MAIO AMARELO

Mortes no trânsito crescem 26,67% nos últimos 5 anos

2023 registrou o maior número de óbitos em sete anos nas vias de Campinas

Luis Eduardo de Sousa/luis.reis@rac.com.br
21/05/2024 às 07:36.
Atualizado em 21/05/2024 às 07:36
Um painel alerta motoristas sobre os acidentes de trânsito, buscando conscientizar a população para o respeito aos limites de velocidade e às regras de trânsito em geral; amaioria esmagadora das vítimas é composta por motociclistas (Kamá Ribeiro)

Um painel alerta motoristas sobre os acidentes de trânsito, buscando conscientizar a população para o respeito aos limites de velocidade e às regras de trânsito em geral; amaioria esmagadora das vítimas é composta por motociclistas (Kamá Ribeiro)

Nos últimos cinco anos, Campinas testemunhou um aumento significativo no número de óbitos nas vias públicas, de acordo com dados divulgados pela plataforma Infosiga, do governo estadual. Os registros saltaram de 120 em 2019 para 152 em 2023, marcando um incremento gradual ao longo desse período. Esse aumento representa uma elevação de 26,67% no total de óbitos. Especialistas alertam para a possibilidade de que essa tendência continue nos próximos anos.

O ano de 2023 registrou o maior número de óbitos em sete anos, equiparando-se ao trágico marco de 152 óbitos ocorridos em 2017, quando os registros estavam em declínio. Maio, mês de conscientização sobre segurança no trânsito devido à campanha "Maio Amarelo", destaca a importância de discutir os riscos de acidentes e mortes no tráfego, mobilizando especialistas, entidades e o poder público.

Os dados do Infosiga apontam para uma mudança na tendência de óbitos desde 2015, quando o sistema passou a registrar todos os sinistros e mortes no trânsito de São Paulo. Houve uma queda significativa nos números, de 186 em 2015 para os 120 registrados em 2019, ano considerado crucial para um novo crescimento nos casos. A redução nesse período foi de 35,48%. Veja o quadro com os óbitos no trânsito de Campinas nos últimos nove anos, conforme contabilizado pelo Infosiga.

"Especialmente entre 2014 e 2018, observamos um reforço considerável das operações de fiscalização da Lei Seca, com uma intensificação significativa das blitzes. Em 2019, esse movimento perdeu força, refletindo já em um leve aumento. A partir de 2020, com o advento da pandemia, vimos também um impulso no serviço de delivery, que se tornou um fator considerável", explica Marcos Oriqui, especialista em segurança no trânsito e mobilidade urbana.

Em 2024, os registros atualizados até março revelam 33 óbitos no primeiro trimestre, um a mais do que os 32 registrados no mesmo período do ano anterior. O Infosiga considera os óbitos tanto em vias urbanas quanto em rodovias.

A maioria esmagadora das vítimas é composta por motociclistas. Em 2023, por exemplo, 47% dos óbitos resultaram de acidentes envolvendo motocicletas, seguidos por pedestres (19%), automóveis (14%) e ciclistas (2%). O restante é atribuído a outras causas. 

"O aumento observado em Campinas acompanha uma tendência nacional. O Brasil está testemunhando um aumento nas mortes no trânsito, causado não apenas pelo aumento do serviço de delivery e pela redução na fiscalização, mas também por questões de instabilidade emocional, decorrentes da pandemia. As pessoas estão mais nervosas, tensas e tristes, devido a questões que vão além do trânsito em si, e isso se reflete na forma como dirigem", observa Oriqui, que pesquisa sinistralidade há mais de uma década.

Segundo o especialista, outra contribuição para esse cenário é a transição das modalidades de fiscalização, passando do humano para o tecnológico. "Câmeras e radares estão cada vez mais assumindo o papel de fiscalização, em detrimento dos agentes. Isso tem um efeito intimidador menor e intensifica a sensação de impunidade", acrescenta.

Diego Rodrigues, 36 anos, e Carolina Ferreira, 29, enfrentam diariamente as ruas de Campinas e notam uma crescente "epidemia de impaciência" e conflitos entre motoristas e motociclistas.
"A cada dia, parece que os motoristas ficam mais agressivos, os motociclistas respeitam menos as leis e o trânsito se transforma em uma verdadeira selva. É como se estivéssemos em uma guerra, onde cada um quer proteger seu espaço e provar que está certo a todo custo", relata Rodrigues.
"Não se leva em consideração a valiosa lição ensinada no Curso de Formação de Condutores (CFC), que é a direção defensiva. A maioria dos motoristas age de forma oposta, adotando uma postura ofensiva ao volante. É como se tivessem pressa para chegar em casa, mas não vontade", destaca Carolina.

Motoboy há cinco anos, Rodolfo Ribeiro, de 28 anos, nunca se envolveu em um acidente, mas presencia quase diariamente situações de risco nas ruas. Ele adota uma pilotagem tranquila para se proteger dessas situações.

"Não saio de casa atrasado, e se acontecer, não há nada que vá evitar o atraso, então não corro. Também não me apresso para fazer as entregas, e recebo meu pagamento da mesma forma. Tudo se resume a respeito, tanto pelo próximo quanto por si mesmo", avalia o jovem entregador.
Em resposta ao aumento da sinistralidade, as autoridades municipais de trânsito apontam o crescimento da frota de motocicletas nos últimos anos e destacam a promoção de ações para conscientizar os motoristas e reduzir os registros.

"Há um inegável aumento da frota de motos, o veículo mais vulnerável no trânsito, nos últimos anos. De 2022 para 2023, a frota de motos em Campinas cresceu 3,7%, passando de 150 mil, para 155,5 mil unidades. Os motociclistas também têm sido as principais vítimas do trânsito. Em 2023, nas malhas urbana e rodoviária, foram 83 motociclistas ou garupas mortos. Esses dados dão alguns sinais", informa o comunicado.

MAIO AMARELO

Desde 2014, o movimento "Maio Amarelo" vem sendo promovido pelo Observatório Nacional de Segurança Viária com o objetivo de alertar a sociedade para o elevado número de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo.

Além de destacar os próprios óbitos, o movimento também considera os custos gerados ao estado devido à ocorrência de acidentes, mesmo aqueles que não resultam em morte.
"Os custos são significativos para o sistema de saúde público e privado. Muitas das vítimas são jovens, cujas mortes representam não apenas uma tragédia pessoal, mas também anos de participação social desperdiçados. Mesmo quando não resultam em óbito, esses acidentes demandam uma série de tratamentos especializados, aumentando os custos de saúde para o estado", explica o médico Gustavo Fraga, secretário do Comitê de Cirurgia do Trauma da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC).

"A situação dos motociclistas é ainda mais grave. Muitos ficam incapacitados, perdem sua fonte de renda e passam a depender da previdência social, seja temporariamente ou de forma permanente. Para abordar essa questão, é crucial um trabalho de conscientização eficaz. Observamos um comportamento irresponsável por parte de motoristas e motociclistas, que inclui consumo de álcool, desrespeito à legislação, excesso de velocidade e uso de celulares ao volante. Somente através de uma intensa campanha de conscientização poderemos amenizar esses problemas", complementa o médico.

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