Dificuldades de locomoção são registradas em calçadas e ruas da cidade
Calçadas desniveladas e inclinações das ruas são dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiências para locomoção na região central, assim como em vários bairros da cidade (Alessandro Torres)
Pessoas com deficiência enfrentam grandes desafios para locomoção nas calçadas e ruas de Campinas. A reportagem do Correio Popular percorreu algumas ruas do Centro e bairros como Jardim Proença e Bosque comprovando a falta de acessibilidade nestes locais.
O jovem Matheus Dias de 23 anos é deficiente visual e aluno do Instituto Pró-visão no bairro Proença. Todas as semanas, realiza o trajeto de ida e volta de sua casa para a instituição e afirma ter inúmeras dificuldades de transitar em calçadas e ruas do Centro e bairros de Campinas. Uma das principais queixas é a falta de piso tátil direcional em ruas da cidade. “Poucas são as ruas que possuem o piso específico para os deficientes visuais. Se mais locais tivessem o piso, nos ajudaria e facilitaria nossa locomoção. É necessário ter um olhar mais sensível do poder público sobre essa questão.”
Outra dificuldade mencionada por Matheus está nas condições das calçadas. Próximo ao Instituto Pró-Visão, a circulação de pessoas é praticamente impossível de ser realizado. Na Avenida Antônio Carlos Salles Junior, calçadas com matagais, madeiras e pedras impedem a passagem de pedestres. Na Rua do Professor com a Avenida Barra Bonita, também no Proença, a situação é pior. As pessoas são obrigadas a transitar pelas ruas e não nas calçadas.
Para a técnica de mobilidade da Pró-Visão, Carolina Fernanda Oliveira, o relato dos pais e alunos são constantes e começam nos pontos de ônibus. “Os pontos não possuem identificação das linhas em braile. No piso tátil, normalmente se formam filas para acesso aos ônibus e isso acaba atrapalhando os deficientes visuais. Raízes de árvores, desnivelamento das calçadas, inclinações de ruas, são fatos reclamados por familiares ao Instituto corriqueiramente”, completa Fernanda.
As dificuldades e relatos dos deficientes visuais são os mesmos enfrentados por pessoas com deficiências físicas. Caetana Proença Roscito de 21 anos é moradora da Vila Brandina, tem deficiência física e necessita da utilização de cadeira de rodas. A dificuldade de locomoção é tão grande que precisa do auxílio dos pais. "Toda a minha locomoção, se for há uma distância longa, eu peço aos meus pais que me levem de carro. Mesmo em locais onde já não se espera ter problemas como restaurantes, praças e hotéis, ainda se observa a necessidade de melhorar a acessibilidade”, diz Caetana.
Recentemente, ela em companhia de sua mãe Ana Proença, tiveram problemas de locomoção por cadeira de rodas em um restaurante da cidade. No Centro de Campinas, a realidade não “foge a dor de cabeça” para pessoas com deficiências. Ruas como Barão de Jaguara, General Osório e Bernardino de Campos, os relatos são os mesmos observados nos bairros. Apesar da maioria das ruas centrais possuírem rampas de acesso aos deficientes físicos e piso tátil direcionado para os visuais, as reclamações são com relação às inclinações das rampas e a falta de semáforos sonoros.
José Roberto Pedro e Carlos de Almeida trabalham na região, são pessoas com deficiências e as inclinações das rampas são empecilhos diários. “As rampas são altas e não consigo subir. Todas as vezes, preciso da ajuda de outras pessoas para chegar à calçada”, lamenta o vendedor José Roberto. Para Carlos de Almeida, de 72 anos, vendedor de pães, a altura e desnivelamento das calçadas são as principais dificuldades. “Na descida o cuidado tem de ser redobrado para não tombar a cadeira de rodas. Agora, quando nos deparamos com desnivelamento da própria calçada, só rezando mesmo.”
Na Rua Hilário Magro Junior, no Bosque, uma lixeira pública encostada à calçada, mas com a tampa aberta, mostra uma realidade de desafios e obstáculos urbanos que impedem pessoas com deficiência, idosos ou pessoa com dificuldade motora, caminhem tranquilamente pelas calçadas com segurança. É necessário repensar a acessibilidade como uma poderosa arma de inclusão social para mudar os caminhos humanamente possíveis e de investimento público da metrópole.
Por meio de nota, a Prefeitura de Campinas informou que as obras de calçadas executadas pela Administração, como pavimentação de bairros, construção de praças, parques e outros equipamentos públicos, são projetadas com acessibilidade. A responsabilidade pela manutenção das calçadas, incluindo manter o pavimento em condições de circulação e executar reparos quando necessário, é do proprietário seja residencial ou comercial. No caso de áreas públicas, como praças, parques, equipamentos municipais, entre outros, é da Prefeitura.
Caso o cidadão identifique a necessidade de reparo em calçadas, deve ligar no telefone 156, da Prefeitura, e passar o endereço do local. Uma vistoria é feita e, se a calçada for pública, as obras de reparo serão feitas o mais rapidamente possível. Se a calçada for área particular, a Coordenadoria de Fiscalização de Vielas e Terrenos (Cofit), da Secretaria de Serviços Públicos, notifica o proprietário para tomar as providências necessárias. Se não fizer, é multado. No caso de manter o pavimento da calçada, a multa é de 100 UFICs (R$ 448,03) e de reparos, 50 UFICS (R$ 224,01).
Com relação às rampas de acessibilidade, para implantálas, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) realiza estudos técnicos de viabilidade e elabora projetos para implantação a partir de demandas recebidas das secretarias e de moradores de Campinas. A implantação de rampas de acessibilidade também envolve empreendedores e empresas privadas, como contrapartida. Somente em 2022, foram 303 rampas de acessibilidade executadas, em especial no entorno de instituições de ensino. Entre os meses de janeiro e março de 2023, outras 174 rampas foram implantadas. A população pode solicitar sinalização viária diretamente para a Emdec pelo telefone 118, no site (portal.emdec.com.br/faleconosco) ou pelo aplicativo "Emdec".
Pró-Visão
O Instituto Pró-Visão em Campinas foi fundado em 1982, pelas professoras Teresinha de Arruda Serra Von Zuben e Vilma Martin Machado, especializadas na educação de pessoas com deficiência visual. É uma instituição sem fins lucrativos que visa promover a prevenção da cegueira, o bem-estar, a educação, a habilitação e a reabilitação de bebês, crianças, adolescentes e adultos cegos ou com baixa visão.
Priorizando o atendimento a bebês que chegam através da indicação de oftalmologistas, pediatras e outros médicos, a entidade oferece, atualmente, mais de 2600 atendimentos por mês, acompanhando sistematicamente mais de 60 crianças de Campinas e região.
O Instituto Pró-Visão está localizado na Avenida Antonio Carlos Salles Júnior, 580, no Jardim Proença. O telefone para contato é 3254-4648.