EM SOUSAS

Organon transforma sua fábrica em indústria verde e sustentável

O mais recente projeto ambiental da multinacional é uma usina fotovoltaica que passou a ser responsável por 18% da eletricidade utilizada

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
17/11/2024 às 10:01.
Atualizado em 17/11/2024 às 10:01

Grama, galhos e folhagem de podas vão para compostagem para passarem pela degradação biológica feita por microrganismos, como fungos e bactérias, e dar origem a um adubo natural, o húmus: “Esse adubo é usado em vasos, na grama e em outros locais”, explicou o encarregado da jardinagem da Organon, João Francisco Claro, o Joca (Rodrigo Zanotto)

A Organon, multinacional farmacêutica focada na saúde feminina, acaba de transformar sua fábrica no Brasil, localizada em Campinas, em uma indústria verde e sustentável. Instalada dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas, no distrito de Sousas, a mais recente ação com esse objetivo foi a entrada em operação da usina fotovoltaica há quatro meses, com a energia solar responsável por 18% da eletricidade utilizada pela planta. A fábrica opera 24 horas por dia, 365 dias por ano. A empresa investiu US$ 1,6 milhão (R$ 9,11 milhões) na instalação de 3.120 placas de energia solar na primeira fase do projeto, iniciativa que resultou na redução de 290 toneladas de emissões de gás carbônico por ano. A empresa estuda a implementação de uma nova etapa para atingir uma autossuficiência entre 25% e 30%.

A usina faz parte do programa de meio ambiente, social e governança da empresa, com a meta de emissão zero de carbono, principal gás causador do efeito estufa e gerador do aumento da temperatura global e das mudanças climáticas. A meta dos países signatários do Acordo de Paris, entre eles o Brasil, é atingir essa marca em 2050, mas a indústria trabalha para chegar a esse objetivo “o quanto antes”, afirmou o gerente de Segurança e Meio Ambiente da Organon, Leonardo Fonseca Gonçalves. 

Como parte do processo de descarbonizar toda a sua produção, a indústria parou, em agosto de 2023, de ser uma geradora de resíduos enviados para aterros sanitários. Todas as 6 toneladas de detritos produzidos por ano são reaproveitados, reciclados ou destinados para serem usados como matéria prima de novos produtos em outras indústrias. “Dentro da nossa estratégia, entendemos que o aterro sanitário não é o melhor destino final, porque já é um sistema pressionado. Todo o resíduo domiciliar vai para eles e a indústria gera mais”, analisou Leonardo Gonçalves. 

A grama, galhos e folhagem de podas vão para compostagem para passarem pela degradação biológica feita por microrganismos, como fungos e bactérias, e dar origem a um adubo natural, o húmus. É um processo biológico realizado com colaboração humana, por meio do controle da temperatura e umidade. “Esse adubo é usado em vasos, na grama e em outros locais”, explicou o encarregado da jardinagem da Organon, João Francisco Claro, o Joca. 

PARTICIPAÇÃO DOS COLABORADORES 

A ação resíduo zero busca minimizar os impactos negativos do lixo no solo, na água, no ar e nos ecossistemas. Os 230 funcionários da farmacêutica são envolvidos e incentivados a ser protagonistas dessas ações nesse processo. Partiu de um funcionário da produção, por exemplo, a proposta adotada pela empresa de substituir o plástico usado para embalar os paletes (de plástico) com medicamentos por capas reutilizáveis. “Antes o plástico era usado apenas uma vez e era jogado fora. Agora a lona pode ser limpa, reutilizada e dura anos”, destacou o gerente de Meio Ambiente da Organon. Essa iniciativa foi implementada em março de 2022 e contribuiu para a redução de descarte de 1,8 tonelada de plástico de uso único por ano. 

De acordo com ele, os colaboradores são estimulados a sugerir ideias para mudanças nos procedimentos em busca de ações mais sustentáveis. “Às vezes, o volume de resíduo que deixa de ser produzido, como foi no caso do plástico dos paletes, é muito pequeno quando a gente quantifica, mas do ponto de vista de mudança de mentalidade é muito forte”, justificou Leonardo Gonçalves. 

Os funcionários também participaram no ano passado do plantio de 350 mudas de árvores para recuperação da mata ciliar do Rio Atibaia, que passa atrás da fábrica. Foi uma compensação para as nove árvores retiradas para a instalação da usina fotovoltaica. As mudas foram de árvores nativas da Mata Atlântica, entre elas aroeiras, flamboyants e castanheiras e árvores frutíferas para alimentação das aves e animais. 

A Área de Proteção Ambiental é o habitat de dezenas de animais que são vistos e circulam pela área da fábrica, como saguis, cobras, aranhas, além de cerca de 90 espécies de aves nativas da região, como o pica-pau-docampo, o periquitão-maracanã e tucanuçu — o maior tucano do mundo. 

A empresa desenvolve um acompanhamento de três anos para garantir que as aves não sejam afetadas pelas placas da usina fotovoltaica. “Temos um planejamento global para produção de energia renovável e para zerar as emissões de carbono, mas queríamos ir além. Então, decidimos preservar o habitat dos pássaros na região para que as placas fotovoltaicas não causassem estranhamento às aves e as expulsassem daqui”, detalhou o gerente de Meio Ambiente. 

OUTRAS AÇÕES 

A Organon tem projeto para ampliar a recuperação da mata ciliar e, no futuro, criar uma reserva ambiental particular de 17 mil metros quadrados (m²). Ela ocupará 11,65% da área de 146 mil m² da fábrica em Sousas, de acordo com estimativa do gerente de Segurança e Meio Ambiente. 

“O replantio de árvores ajuda a melhorar o microclima com a floresta em pé, e enriquecendo a vegetação com a recuperação da mata ciliar geramos uma combinação de ações que proporcionam um impacto positivo à biodiversidade da região”, ressaltou Leonardo Gonçalves. 

A empresa também faz a reutilização de todos os efluentes produzidos por ela, com parte sendo reutilizada nas torres de resfriamento do sistema de ar-condicionado. Em 2023 foram reutilizados 19,2 milhões de litros, o equivalente a quase oito piscinas olímpicas cheias. Os efluentes passam por dois processos diferentes para reutilização. Parte da água vai para uma estação de tratamento da própria empresa, enquanto o esgoto é tratado no jardim flutuante. Ele é filtrado naturalmente por plantas e vai para um lago para a conclusão da desinfecção pela ação do sol. Nesse lago, frangos d'água nadando e as flores amarelas das vitórias-régias são os sinais da vida sendo renovada. 

A indústria iniciou também a instalação de biocanaletas para coleta da água da chuva. Elas dispensam o uso de concreto, com a filtragem sendo feitas por camadas supostas de pedra e terra, com a parte superior sendo coberta por um jardim de plantas e flores. 

APOIO 

O gerente de Meio Ambiente da Organon disse que a empresa tem planos também para colaborar com a recuperação da APA em todo o distrito, com a ação de recuperação da mata natural indo além dos limite da empresa. As ações são discutidas com a Secretaria Municipal do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas), já que envolvem uma área de proteção ambiental. “Queremos ser exemplo para o mercado. Tudo isso é amplamente conversado e discutido com a Secretaria. Nosso sonho é garantir a perenidade dessa floresta”, completou. 

A indústria também colabora com organizações não governamentais (ONGs) e entidade de preservação ambiental de Sousas. Uma das ações é o apoio ao Reviva o Rio Atibaia, o movimento ambiental há mais tempo em execução no interior de São Paulo. Em 2024 o Reviva Atibaia completará completará 27 anos de atuação em defesa do rio e da APA de Campinas. As ações envolvem recolher o lixo do Atibaia e a educação ambiental da população para ressaltar a importância da preservação dos recursos naturais da região, com atividades realizadas em uma praça de Sousas. 

O Atibaia, principal afluente que compõe a bacia do Rio Piracicaba, é responsável pelo abastecimento de 60 cidades da região, com população aproximada de 4,5 milhões de pessoas. A participação da empresa é uma forma de se envolver ainda com o distrito onde está instalada há 66 anos. A fábrica foi inaugurada em 1958 com a presença do presidente Juscelino Kubitschek. Ela é uma das seis plantas da companhia no mundo, que emprega cerca de 9 mil funcionários. A Organon atua em 140 países e possui um portfólio de mais de 60 medicações em diversas áreas terapêuticas, como saúde reprodutiva, contracepção, doenças cardíacas e câncer de mama. A unidade de Campinas abastece o mercado nacional e exporta para outros países da América Latina, entre eles Panamá, Argentina, Chile e Colômbia.

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