SUSTENTABILIDADE

Nova Odessa desenvolve projeto para recuperar nascente de água

Área no bairro Terra Nova é a primeira que será resgatada pela ação; Secretaria de Meio Ambiente também busca desenvolver a agricultura sustentável

Bruno Luporini/bruno.luporini@rac.com.br
28/09/2024 às 10:57.
Atualizado em 28/09/2024 às 10:57
Idealizador e coordenador das iniciativas voltadas à recuperação e preservação de recursos naturais, o secretário de Meio Ambiente de Nova Odessa, Matheus Grolla Martins, revelou que a ação que acontece em uma área no bairro Terra Nova servirá de modelo para que o mesmo seja aplicado em outras regiões da cidade (Alessandro Torres)

Idealizador e coordenador das iniciativas voltadas à recuperação e preservação de recursos naturais, o secretário de Meio Ambiente de Nova Odessa, Matheus Grolla Martins, revelou que a ação que acontece em uma área no bairro Terra Nova servirá de modelo para que o mesmo seja aplicado em outras regiões da cidade (Alessandro Torres)

Em busca de contribuir com a conscientização ambiental e a mitigação das alterações climáticas, a Prefeitura de Nova Odessa desenvolve projetos que buscam restaurar áreas verdes e de preservação permanente, além de resgatar terrenos degradados, desenvolver agricultura sustentável e reaproveitar insumos, como o lodo proveniente de tratamento de esgoto que é utilizado como adubo ecológico em uma das iniciativas.

A Secretaria de Meio Ambiente escolheu uma área no bairro Terra Nova para ser a primeira recuperada na cidade em um projeto promissor. O principal objetivo é recuperar uma nascente que abastecia o Córrego Lopes, importante fonte de abastecimento de Nova Odessa. O terreno é dividido entre uma área verde, que deverá se tornar um espaço de lazer para a população, e uma área de preservação permanente (APP), onde o intuito é a recuperação da mata nativa, o que ajudará no processo de retenção da água. Isso também poderá contribuir para a restauração de uma mina d'água. 

A degradação do terreno aliada à intensa ocupação urbana, uma vez que a área está entre uma zona industrial e residencial, causa a compactação do solo, que, por sua vez, não retém a água das chuvas, deixando de abastecer o lençol freático subterrâneo. “Aqui é um local estratégico, que deverá servir de modelo para a recuperação de outras regiões da cidade”, contou o secretário de Meio Ambiente, Matheus Grolla Martins. 

O método utilizado é a recuperação agroflorestal, que consiste no plantio de mudas de árvores frutíferas mais resistentes ao calor e ao solo pouco nutrido. Elas vão crescer e desenvolver copas volumosas, gerando sombra e retendo mais umidade no solo. Simultaneamente a essa ação, em meio às árvores, são plantadas espécies de quiabo, mandioca e abóbora, e as verduras produzidas pela Horta Escola, outra iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente. “Esse processo evita que o mato volte. Criando um ambiente de produção de alimentos com a nutrição do solo, em breve essa área será uma floresta novamente”, explicou Martins. 

A reconstrução do ecossistema pretende atrair novamente agentes polinizadores, como as abelhas e as várias espécies de pássaros comuns à região, por exemplo os carcarás, corujas, sabiás, bem-tevis. O secretário ressaltou que o trabalho voluntário é essencial para a manutenção do ambiente, pois dessa forma a comunidade será beneficiada com os alimentos produzidos, o retorno de uma nascente e uma área de lazer. “É mais inteligente manter os agricultores plantando no local, pois assim se cria um senso de comunidade, de cuidado.” 

Para reduzir ao máximo os fertilizantes industrializados, é utilizado, nesse projeto, o composto composto produzido pela Usina de Compostagem de Lodo, instalada na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Quilombo. Após o processo de compostagem, que aquece o material a mais de 70ºC, eliminando os patógenos, o composto, que também contém podas de árvores, é analisado e precisa apresentar altos níveis de nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes para que seja utilizado. Matheus ressaltou que “esse processo é muito importante, visto que um passivo ambiental se transformou em uma solução sustentável para a nossa cidade”. 

A região piloto do bairro Terra Nova também sofreu com as queimadas que assolam o país. “Muitas pessoas ainda acham que limpar o mato com fogo é eficiente, porém piora a degradação do terreno e elimina espécies de árvores cruciais para o reflorestamento”. Ainda segundo Martins, a implantação de agroflorestas aliadas às ações de conscientização da população, promovidas pelo poder público, podem resultar em impactos positivos tanto para a diminuição no número de queimadas quanto para a reconstrução dos espaços verdes. “É criar uma consciência de que essa área será uma floresta, que essas ações são de longo prazo. Aqui no bairro Terra Nova a expectativa é de que consigamos recuperar o local em cerca de cinco anos”. 

A revitalização da área servirá de modelo para futuras ações similares, como a restauração de matas ciliares das nascentes, jardins urbanos e plantio de árvores em parques, praças e calçamento público. 

HORTA ESCOLA 

Outro importante projeto da Secretaria de Meio Ambiente é a Horta Escola. O secretário Matheus Grolla Martins revelou que as ideias para as iniciativas já existiam antes mesmo de ele assumir o cargo, ainda quando era estudante da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à Universidade de São Paulo (USP). “Na Esalq me aprofundei no conhecimento sobre agricultura ecológica e reflorestamento, porém, como sou daqui de Nova Odessa, sempre imaginei implementar esses projetos na cidade. Assumir a cadeira de secretário foi o que faltava para a ideia se tornar realidade.” 

O local escolhido para a execução da Horta Escola, iniciado no último mês de maio, foi o gramado em frente ao prédio da Secretaria. Uma área de 900 metros quadrados que produz cerca de dez caixas de legumes e verduras por semana, ou seja, são mais de cem quilos de alimentos produzidos em uma área que antes era "apenas um gramado". "Quando eu vi essa área, bem em frente ao prédio, pensei em aproveitar esse espaço e torná-lo produtivo”, disse Martins. 

O projeto tem como principais objetivos a recuperação do solo degradado, com a utilização de compostos orgânicos e o consórcio de plantio, técnica que consiste no cultivo de duas ou mais espécies de plantas em uma mesma área. O Horta Escola, como o próprio nome sugere, incentiva a visita de escolas da rede pública para que as crianças tenham contato com a produção alimentar. “Elas conhecem o que é uma beterraba, tomate, brócolis, repolho, rúcula, alface desde o processo de colher o alimento até consumi-lo. Há um processo de aprendizagem do consumo sustentável desde a infância”, comentou o secretário. 

Esse projeto também aproveita outro composto, oriundo da poda das árvores e plantas da cidade. Elas são trituradas e depois utilizadas para manter a umidade e a nutrição do solo, além de auxiliar na economia de água para irrigar a Horta Escola. 

Ademar Santos, 59, que é funcionário da Prefeitura há cinco anos, contou que começou a cuidar da horta ao ser transferido para a Secretaria, depois de uma vida inteira de trabalho em escritório. “Foi uma descoberta aprender a como adubar, a montagem dos canteiros, a preparação do plantio até a colheita, além de cuidar da parte mental.” 

Ele revelou que passou por um processo de depressão após a perda do pai. "Trabalhar aqui me ajudou no processo de cura do luto”, contou. O secretário Martins reforçou que existe o fator terapêutico no processo da agricultura, pois é um resgate da cultura de roça, quando o alimento é produzido de forma sustentável. “É um trabalho benéfico para as pessoas que estão ociosas”, completou.

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