Iniciativa de moradores locais resgata o equilíbrio ecológico em área ociosa
Agrofloresta da Vila Santa Isabel, no distrito de Barão Geraldo, é um espaço ecológico que atrai moradores que fazem um trabalho voluntário de modo a manter o local sempre limpo e cultivar novas mudas de árvores frutíferas, além de hortaliças e outras plantas; área dispõe de 400 metros de comprimento por 50 metros de largura (Rodrigo Zanotto)
A paisagem bucólica e acolhedora moldada pelas mãos dedicadas dos moradores da Vila Santa Isabel, no distrito de Barão Geraldo, chama atenção em meio ao cenário urbano. De um lado da rua há casas, do outro, uma floresta se levanta exuberante com sua flora e fauna revigoradas graças às mãos ecologicamente conscientes dos moradores locais. O fruto desse projeto é uma agrofloresta, um espaço onde árvores nativas e frutíferas são plantadas para o consumo local. O projeto visa ocupar o solo de maneira mais ecológica, ao mesmo tempo em que preserva a natureza. A manutenção e o manejo, incluindo podas, são realizados de forma voluntária pelos próprios moradores e outras pessoas que se interessam por essa atividade, através de mutirões de limpeza e plantio de novas mudas.
Antes dessa iniciativa, o local era preenchido por lixo, entulho e capim, o que favorecia a presença de animais indesejados, como baratas e ratos. Desde o início da implantação da agrofloresta em 2016, animais como macacos e aves têm sido avistados com frequência na região, de acordo com relatos dos membros do coletivo. Além disso, as árvores desempenham a importante função de filtrar o ar, o que é especialmente relevante em uma área urbana com tráfego de veículos e poluentes.
O terreno onde a agrofloresta está localizada pertence à União. Atualmente, a agrofloresta ocupa uma área de 400 metros de comprimento por 50 metros de largura, com possibilidade de expansão. Ela faz parte de um corredor ecológico que conecta a Mata Santa Genebra e cursos d'água em Barão Geraldo. Estima-se que existam cerca de 300 árvores, além de arbustos, nesse espaço. A banana é a fruta mais colhida, desempenhando um papel alimentar importante e contribuindo como matéria orgânica para a recuperação do solo. Outras espécies cultivadas incluem taioba, ora-pro-nóbis, mamão, abacaxi, milho, mandioca, abóbora, açafrão, hortaliças e ervas utilizadas como temperos, como cúrcuma, entre outras.
A iniciativa de adicionar uma nova espécie vegetal à agrofloresta é simples: basta levar uma muda para o local e plantá-la. A cofundadora da agrofloresta, Aline Binato, de 35 anos, compartilha sua motivação: "Quando tenho uma semente em casa e não há espaço para plantá-la, eu a trago para cá". Ela também relembra como foi o início do plantio no local, descrevendo-o como uma área com muito capim alto, que impossibilitava a caminhada e a ocupação do espaço. Com o tempo, foram removidos muitos entulhos e detritos.
Aline observa a diversidade de abordagens adotadas pelos vizinhos na conservação da agrofloresta: "É interessante caminhar aqui porque cada vizinho cuida de uma forma diferente. Nós cuidamos desta parte da agrofloresta. Mais adiante, um vizinho cria um jardim. Depois dele, outro planta café, e em seguida, outro usa o espaço como estacionamento. Assim, cada um faz à sua maneira". Ela destaca que a ideia de reflorestar e substituir o capim por árvores foi o que a atraiu para o projeto. A bióloga acredita que é mais interessante plantar árvores nativas para abrigar animais e cultivar alimentos. Quanto ao envolvimento das pessoas no projeto, Aline menciona que o número de participantes varia, já que algumas pessoas ajudam por um tempo e depois não retornam.
Aline ressalta que o espaço da agrofloresta é um local de trocas, especialmente de conhecimentos. Quando novas pessoas aparecem, novas ideias também surgem sobre o que pode ser feito. Ela convida: "Sempre que alguém novo aparece, surgem novas ideias do que podemos fazer. Está sempre nessa linha de ser um espaço de convívio e experiência de plantio. Se alguém não tem espaço em casa, pode plantar aqui".
O principal objetivo da agrofloresta é tornar uma área que possa ser ocupada e frequentada pelas pessoas que moram nas proximidades de forma ambientalmente agradável. Em vez de apenas grama, busca-se criar um ambiente com árvores frutíferas e animais circulando, pois isso traz mais diversidade ao entorno. Além do plantio, a comunidade local utiliza o espaço para realizar caminhadas.
A agrofloresta não conta com um sistema de irrigação, mas os voluntários selecionam espécies que não necessitam de irrigação frequente. Durante a época das chuvas, as plantas são cultivadas sem a necessidade de irrigação. A experiência de plantar sem gastar muita água é valorizada. O solo é tratado de forma natural, sem correções, exceto quando se trata de hortaliças. Nesse caso, Aline oferece água de sua casa, que fica em frente à agrofloresta.
Em relação à preservação do solo, Aline menciona que é possível observar os benefícios. Nas áreas ocupadas pela agrofloresta, o solo compactado e com pouca matéria orgânica é transformado ao longo dos anos em um solo diferente, com maior quantidade de matéria orgânica e mais adequado para o plantio.
Carlos Eduardo se dedica a melhorar o ambiente ao seu redor por meio do plantio (Rodrigo Zanotto)
Carlos Eduardo Pereira Nunes, de 37 anos, iniciou o plantio juntamente com Aline. Ele sempre se dedicou a melhorar o ambiente ao seu redor por meio do plantio e descobriu o conceito de agrofloresta em 2010, quando estava em busca de um lugar para colocar em prática essa ideia. Inicialmente, começou a plantar no quintal de sua casa, mas logo percebeu que o espaço era insuficiente. Foi então que ele percebeu que poderia realizar esse sonho na rua onde morava.
O professor de biologia destaca que ver o crescimento das plantas o motiva a continuar nessa tarefa. "Algumas árvores que plantamos já estão gigantes, o que me anima. Vejo que vale a pena. Observamos essa mudança e fazemos parte dela. Transformamos nosso quarteirão, nosso bairro, e isso nos motiva". Ele explica que o manejo realizado não prejudica o solo e ainda auxilia na recuperação dos nutrientes, uma vez que o material proveniente das podas é depositado ao redor das árvores.
O desejo de Carlos é que o projeto continue mesmo quando ele não estiver mais envolvido. "As pessoas vêm aqui, aprendem e levam consigo algo. Aqui funciona como um espaço de aprendizado para as pessoas. Elas levam essas experiências para outros lugares, não ficando restritas apenas a esse local". Para Carlos, a agrofloresta é como um laboratório onde as pessoas podem colocar em prática o que aprenderam.
Gabriel pretende realizar um estudo aprofundado sobre a agrofloresta da Vila Santa Isabel (Rodrigo Zanotto)
Gabriel Martins Moretti de Souza Campos, estudante de biologia de 24 anos, além de contribuir para a manutenção do local, pretende realizar um estudo aprofundado sobre a agrofloresta da Vila Santa Isabel em sua iniciação científica. Ele planeja catalogar todas as espécies presentes e estudar o solo. Campos passa pela agrofloresta todos os dias, pois está localizada entre sua casa e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde estuda. Para Campos, estar na agrofloresta é muito relaxante, e ele gosta de ver o desenvolvimento das plantas que ele plantou. Como não há um sistema de irrigação, ele costuma trazer água de casa para regar as plantas mais recentes.
Renata Mayumi Gouvea, uma bióloga de 42 anos, começou a frequentar a agrofloresta em 2022 para aplicar os conhecimentos adquiridos em um curso sobre agrofloresta. Ela destaca a variedade de estágios de agrofloresta e o conhecimento prático disponível no local. Para Renata, é um privilégio ter um espaço para plantar e colher, e ela considera muito gratificante acompanhar todo o processo, desde o plantio até a colheita de alimentos orgânicos e livres de agrotóxicos. A bióloga também destaca que as pessoas envolvidas no projeto se preocupam com a preservação do meio ambiente. "Quando chamamos as pessoas para capinar o mato, elas vêm felizes".