SINAL VERDE

Obras no Mercadão começam em 45 dias, afirma Prefeitura de Campinas

Permissionários serão acomodados em tenda que será instalada no estacionamento Alessandro Torres

Luis Eduardo de Sousa/ Luis.reis@rac.com.br
04/04/2023 às 08:48.
Atualizado em 04/04/2023 às 08:48
Permissionários vão ficar no estacionamento próximo ao terminal de ônibus em uma estrutura de tendas, como se fosse um grande barracão de lonas, inclusive com tratamento térmico (Kamá Ribeiro)

Permissionários vão ficar no estacionamento próximo ao terminal de ônibus em uma estrutura de tendas, como se fosse um grande barracão de lonas, inclusive com tratamento térmico (Kamá Ribeiro)

O sinal verde para o início das obras de revitalização do Mercado Municipal de Campinas, o Mercadão, está cada vez mais próximo. A Administração informou com exclusividade ao Correio Popular que a licitação deve estar finalizada até o fim desta semana, com a homologação da empresa RJC Sinalização Urbana, mais bem classificada no certame. Depois disso, o Departamento Jurídico da Prefeitura aciona a empresa para assinatura do contrato, processo que pode durar até 10 dias úteis. O departamento de licitações estima que o início das obras ocorra em até 45 dias. Permissionários que atuam no local estão preocupados com o impacto das obras nos negócios.

As manutenções incluem a substituição da fiação elétrica, nova canalização de esgoto, revitalização da fachada e construção de um mezanino sobre os boxes da parte central, alterações que poderiam custar até R$ 6,5 milhões aos cofres públicos, valor máximo fixado pelo edital. A primeira colocada ofereceu o valor de R$ 6,1 milhões. O departamento de licitações aguarda apenas o retorno da descrição da verba, administrada pela Secretaria de Cultura e captada junto ao Ministério do Turismo. “O recurso foi captado com base na relevância turística, histórica e cultural do Mercadão, uma das sete maravilhas de Campinas”, diz a assessoria de imprensa da Pasta. O retorno do documento culmina na homologação e fim do processo seletivo.

A secretária de administração Maria Emília Ribeiro Faccione, responsável pelo departamento de licitações, fala sobre o processo que permite estimar o início das obras. “A descrição dos recursos – que virá da Cultura – deve chegar ao departamento de licitações ainda nesta semana. Em posse dele, a gente homologa. Depois disso, vai para o departamento jurídico, que vai acionar a empresa para assinatura do contrato. São cinco dias úteis para a realização da assinatura, que podem ser prorrogados por igual período caso a empresa precise (e peça), conforme descrito no edital”, explica Maria Emília.

Ao Jurídico do município, a empresa terá que ceder uma garantia de que está apta a executar a obra e uma caução de 5% do valor total do contrato, como forma de assegurar a Administração da conclusão. O valor é devolvido ao fim do contrato.

Com a conclusão da licitação até o fim da semana, mais o tempo de dez dias úteis para assinatura do contrato, as obras poderiam começar em até 30 dias, mas uma folga de 15 dias confere mais segurança à estimativa de início. “Terminou no Jurídico a empresa já pode começar o canteiro de obras”, diz Maria Emília.

A chegada do dia em que os homens e máquinas operarão no espaço, no entanto, causa aflição aos permissionários, que temem a piora ou até a extinção dos negócios durante o período de obras. Eles dizem ainda que a comunicação entre a Serviços Técnicos Gerais (Setec), que administra as permissões, Prefeitura e permissionários é “ruidosa”.

“Eu até soube que teve uma reunião na Prefeitura, mas as informações foram pouco compartilhadas. A gente não sabe o dia exato que vai ter que sair daqui. Aí fica um dilema: compra mercadoria e pode perder, porque é perecível. Se não comprar, fica sem ter para vender”, comenta Eizo Ishiko, de 59 anos, que vende grãos no Mercadão há 22 anos.

Entre os permissionários, há esperança da construção de uma tenda no estacionamento próximo ao terminal de ônibus. “Mas como expor os produtos?”, questiona Marcelo Marostengan, de 51 anos, que tem uma loja de destilados há 10 anos. “Se a estrutura (montada)não oferecer condições a todos os permissionários, a maioria vai ser prejudicada. Tem gente aqui que tem aquário. Como montar um aquário em uma tenda?” emenda.

Outra preocupação para os comerciantes é a reserva de caixa para enfrentar o período de obras. Adriana Tavares, de 47 anos, administra uma peixaria herdada da família. O empreendimento foi fundado em 1967 e mantém uma tradição que, segundo ela, “atrai clientes”. Mesmo durante o melhor mês para comércio de pescados, em razão da Páscoa, as mudanças que estão por vir assustam. “São 22 funcionários registrados em carteira, aluguel e fornecedor. Mesmo indo para outro lugar, ainda que seja aqui, não dá para saber se as vendas vão se manter. A reforma é boa, precisa. O lugar tem que ser mais atraente para os clientes, mas a instabilidade durante a obra preocupa”.

Procurada, a Setec informou que a falta de comunicação com a Administração, apontada como falha pelos permissionários, não procede. “Já foram realizadas três reuniões. Nestes encontros foram esclarecidas todas as dúvidas sobre o funcionamento das atividades no local durante a reforma e revitalização” informa nota enviada pela assessoria de imprensa.

Sobre a “tenda”, a autarquia disse que vai comportar todos os comerciantes com conforto. “Os permissionários vão ficar no estacionamento em uma estrutura de tendas, como se fosse um grande barracão de lonas, inclusive com tratamento térmico”.

Uma licitação foi aberta pela Setec no dia 15 de março para alugar a estrutura que será montada na parte externa. O edital para esta licitação se encerrou no dia 27 do mês passado.

À reportagem, a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), que atua em conjunto com a Setec no assunto, disse que a estimativa para conclusão das obras é de 15 meses. A licitação para montagem da ‘tenda’, no entanto, estabelece 12 meses de manutenção da estrutura.

No dia 12 de abril o Mercadão completa 115 anos. O espaço foi projetado pelo arquiteto campineiro Ramos de Azevedo e inaugurado em 1908 pelo prefeito Orosimbo Maia. O edifício segue estilo neomouristico, construído inicialmente para servir como armazém de estocagem dos produtos transportados pela ferrovia Funilense, funcionava no início do século 20 como entreposto de açúcar da Estrada de Ferro Funilense que ia até o Porto de Santos.

Na lateral do Mercado Municipal de Campinas, onde estão instaladas atualmente as peixarias, funcionava a plataforma de embarque da Estação Carlos Botelho, onde o trem parava para embarcar as sacas. No local também circulavam charretes e bondes. Foi um dos primeiros pontos do comércio de Campinas e também por um longo período, local de encontro da elite artística e intelectual da cidade.

O aposentado José Teixeira, de 71 anos, frequenta o espaço desde a juventude (há mais de 50 anos). O morador da região do São Marcos gosta de ir ao local, pois encontra variedade nas iguarias que procura. Ele espera que a reforma proporcione ao local as necessidades que precisam ser atendidas, mas teme ficar sem os produtos durante a reforma. “Eu espero que seja um lugar novo sem perder a característica. O tempo de reforma vai ser duro para os comerciantes, e para nós clientes também. Comprar lá fora não é a mesma coisa”, lamenta.

Por mês, o Mercadão recebe a visita de 120 mil pessoas. São 104 permissionários que cuidam de 143 boxes internos e externos. Mensalmente, são comercializadas mais de 10 mil caixas de produtos.

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