de outros elementos que ajudem na identificação, como exames de arcada dentária, ficha odontológica, fotografias que registrem o sorriso da pessoa, prontuários médicos, entre outros”, detalhou a médica perita Caroline Daitx.

Segundo ela, exames de antropologia forense também podem auxiliar o processo de identificação humana. Nesse caso, o médico-legista e odontolegista realizam uma análise do corpo ou ossos em relação a aspectos físicos, como marcas de nascença, cirurgias, sinais, tatuagens e outras características individualizadoras que possam contribuir para a identificação. Objetos pessoais encontrados nos destroços também podem auxiliar no processo.

Os resultados desses exames saem, em média, entre 48 e 72 horas, mas “podem demorar mais por conta do volume de amostras, em decorrência do número de vítimas”, explicou Caroline Daitx. Caso não haja resultado compatível ou satisfatório, a identificação passa para a última etapa, que é a realização do exame de DNA, etapa em que é coletado material biológico no corpo da vítima e de um familiar de primeiro grau, e essas amostras são encaminhadas para análise. Caroline atuou na Polícia Científica do Paraná até 2023 e foi diretora científica da Associação de Médicos Legistas do Paraná. Ela é atualmente perita particular.

GOLPES

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) conseguiu derrubar 31 perfis falsos na internet criados para levantar recursos em favor das famílias das vítimas do acidente aéreo em Vinhedo, 12 deles na última segunda-feira (12). “O Ministério Público está irmanado na dor eterna com todos vocês”, disse o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, ao falar com familiares das vítimas. Ele definiu as pessoas que estão tentando obter vantagens indevidas com a tragédia como “criminosos”.

Os perfis falsos foram derrubados por intermédio do CyberGaeco, unidade do MP especializada em prevenção e combate a crimes cibernéticos, com apoio do Cyber Lab do Ministério da Justiça. O procurador-geral também designou três promotores para acompanhar o inquérito Policial Civil em Vinhedo. Beatriz Binello Valério e José Cláudio Tadeu Baglio atuarão ao lado da promotora natural da ocorrência, Waleska Bueno Sanches Buratto.

De acordo com o advogado Marcial Sá, especialista em Direito Aeronáutico, em casos de acidente, a primeira responsabilizada será a companhia aérea. “(A Voepass) será responsabilizada pelos danos morais e danos patrimoniais, incluindo casos de óbitos, qualquer dano moral dessa natureza. A empresa aérea será responsabilizada de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica (artigo 268), o Código Civil (artigo 734), e o Código do Consumidor, que inclusive vislumbra a chamada responsabilidade objetiva imposta ao transportador, fundada no risco da atividade”, explicou.

Segundo o advogado, nesse momento crítico, a empresa aérea deve prestar toda a assistência necessária aos familiares das vítimas. “Nesse momento, a empresa aérea tem a responsabilidade de prestar toda a assistência aos familiares das vítimas fatais do acidente, em termos de apoio logístico, apoio emocional, apoio social e tudo o que envolver a assistência aos familiares dos envolvidos no acidente, incluindo a tripulação”, afirmou Marcial Sá.

  

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