Conforme levantamento, a maioria das podas de árvores do Cambuí foi em ‘V’, que deixa galhos afastados (Gustavo Tilio)
A Organização Não Governamental (ONG) Movimento Resgate Cambuí apresentou uma representação à Promotoria de Justiça Cível de Campinas que pede investigação sobre podas de árvores realizadas no bairro. O documento de 17 páginas é assinado por Teresa Cristina de Mouro Penteado, baseado em um estudo que identificou 299 podas no Cambuí, que teriam provocado desequilíbrio biomecânico às árvores. As podas, em sua maioria, diz o documento, foram feitas em formato de "V", "U", "L" ou rebaixamento. Ainda foram encontrados 10 tocos de árvores no bairro, sem que houvesse substituição das mudas. Apenas 15 árvores possuíam podas em furo, permitindo que os cabos de energia passassem pelo meio da copa, o que, segundo o estudo, é o recomendado.
No documento, a ONG Movimento Resgate Cambuí pede a apuração de podas de árvores nas proximidades da fiação; as extrações de árvores; e a modificação da estrutura de arborização viária que, segundo o documento, tem influenciado no fenômeno de ilhas de calor.
A representação também pede que "sejam adotadas todas as demais medidas administrativas e judiciais cabíveis para apuração e responsabilização pelas possíveis ilegalidades".
O estudo que baseia a representação da ONG foi realizado entre setembro e outubro de 2021 pelo doutor em Engenharia Florestal Flávio Mendes, de Piracicaba. Ele percorreu o Cambuí catalogando as espécies e os formatos das podas.
O Cambuí possui 2.676 árvores, identificadas em um inventário produzido pelo Movimento Resgate Cambuí. Dessas, de acordo com o pesquisador, 299 receberam alguma poda irregular naquele período. A maioria, 119, foi cortada em "V", forma que deixa os galhos das árvores afastados e compromete a copa. Na seqüência, foram identificados cortes em "U" (81 delas), "L" (68), rebaixamento (16) e em furo (15), considerado o único ideal para poda urbana.
"Todas essas podas causam desequilíbrio biomecânico à planta, aumentando sua vulnerabilidade à queda. Das 299 registradas, 120 possuem alto comprometimento, enquanto que 159, moderado e as outras 20, baixo", apontou Mendes na pesquisa.
As 12 espécies mais afetadas são Sibipiruna, Alecrim-de-Campinas, Pata-de-vaca, Tipuana, Mirindiba-rosa, Ipê-roxo, Chapéu-de-sol, Aroreira Salsa, Ipê-de-El salvador, Aldrago, Aroreira-pimenteira e Flamboyant.
"Os laudos têm mostrado podas drásticas. A fiação exige um cuidado específico e uma poda realizada com critérios técnicos, o que não vem acontecendo. Esperamos que sejam tomadas medidas necessárias e que as posturas da CPFL e da Prefeitura sejam alteradas", defendeu a ONG Movimento Resgate Cambuí. Embora o estudo tenha sido realizado em 2021, ele foi protocolado agora, porque a equipe estava "juntando mais documentos para tornar o processo mais robusto e completo".
A Promotoria de Justiça Cível de Campinas confirmou que recebeu a representação da ONG e que o caso será analisado. A Prefeitura de Campinas já foi notificada.
O outro lado
"A Prefeitura observa com muita rigidez a questão técnica", defendeu o secretário municipal de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Dimas Paulella. Segundo ele, todas as podas realizadas obedecem a critérios técnicos, em que são feitos cortes a partir dos galhos terciários, sempre acompanhados de laudos de engenheiros agrônomos e engenheiros florestais do Departamento de Parques e Jardins.
"É preciso levar em conta que a região do Cambuí possui uma arborização muito antiga, que vai de 80 a 100 anos e, portanto, foi feita em uma época que não havia critérios técnicos da escolha de espécies, então, plantavam qualquer coisa e, hoje, elas precisam conviver com a fiação aérea", acrescentou.
Em nota, a CPFL Paulista apontou que a responsabilidade por realizar podas de árvores é da Prefeitura e que a companhia somente realiza podas preventivas ou emergenciais nos casos em que a vegetação apresente potenciais riscos à integridade do sistema elétrico ou à segurança das pessoas. A Companhia também alegou que, em Campinas, a realização das podas é amparada por autorização emitida pelo Departamento de Parques e Jardins.
"Nos casos em que atua, a CPFL Paulista segue critérios técnicos para evitar agressões desnecessárias às árvores, de forma a compatibilizar as diretrizes das normas técnicas vigentes. Os engenheiros, técnicos e eletricistas da CPFL e de empresas terceirizadas recebem informações teóricas e práticas para executar a poda de maneira adequada. Os trabalhos são feitos com o monitoramento de especialistas em meio ambiente da empresa. A companhia ainda ressalta que não fez nenhuma supressão de árvores no bairro Cambuí, em Campinas. Nos casos em que os troncos foram deixados, após realização das podas, a CPFL atendeu a pedido do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), responsável pela supressão e pela respectiva reposição", disse, em trecho.