EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Mulheres negras são homenageadas em escola municipal de Campinas

De Rebeca Andrade a Carolina de Jesus, oito rostos foram pintados nas portas das salas de aula da EMEF Maria de Fátima Faria Área, no Jd. das Bandeiras

Da Redação
07/08/2024 às 08:28.
Atualizado em 07/08/2024 às 11:03
Maior medalhista olímpica da história do Brasil, Rebeca Andrade foi homenageada mesmo antes de atingir tal feito, o que ocorreu nesta semana ao conquistar o ouro no solo em Paris; “dá para aprender muita coisa conhecendo a história dessas mulheres, principalmente a não desistir dos nossos sonhos”, afirmou a adolescente Anadielle Marques Sousa (à direita) (Alessandro Torres)

Maior medalhista olímpica da história do Brasil, Rebeca Andrade foi homenageada mesmo antes de atingir tal feito, o que ocorreu nesta semana ao conquistar o ouro no solo em Paris; “dá para aprender muita coisa conhecendo a história dessas mulheres, principalmente a não desistir dos nossos sonhos”, afirmou a adolescente Anadielle Marques Sousa (à direita) (Alessandro Torres)

As portas das salas de aula da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Maria de Fátima Faria Área, no Jardim das Bandeiras, em Campinas, ganharam um novo significado. Na volta às aulas, que aconteceu na última segunda-feira, dia 22, os estudantes foram recebidos por oito rostos de mulheres negras inspiradoras, que fazem ou fizeram a diferença no mundo, em diversas áreas de atuação e profissões. A EMEF conta com turmas do primeiro ao nono ano, ou seja, oferece ensino para crianças de seis a 14 anos.

Uma das portas estampa o rosto da ginasta Rebeca Andrade, que conquistou o ouro na final do solo na última segundafeira, dia 5, na Bercy Arena, em Paris, e se tornou a maior medalhista olímpica do país em todos os tempos. Tudo isso aos 25 anos. Nesta edição do Jogos Olímpicos, Rebeca também faturou a medalha de bronze por equipe e duas de prata, no salto e no individual geral. Com sua sexta medalha em duas Olimpíadas, Rebeca Andrade ultrapassou os cinco pódios dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael.

A iniciativa de ilustrar os rostos femininos de artistas, cientistas, cantoras, atletas, escritoras, pensadoras é resultado de uma parceria da Prefeitura de Campinas com o projeto Oásis Educar, ação promovida por jovens de várias escolas públicas de Campinas e que fazem parte da Academia Educar, da Fundação Educar. Os estudantes escolheram quem seriam as protagonistas que estariam presentes nas portas. As demais homenageadas são a jogadora de vôlei Fernanda Garay; a cantora Alcione; a jornalista Glória Maria; a ativista Lélia Gonzalez; a pesquisadora Jaqueline Goes; a atriz Zezé Motta; e a escritora Carolina Maria de Jesus.

O diretor educacional da escola municipal, Robson Celestino Prychodco, enfatizou a importância da escolha de trabalhar o tema na pintura das portas. “É fundamental para que os jovens estejam em condição de observar o protagonismo de mulheres pretas e periféricas e o quanto é significativo dar visibilidade a essas pessoas que, muitas vezes, representam uma massa enorme da sociedade que é colocada à margem”, disse o diretor.

Segundo Robson, é interessante que os jovens escolham saber mais sobre esses nomes e se identifiquem com as histórias em que essas mulheres são protagonistas, com o que elas fizeram de positivo para a sociedade. Ele destacou também a relevância dos trabalhos de conscientização, de informação, de educação e de produção de conhecimento dentro da escola, feito pelos professores.

“É um trabalho extremamente importante. Sem ele, nenhum trabalho de conscientização e de empoderamento é possível. Então, os professores trabalham esse tema e outros relevantes para a construção da cidadania desses alunos e o reconhecimento do próprio valor que esses jovens podem ter na sociedade”, completou o diretor pedagógico.

“Essa construção coletiva realizada na EMEF Maria de Fátima Faria Área foi muito especial para os jovens da Academia Educar. Eles exerceram a liderança e ajudaram a dar vida ao sonho de outros estudantes e dos profissionais da educação. Temos certeza de que as portas com a referência de mulheres negras fortalecerão o trabalho que a escola vem realizando, de educação antirracista e valorização das mulheres”, analisou a gestora da Fundação Educar, Cristiane Stefanelli.

Os próprios estudantes definiram quem seriam as protagonistas que estariam presentes nas portas. Em junho, os alunos e voluntários se reuniram em um mutirão para colorir o pátio e, na semana passada, foi finalizado por três artistas plásticos: Azevê (Fábio Azevedo), Instagram: @azeve.art; Arroz (Lucas Arroz), Instagram: @lucas_arroz; e Nay (Nayara Gomez), Instagram @naiaragomes.art.

Para o artista plástico e muralista Fábio Azevedo, o Azevê, as imagens têm o objetivo de causar impacto na vida estudantil. “São mulheres negras escolhidas por eles. Espero que traga a mensagem de representatividade, força, inteligência, capacidade. São pessoas geniais e inspiradoras que agora habitam essas portas. Espero que os adjetivos de cada uma dessas mulheres se reflitam na vida e no caminho de cada aluno”, disse Azevê.

Outros dois artistas que foram convidados por Azevê para participar do projeto dentro da escola também ressaltaram a força da arte na vida dos estudantes. “Desde o mural que teve a participação de muitas pessoas da escola e outros voluntários até a finalização das portas, o projeto foi muito especial. Vimos o sorriso no rosto dos estudantes e agora que terminamos vamos deixar isso estampado no cotidiano, gerando neles esse pertencimento de que a escola é de todos e para todos”, afirmou Lucas Arroz, o Arroz. Já a artista Nayara Gomez, a Nay, destacou a importância de retratar rostos femininos. “Para mim foi muito importante, principalmente como mulher. Estamos trazendo figuras que são mulheres poderosas e isso é muito inspirador. Podemos ser o que a gente quiser, e essas mulheres são a prova de que todo sonho é possível.”

QUEM SÃO AS MULHERES

Na música, a escolhida foi a cantora Alcione, uma das mais notórias sambistas do país. Na comunicação, o destaque ficou por conta da jornalista Glória Maria, que, entre tantas contribuições, apresentou o programa Globo Repórter e protagonizou matérias inspiradoras para o jornalismo brasileiro.

Nas artes, a escolhida foi a multiartista, ou “cantriz”, como gosta de dizer, Zezé Motta. No esporte, as escolhas foram a jogadora de vôlei Fernanda Garay, que esteve presente na conquista do ouro na Olimpíada de Londres, em 2012, e da prata nos Jogos de Tóquio 2020, realizados em 2021 por causa da pandemia, e a ginasta Rebeca Andrade, medalha de ouro na modalidade salto e prata no individual geral em Tóquio, além das conquistas recentes na Olimpíada de Paris: medalhista de ouro no solo, prata no salto e no individual geral e bronze por equipes.

Nas ciências, a escolhida foi a biomédica e pesquisadora Jaqueline Goes, reconhecida internacionalmente por coordenar o mapeamento do genoma do novo coronavírus. Neste ano, ela foi nomeada embaixadora da Ciência no Brasil. Já Lélia Gonzales, professora, escritora e ativista, foi uma das principais intelectuais do feminismo negro no Brasil.

A filósofa Djamila Ribeiro se tornou uma das principais vozes atuais quando se fala no combate ao racismo, autora de livros como “Pequeno Manual Antirracista" e "O que é Lugar de Fala?". Outra homenageada, a escritora Carolina Maria de Jesus é considerada uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira, mesmo tendo apenas dois anos de estudo formal, e ficou nacionalmente conhecida em 1960 após a publicação do seu livro “Quarto de Despejo”.

Ryan Luiz da Silva, 13 anos, compartilhou sua surpresa ao conhecer as histórias de cada personagem e destacou a transformação positiva na escola. “Quero saber mais sobre Fernanda Garay, uma jogadora de voleibol, pois esse esporte é muito incentivado em nossa escola.”

As amigas Ana Clara Pereira da Silva e Anadielle Marques Sousa disseram que estão muito mais motivadas após essa transformação. “Parece uma escola nova. As imagens dessas mulheres mostram muita força e garra”, disse Anadielle. “Dá para aprender muita coisa conhecendo a história dessas mulheres, principalmente a não desistir dos nossos sonhos”, contou Ana Clara.

Jamily Nicoly de Souza Pereira, também de 13 anos, enfatizou que cada uma dessas mulheres representa diferentes figuras femininas do Brasil. “Elas podem servir de inspiração para todos, seja na escolha de uma profissão ou na luta por uma vida melhor”, disse.

Heytor Gabriel Calixto de Jesus, outro estudante de 13 anos, ficou surpreso ao se deparar com as imagens nas portas da escola. “É uma oportunidade de aprender sobre as histórias de mulheres que fazem a diferença no mundo, independentemente da área em que atuam.”

EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

Neste ano, Campinas escolheu o tema "Educação Antirracista" a ser tratado de forma transversal na Educação do município. Para isso, a Secretaria Municipal de Educação colocou o tema como meta no plano de trabalho para todas as escolas e várias ações são realizadas a partir disso. Uma delas é a construção de um protocolo para as ações antirracistas nas escolas. O trabalho desenvolvido na EMEF Maria de Fátima Faria Área, de acordo com a Prefeitura, contempla o tema da educação antirracista que vem sendo abordado em todas as escolas municipais neste ano.

  

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