Município deve ir além de ação emergencial, segundo o vice-presidente da entidade, Juan Quiróz
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Juan Quirós, defende a elaboração de um plano estratégico de desenvolvimento para Campinas para que a cidade possa ganhar em qualidade de vida. O plano, disse, deverá reforçar as vocações do município nas áreas de inovação tecnológica, serviços, indústria, logística, turismo e atividades relacionadas ao pré-sal, de forma que essas características sejam fator de desenvolvimento.
“O plano vai definir que cidade queremos num horizonte de 20 anos, para que os investimentos possam ser direcionados de forma que a meta possa ser atingida. Sem isso, continuaremos produzindo uma cidade sem integração”, afirmou o empresário, presidente do Grupo Advento.
Quirós lembra o que poderá ocorrer se os investimentos não acompanharem o desenvolvimento de Viracopos, o maior ativo de Campinas. “De que adiantará termos um grande aeroporto, moderno e ser o maior da América Latina, se não conseguirmos chegar até ele? Hoje, as estradas que dão acesso a ele já estão saturadas. A partir do ano que vem, o crescimento poderá ser muito grande e a mobilidade será fator determinante no desenvolvimento de Viracopos”, disse.
Quirós defende a retomada do projeto de implantação do aeroporto-indústria, mas em condições mais amplas que aquela que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) planejava para Viracopos em 2010. A licitação aberta na época não teve interesse de empresários porque a área destinada era pequena. “Se quisermos reverter a tendência negativa da nossa pauta de exportação, vamos precisar do aeroporto-indústria”, afirmou.
O projeto do aeroporto-indústria visa atrair empresas exportadoras para as áreas no entorno do aeroporto. O local é um recinto alfandegado. A empresa que nele se instalar terá a isenção dos tributos federais (imposto de importação, PIS, Cofins e todos os outros que incidem sobre insumos importados e exportados) e o benefício logístico de estar dentro do aeroporto, que acarretará em uma redução de custos, riscos de transporte e tempo.
Quem estiver no aeroporto não terá nenhum fator que atrapalhe a chegada de cargas. A intenção da Infraero e do governo era oferecer condições para atrair novos investimentos ao aeroporto industrial, alavancando o mercado exportador e importador da região e, consequentemente, tornando as empresas locais mais competitivas.
Correio Popular - Quais são os gargalos ao desenvolvimento de Campinas?
Juan Quirós - Os principais deles são a falta de infraestrutura e a falta de estratégia de desenvolvimento de curto, médio e longo prazo. O que ocorre em Campinas é o mesmo que ocorre no Brasil. Precisamos definir as vocações regionais e locais para termos projetos de transformação que possam dar um salto na qualificação da cidade. O natural na gestão pública é iniciar os governos com boas intenções e ideias, mas que são atropeladas pelas urgências. E as prioridades acabam ficando soltas. Sem ter um plano estratégico, dificilmente os governos conseguirão sair dessa roda.
Quais seriam as vocações de Campinas na atual conjuntura?
Hoje são a inovação tecnológica, serviços, indústria, logística, turismo e o pré-sal. É em cima dessas vocações que temos que sustentar nosso crescimento. São elas que irão transformar o PIB de Campinas, a geração de emprego e a qualidade de vida. Campinas precisa, mais do que nunca, de uma transformação com a liderança do gestor público e apoio pleno da sociedade. Por isso, precisamos ter um plano para pensar a cidade para os próximos cinco, 15 e 20 anos.
Na sua opinião, como seria esse plano estratégico?
A atração de investimentos é fundamental e precisamos ter um projeto de cidade para isso, porque o investimento é um instrumento de transformação. As vocações de Campinas são oportunidades de negócios e é a partir delas que poderemos ter atração de indústrias, fazer investimentos em mobilidade urbana e tudo que a cidade precisa.
O maior investimento que ocorre em Campinas é a ampliação de Viracopos. Como o senhor avalia o impacto que ele trará à infraestrutura da cidade, especialmente em mobilidade?
O aeroporto é o ímã de atração de investimentos e tem que estar atrelado a aportes em mobilidade e infraestrutura no entorno. De que adiantará ter um aeroporto moderno se os acessos a ele estão limitados? A acessibilidade é uma oportunidade de negócios e o aeroporto vai mudar o eixo de desenvolvimento da cidade, porque para o entorno irão shoppings, residências, hotéis, prédios corporativos, empreendimentos logísticos. Teremos naquela região uma pequena cidade, que no futuro atrairá faculdades e outros equipamentos. Por isso, a estratégia de integração urbana e infraestrutura tem que ser planejada pelos governos federal, estadual e municipal. Viracopos tem interesse regional. Se olharmos os eixos Anhanguera, Bandeirantes e D. Pedro vamos ver que eles se tornaram atrativos para a área de logística. Antes, a logística não era a vocação dessas rodovias, mas acabou se tornando por conta dos investimentos feitos nas estradas
Falou-se muito da implantação do aeroporto-indústria em Viracopos, mas o assunto desapareceu da pauta. Como o senhor vê essa desistência?
A nossa pauta de exportação será sempre negativa porque são produtos de valor agregado, mas cujos componentes são importados. Se as mercadorias exportadas fossem montadas em um aeroporto-indústria, poderíamos ter um diferencial, porque esses produtos estariam isentos de impostos. Com a área que já está desapropriada, teria que se repensar a vocação do aeroporto e instalar ali um parque industrial limpo, onde os produtos estariam isentos de impostos para podermos reverte a pauta de exportação
O senhor defende a montagem de um plano estratégico para Campinas. Sem ele, que futuro o senhor vê para a cidade?
Sem planejamento, o desenvolvimento continuará ocorrendo com investimentos pontuais e isso significa que continuaremos produzindo uma cidade desintegrada, o que representa altos custos de infraestrutura para levar água, luz, esgoto a regiões cada vez mais distante. Se tivermos um plano estratégico de desenvolvimento, poderemos decidir para onde irão os investimentos. O mais caro já foi feito na cidade, que é a sua infraestrutura. E, agora, precisamos ocupar seus espaços, adensar e deixar de seguir com uma Campinas que vai criando outros eixos de desenvolvimento desintegrados da cidade. É momento da região de Campinas ser olhada como território único. Os prefeitos estão envolvidos no dia a dia com as demandas locais, com os problemas de suas cidades, com as cobranças dos seus eleitores. Mas, se os prefeitos passarem a atuar em conjunto, vão perceber que os problemas se tornarão menores porque estarão, juntos, buscando soluções. Na região, os problemas são comuns: transporte, educação, saúde, habitação. À medida em que os prefeitos se unirem, que a visão política for única no trato da região, as soluções para os problemas surgirão com mais facilidade
Seria preciso um plano estratégico regional?
O grande problema da Região Metropolitana de Campinas é o desenvolvimento urbano que ocorreu sem qualquer planejamento. As cidades foram crescendo e as carências em saneamento, em saúde, em emprego foram surgindo. É possível desenvolver com planejamento e acredito que é hora de isso ocorrer. Temos necessidade de investimentos em saúde, infraestrutura hospitalar e nesse campo ainda há muito a crescer. Temos espaço para crescer no turismo de lazer e não apenas no turismo de negócios. Se não cuidarmos das regiões metropolitanas, corremos o risco de ter desconfortos com a segurança, a educação, a saúde. O Estado de São Paulo tem cidades com alto grau de desenvolvimento e cidades que necessitam de investimentos e que tem potencial para alavancar o desenvolvimento sustentável.