PASSADO, PRESENTE E FUTURO

No Dia das Mães, avó, filha e neta falam sobre a vivência da maternidade

Três gerações da família Paschoal, moradores do distrito de Sousas, avaliam as mudanças de vida, de costumes e valores

Cibele Vieira
12/05/2024 às 12:25.
Atualizado em 12/05/2024 às 12:25
Dona Araci, matricarca da família Gressone Paschoal, do distrito de Sousas, ao centro, rodeada por filhos, netos e bisnetos em sua propriedade, local de incontáveis reuniões festivas da família, especialmente neste Dia das Mães (Arquivo Pessoal)

Dona Araci, matricarca da família Gressone Paschoal, do distrito de Sousas, ao centro, rodeada por filhos, netos e bisnetos em sua propriedade, local de incontáveis reuniões festivas da família, especialmente neste Dia das Mães (Arquivo Pessoal)

Araci, Ângela e Camila. As idades estão na faixa dos 80, 50 e 30 anos, respectivamente. A maternidade é o ponto em comum entre elas. Não apenas porque todas foram mães, mas porque são avó, filha e neta. Mães em diferentes gerações e da mesma família, elas avaliam as mudanças de vida, de costumes, de valores e falam sobre essa relação inter-geracional. Enquanto cada uma conta as características de sua época, as três concordam que a conversa, o acolhimento e o amor formam o melhor legado a ser deixado para os filhos. Os domingos são dias muito agitados na casa de dona Araci Gressone Paschoal, que em março completou 80 anos.

Bem-humorada e muito bem disposta, ela faz questão de receber os seis filhos, 16 netos, 14 bisnetos e todos os 'agregados' nos longos almoços de domingo no quintal da casa onde mora há 59 anos, no distrito de Sousas. E é nessa aglomeração calorosa que são compartilhados histórias, memó-rias e aprendizados entre as diferentes gerações. Embora com a memória perfeita, ela diz que já passou por muita coisa que ficou esquecida no passado, afirmando sabiamente que "o que passou, passou! O importante é ter a família unida".

VELHOS TEMPOS QUANDO AS MULHERES SÓ SEGUIAM AS REGRAS

Dona Araci vem de uma família de sete irmãos, que morava em uma usina de eletricidade em Sousas, onde o pai tra-balhava. Foi nessa região que conheceu o marido, trabalhador da fazenda Santa Maria, com quem se casou aos 16 anos de idade. No mesmo ano do casamento (1960), veio o primeiro filho, que nasceu na casa da fazenda onde moravam, pelas mãos de uma parteira (a avó de seu marido).

Depois desse, vieram outros cinco filhos, com diferença entre 2 e 3 anos de idade cada, todos de parto natural. "Naquela época, era tudo diferente, a gente não tinha as explicações de hoje, não havia planejamento e nem pensávamos nessas coisas. A gente casava e tinha filhos, era assim", comenta.

Sem água encanada em casa - uma realidade comum para quem não morava na cidade -, as mulheres lavavam as roupas na beira do córrego, buscavam água na bica para os afazeres domésticos e sua vida se limitava aos cuidados com os filhos e a casa.

"A vida da mulher não era fácil, hoje a gente enxerga as dificuldades que passamos, mas na época era o normal", diz dona Araci. Mas também tinha alegrias, como os filhos correndo soltos, se juntando com as outras crianças das casas próximas e inventando brincadeiras, já que não havia tanta opção de brinquedos como hoje e o dinheiro era escasso, relembra.

As mães davam suporte aos filhos, já que os homens não se envolviam muito na rotina, mas eram rígidos na disciplina, conta. Por várias vezes, dona Araci foi cúmplice das filhas mais velhas para pequenas saídas e festas, sem que o marido soubesse. Depois, a família se mudou para a área urbana de Sousas e quando ela estava com 30 anos de idade, já com os seis filhos, ficou viúva. Insegura por nunca ter trabalhado fora, foi ser vendedora no comércio dos irmãos e deu tão certo que ficou na atividade por 30 anos.

Hoje, já aposentada, avalia o papel da mulher de antigamente que precisava ter uma obediência cega ao marido, manter uma família numerosa e ser responsável pela educação dos filhos.

Alguns costumes, entretanto, ela sente que tenham sido perdidos no tempo. "Os filhos, por exemplo, que ficam mais na escola e com empregadas do que com os pais, já não os ouvem nem respeitam tanto. E naquela época, era tudo mais calmo, hoje tem uma violência que me assusta", diz. Mas o mais importante, na sua opinião, é manter alguns valores que preza. "Amor, respeito, bondade e honestidade são valores que passei e hoje enxergo nos meus filhos e suas famílias.".

NOS PASSOS DA MÃE EVOLUÇÃO POR MEIO DE BONS EXEMPLOS

Ângela Maria Paschoal é filha de dona Araci, tem 54 anos, dois filhos, três netos e está no segundo casamento. Os dois filhos nasceram quando ela tinha 19 e 25 anos de idade e, apesar de ter vindo de uma família numerosa, considera que dois é um número adequado para os tempos atuais.

"Nós somos muito família, herdei isso de minha mãe e acho que passei para os meus filhos, por isso, esse convívio entre irmãos, primos, é fundamental pra gente", afirma. Observando os costumes entre gerações, comenta que as redes sociais são um grande diferencial entre elas.

"A internet, de certa forma, interfere na educação dos pais, tem muita coisa boa, mas muita coisa errada também e, mesmo quando há limite de tempo de acesso, às vezes se perde o controle", pondera.

A maternidade trouxe muitos ensinamentos e amadurecimento para Ângela, que considera "um amor sem explicação" o que sente pelos filhos e, mais recentemente, pelos netos. Ela pondera que quando teve os filhos "era tudo um pouco mais fácil, lidava de maneira mais tranquila, com muita conversa. Hoje, observo que os filhos estão mais soltos, há muitos adolescentes agressivos nas escolas, é diferente".

Sobre os costumes de época, Angela salienta a questão do trabalho, que era proibido às mulheres na época de sua mãe. "Eu sempre trabalhei e vejo minha filha mais independente ainda, essa é uma referência importante para a filha dela". Sobre o legado que gostaria de deixar, afirma: "união, diálogo e respeito, prezo isso e quero que repassem adiante".

EXEMPLOS SÃO MAIS EFICIENTES DO QUE REGRAS

Camila Paschoal Godinho Hampe, 30 anos, é mãe de Helena, 5 anos. É uma filha única e deve permanecer assim, se depender da mãe. A gravidez não foi planejada e surpreendeu o casal, aos dois meses de casamento.

"No início, senti muito medo porque me achava incapaz de cuidar de um bebê, mas à medida que a gestação foi evoluindo, meu elo com a bebê foi aumentando e a insegurança diminuiu. Quando peguei minha filha no colo, a sensação é que nasci para fazer aquilo, tanto que apesar de ter uma rede de apoio, preferi ficar sozinha nas primeiras semanas para que pudesse aprender com ela, e Deus foi me ensinando".

Embora considere a maternidade a maior fonte de amor, Camila reconhece que é também uma grande exaustão física e mental. Na sua opinião, falta hoje um pouco mais de leveza na maneira com que as pessoas conduzem a relação maternal, pois na correria do dia a dia, os pais se estressam mais com os filhos do que antigamente.

"As mães se sobrecarregam com o emprego, as demandas da casa, as contas, os cuidados, a vontade de ser boa em tudo e isso gera uma tensão que acaba sendo descarregada nas crianças", avalia. Camila optou por trabalhar por conta própria para se manter mais tempo perto da filha, inclusive, criando atividades para que ela consiga se entreter além das telas. Afirma que hoje entende melhor a própria mãe e o "primordial é participar da vida dos filhos, influenciar com bons exemplos".

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