Baracat conta que parte do terreno onde será construído o novo estádio, próximo à Rodovia dos Bandeirantes, será reservada como Área de Preservação Permanente (Gustavo Tilio)
A Prefeitura de Campinas vai reunir, até o final de maio e início de junho, propostas de diversas Secretarias Municipais para a elaboração de novos projetos de revitalização do Centro da cidade. A informação foi confirmada pela secretária de Planejamento e Urbanismo, Carolina Baracat do Nascimento Lazinho, durante visita ao presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni.
Segundo explicou a responsável pela pasta, que está no cargo há cerca de seis meses, Secretarias como Saúde, Serviços Públicos e Assistência Social, além de Emdec e outras áreas da Administração ficaram incumbidas de desenvolver projetos que serão implantados na requalificação da região central. Em agosto, está previsto o início das obras da Avenida Campos Sales, que vão durar cerca de um ano.
Com formação em Arquitetura pela Faculdade Metodista de Piracicaba, mestre em Gestão Ambiental pela mesma faculdade, Carolina trabalhou como arquiteta e coordenou os trabalhos de regularização fundiária na Cohab Campinas entre os anos de 2003 e 2008. Ela assumiu o cargo interinamente no lugar de Renato Mesquita, que pediu exoneração em novembro do ano passado. Também trabalhou na Prefeitura de Sumaré como diretora da Secretaria de Habitação e, posteriormente, assumiu o cargo de secretária por um período de nove meses.
Como foi sua escolha para se tornar arquiteta?
Eu consegui uma bolsa da Prefeitura de Americana porque sou de lá. Minha família não tinha condição alguma de pagar a faculdade, que é muito cara e ainda era integral. Na época, a Prefeitura subsidiava uma parte da bolsa de estudos e, como contrapartida, você tinha que prestar serviços para a administração pública. Então, desde os 18 anos, eu já trabalhava na Prefeitura. Naquela época, eu já entrei na política habitacional. Eu fiz trabalhos em algumas favelas de Americana e fiquei três anos realizando estágio na habitação. Lá, comecei a mexer com ocupação, mutirão e fiscalização de obras. Quando terminei a faculdade, emendei o mestrado e consegui outra bolsa de estudo. Fiz mestrado em gestão ambiental focado em geoprocessamento. Cheguei a trabalhar como paisagista, porque era bem difícil arrumar emprego nessa área.
Em 2004, a Cohab aqui de Campinas estava contratando arquitetos para ingressar na área de regularização fundiária. Na época, o diretor era de Americana. Mandei o currículo, passei pelo processo e comecei a trabalhar na Prefeitura de Campinas. Lembro que não tinha carro e ainda precisava pegar quatro ônibus de Americana e Campinas todos os dias.
Na época, o secretário daqui, Fernando Pupo, tinha sido secretário em Americana. Ele lembrou de mim porque trabalhamos juntos. Em resumo, fiquei seis anos na Cohab e, lá, conheci administrações de outras cidades, porque havia uma parceria com municípios da região. Então, o pessoal de Sumaré estava montando a Secretaria de Habitação e me convidou para participar desse processo.
Para mim, foi ótimo, porque eu queria ser mãe e morar mais perto de casa em Americana seria bem melhor. Passei por duas gestões lá, com José Antonio Bacchin, que trouxe muitos projetos e recursos de Minha Casa Minha Vida, porque ele também era do PT e ainda era gestão do Lula. Depois da eleição, a Cristina Carrara venceu e me convidou para continuar no governo, que era do PSDB. Como sempre fui uma pessoa extremamente técnica no trabalho, esse não foi um problema para a mudança de gestão.
E quando a senhora iniciou o retorno para Campinas?
Fiquei um ano com Cristina Carrara e, no segundo ano de mandato de Jonas Donizette aqui em Campinas, o Pupo retornou para o Planejamento Urbano, lembrou-se de mim e me convidou para fazer parte da diretoria em Campinas. Eu tinha um filho de dois anos, relutei, porque não queria voltar pata a estrada, viajar todo dia. Mas conversei com minha mãe, ela me incentivou e me mostrou a importância de assumir essa área em uma cidade tão grande e metropolitana como Campinas.
Fiz uma transição de Sumaré para Campinas, treinei uma pessoa para ficar no meu lugar e vim. Quando o Jonas acabou o primeiro mandato, o Pupo saiu. Recebi, então, uma ligação pedindo para eu assumir a Secretaria de Planejamento. Tinha acabado de ter minha segunda filha, não tinha condições de vir trabalhar em Campinas. Tinha uma licença maternidade inteira pela frente e me comprometi a trabalhar de casa e ajudar o secretário que assumiu na época.
Então, às segundas, quartas e sextas, os motoristas da Prefeitura levavam os processos, eu revisava e devolvia. Isso aconteceu durante dois meses até o Jonas unificar Urbanismo e Planejamento. Ainda tocamos o Plano Diretor, que estava atrasado, mas conseguimos aprovar. Depois, quando o Jonas terminou o segundo mandato, eu tinha feito parte da equipe que realizou o plano de governo do Dr. Dário. Eu ia para a Emdec, mas o Renato Mesquita, que foi nomeado, pediu para eu ficar. Depois, quando ele pediu exoneração, fui nomeada de forma interina e acabei permanecendo até hoje.
Como você vê o trabalho realizado hoje pela Secretaria de Planejamento e Urbanismo?
Hoje, a equipe do Planejamento está serena e tranquila, porque essa sempre foi minha forma de trabalhar. As coisas não chegam mais tortas ou de uma forma estranha. O pessoal do Urbanismo sempre foi visto como quem trava projetos ou que nada aprova e tudo é difícil. Criamos uma dinâmica para quebrar esse paradigma da sociedade. Às vezes, muitos projetos demoram mais por erros simples que vêm de fora.
Decidimos fazer uma cartilha, uma espécie de manual, com padrões de como os projetos devem ser para serem aprovados. Também demos um curso de capacitação que contou com a presença de mais de 300 arquitetos. A nossa equipe saiu do escritório e foi ajudar. Quem dera, quando saí da faculdade, eu pudesse ter um curso assim. Levei mais de dez anos para aprender todos esses detalhes após sair da faculdade.
Tentamos fazer o público entender que se o projeto for entregue com o menor número de correções possíveis, mais rápido será aprovado, devolvido e encaminhado. A Prefeitura deixa ter essa fama de ser o entrave, de uma forma bem mais simples do que o problema realmente é. Esta é a política que construímos, juntamente com os técnicos, na Secretaria.
Também tenho que ressaltar a criação do Grupo de Análise Multidisciplinar de Loteamentos. O GAL é multidisciplinar com Secretarias como Infraestrutura e Verde, Emdec e Sanasa na tramitação dos processos. Em 2014, o tempo médio para análise prévia de loteamentos era de cerca de 58 meses. Hoje, o tempo médio está em cerca de sete meses. O número de emissão de alvarás de execução para loteamentos também tem aumentado com a otimização do trabalho multidisciplinar.
Há também um pensamento sobre mudar a lei de poluição sonora. Poderia falar sobre isso?
É outra lei que estamos trabalhando com a sociedade. É até bacana falar dessa audiência sobre poluição sonora, porque tenho participado bastante de reuniões do Conselho de Segurança e há reclamações do aumento de som em relação aos bares e restaurantes. Pequenos bares, com voz e violão, estão tendo que realizar o mesmo tratamento acústico que as boates. Isso tem causado um esvaziamento, por contra desse enquadramento. O pequeno bar, com voz e violão, tem que fazer tanta coisa para conseguir se tornar legal, que o proprietário prefere desistir. Isso também gera um problema de desemprego de músicos.
Com isso, não vamos mexer no entretenimento, que a é a lei federal. Vamos regrar o que é de baixo impacto e o que é de alto impacto. Quando for um evento específico, vamos dar um alvará específico. Outra coisa é sobre o horário, que hoje vai até 22h, mas sabemos que tem bares com alvará antigo que chegam até 5h. O pessoal da blitz noturna fica enxugando gelo, porque chega em um determinado local e cada bar tem sua liberação, sem seguir um padrão.
A partir de novembro, quando assumi, nós não mudamos mais nenhum pedido de alvará. Há 55 pedidos nesse sentido, mas vamos levar o assunto para audiência pública. Se a sociedade entender que isso pode ser feito, então será. Também temos que definir como serão as regras, mesas na calçada, a música, enfim, temos que dar a oportunidade ao empresário, mas também é preciso pensar em quem mora perto e passa pela área todo dia. A ideia da audiência é essa. Vai estender? Em qual horário? Onde? De que forma? A estratégia foi trazer os bares para dar o posicionamento, trazer a população e, ssim, tirar os encaminhamentos.
Como a senhora enxerga o urbanismo hoje em Campinas?
Hoje, entendo que podemos ter orgulho de trabalhar com os técnicos de uma forma transparente, lícita, de buscar situações, dentro da lei, que deem amparo, que tirem a burocracia dos projetos. Temos visto que esta é a responsabilidade dos servidores, porque isso gera receita, gera emprego. Novas aprovações, para um mercado ou outro empreendimento, ajudam a cidade a crescer.
Estamos com várias frentes de trabalho. Estamos criando um novo estudo de impacto de vizinhança, que vai ajudar a destravar e legalizar escolas e igrejas, por exemplo. Esses locais, que movimentam menos de 500 pessoas, não vão precisar mais desse estudo e vão conseguir a regularização. Isso é muita gente.
Em relação ao estádio do Guarani, qual o atual momento do projeto?
Este está na reta final. O contrato da empresa é construir outro estádio antes de demolir o atual. Então, não estou muito preocupada com o alvará de demolição, porque primeiro ele tem que cumprir essa cláusula que foi feita entre eles. E não há como não cumprir, porque eu não vou liberar o alvará de execução de obras na Princesa d'Oeste sem que o outro estádio seja construído.
O planejamento prevê a construção de um estádio com centro de treinamento, clube social e estacionamento anexos, tudo próximo à Rodovia dos Bandeirantes, em uma área que já pertence ao Guarani. Apesar da área pertencente ao clube ser maior do que a utilizada para o projeto, parte dela precisou ser reservada como Área de Preservação Permanente.
Já onde fica o atual estádio, terá um shopping e um local residencial. Vai ser feito um viário também que vai ajudar na circulação de veículos e dar essa melhorada no fluxo do tráfego de carros. Está tudo na reta final de aprovação e cada Secretaria está vendo se falta algo. Depois, faremos um termo de ajustamento de conduta e será liberado.
E por fim, qual a perspectiva da revitalização do Centro?
O que acontece... Ainda não estou com equipe para encaminhar todos os pedidos sobre a revitalização do Centro. Então, pedi para todas as Secretarias envolvidas me entregarem, até o final deste mês ou início de junho, todas as melhorias que cada pasta pode fazer no Centro. A gente já definiu um polígono, que será a área de atuação dessa intervenção. Agora, cada Secretaria está vendo o que pode fazer.
A Secretaria de Serviços Públicos, por exemplo, vai poder apontar a praça que ela pode revitalizar, eu consigo fazer essa iluminação. A Assistência social pode fazer um trabalho com moradores de situação de rua. A Emdec pode falar sobre Zona Azul. Com essa organização, teremos ações que a sociedade vai notar, em vez de cada um fazer algo em um ponto distante, sem que pareça ser uma obra conjunta em prol de um bem final.
Estamos pensando até em incentivos tributários para esse polígono que já foi definido. Queremos levar gente para o Centro e dependemos de políticas públicas setoriais. Queremos incentivar que prédios já existentes sejam reformados. Por enquanto, estamos junto com a Secretaria de Finanças montando essa lei e ela deve sair até o final do ano. Vamos chamá-la de Lei do Retrofit. Pegamos referências como Rio de Janeiro e São Paulo. Estamos vendo que muitos prédios têm apartamentos de dois andares, então vamos permitir dividir, colocar apartamento, alugar o terreno para área comercial. Se a estrutura permitir, o prédio pode ser ampliado, com mais apartamentos, desde que não ultrapasse as legislações vigentes. Outra possibilidade também é permitir a sublocação. Você tem uma pessoa que vai assumir a locação e realocar. Uma espécie de mini-hotel. A habitação social, por exemplo, seria beneficiada com isso.
Claro que haverá regras. Há um grupo, chamado Haja, que tem um imóvel próprio no Centro que faz habitação social. Eles estão ajudando a gente a pensar e montar o nosso caso. Lógico que ainda temos que passar pelo Jurídico para não ter problemas. Mas sabemos que a pessoa vai reformar e sublocar. Isso vai trazer pessoas para o Centro. Há vários fatores que foram esvaziando o Centro. A faculdade da PUC foi embora, depois o Fórum, depois o Poupatempo. Enfim, precisamos de ideias para trazer as pessoas de volta.
Para finalizar, quando está longe de todas essas frentes, o que faz para relaxar?
Eu gosto de viajar com minha família e meus filhos. Somente. Qualquer final de semana que eu tenho livre, faço isso. Vou para qualquer lugar, seja mato, montanha ou praia. Se a gente fica em casa, a gente acaba trabalhando, não tem jeito. Eu sou acelerada e sei disso. Por isso, me desestresso com a família. Teve um domingo, que à noite, eu estava assinando processo online. Passei horas fazendo isso e ainda ia avisando minha equipe. Eles davam risadas e respondiam: Carol, para, pois é domingo à noite. Então, viajo para desligar.