PREPARAÇÃO

Militares acompanham o Samu para missão no Haiti

Objetivo é ter contato com situações de urgência e de atenção a pacientes em situações extremas

Fábio Gallacci
gallacci@rac.com.br
12/10/2013 às 19:47.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:21
Militar brasileira acompanha trabalho do Samu em preparação para missão no Haiti ( Edu Fortes/AAN)

Militar brasileira acompanha trabalho do Samu em preparação para missão no Haiti ( Edu Fortes/AAN)

Durante um mês, um grupo de 30 militares do Exército brasileiro que participarão de uma Missão de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti a partir de dezembro acompanhou, e vivenciou efetivamente, o dia a dia do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Campinas. No trabalho em que minutos e o conhecimento da equipe podem fazer toda a diferença entre a vida e a morte de um paciente, o grupo mergulhou na rotina dos “anjos da guarda” que atuam pela cidade nas 24 horas do dia, sete dias por semana. A experiência serviu para preparar esses militares para situações de emergência que possivelmente ocorrerão no país caribenho. Eles tiveram contato teórico e prático sobre temas como traumas, ferimentos, imobilizações, parto normal, queimaduras, casos de múltiplas vítimas, ataques de animais peçonhentos, emergências clínicas de caráter cardiológico, neurológico e metabólico (como convulsões, hipoglicemias, desidratações e AVC). Esta é a segunda vez que os integrantes do Samu oferecem a sua experiência para esse treinamento. A reportagem do Correio acompanhou por um dia cada detalhe do trabalho de brasileiros que estão sempre prontos a servir, seja nos quatro cantos da cidade ou em terras distantes. “Os militares encontraram aqui várias situações de treinamento, casos críticos mesmo, e entraram em bairros com características muito parecidas com as que eles poderão encontrar lá no Haiti. Com isso, eles terão uma segurança maior para realizar os procedimentos médicos, não só em relação à população local haitiana, mas também junto aos seus companheiros de farda. Os ensinamentos vão ajudar bastante”, afirmou o coordenador do Samu, José Roberto Hansen.A enfermeira Carmem Verônica Dias foi uma das “professoras” da turma. “Os militares fizeram atendimento pré-hospitalar e de triagem de múltiplas vítimas. Também houve demonstração e vivência de toda a parte de urgência, até mesmo em relação a riscos biológicos”, detalhou ela. O auxiliar de enfermagem Robson Pinheiro viu na série de exercícios uma forma de dar a sua contribuição como cidadão. “Nos sentimos dando uma contribuição muito importante para que o Exército brasileiro esteja servindo pessoas que precisem desse apoio em outro país. É um grande orgulho para nós podermos ajudar a prepará-los. O pessoal respondeu super bem ao treinamento, foram muito participativos e aproveitaram ao máximo”, disse.Durante as semanas de preparação, os militares também saíram às ruas ao lado das equipes do Samu nas viaturas para atender chamados reais. Uma das ocorrências de maior destaque foi o acidente com um ônibus urbano da empresa Boa Vista na tarde do último dia 19 de setembro. O veículo foi fechado por um automóvel na via expressa Lix da Cunha e 33 pessoas ficaram feridas, entre eles uma grávida e um bebê de nove meses. O ônibus chegava em Campinas vindo de Monte Mor.A reportagem acompanhou o atendimento à aposentada Ana Marion Bossoni, de 82 anos, na Vila Miguel Vicente Cury. Sua família achou que ela estivesse sofrendo uma parada cardíaca ou qualquer outro problema e imediatamente acionou o socorro. A viatura levou menos cerca de 10 minutos para chegar, prestar o primeiro atendimento e encaminhar a idosa para um hospital. Os militares participaram ativamente do trabalho.Além de situações de grande estresse, os militares também presenciaram a emoção de um momento importante para uma família. Na última semana do treinamento, eles atenderam o chamado de uma mulher em trabalho de parto no Centro de Saúde da Vila Orosimbo Maia. Com 32 anos, a paciente estava prestes a dar à luz ao seu oitavo filho. No interior da viatura que seguia para a Maternidade de Campinas a bolsa estourou. Assim que a equipe chegou ao hospital, o bebê nasceu.A segundo sargento Aline Bernardes Pereira, enfermeira que vai para o Haiti, participou de várias ações, entre elas o atendimento à aposentada na Vila Miguel Vicente Cury, e aprovou o trabalho. “O treinamento foi bastante importante porque, às vezes, perdemos um pouco a prática e o Samu está sempre com todos os protocolos de atuação atualizados. Aqui, tivemos acesso a todas as novidades, tanto teóricas quanto práticas. Trabalhamos com questões como a retirada de vítimas e ação em catástrofes; coisas que não queremos que aconteçam, mas para as quais devemos estar preparados”, comentou. O colega militar Bruno Leonardo Perez também considerou a experiência válida. “Essa vivência melhorou o nosso preparo para a missão no Haiti. Conseguimos pegar mais experiências práticas para executar o trabalho caso seja necessário”, justificou. Multiplicar Com o objetivo de multiplicar ainda mais o conhecimento entre a tropa, após o término do treinamento com o grupo restrito do Exército, a direção do Samu já estuda uma data para se deslocar com alguns de seus equipamentos para dar noções de atendimento a vítimas na base onde os militares se preparam para a viagem ao Haiti, no Jardim Chapadão. Tudo para que mais pessoas possam contribuir com a missão humanitária caso seja necessário.

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