Mercadão terá atendimento integral na parte externa

A partir da próxima segunda-feira o Mercado Municipal de Campinas, o Mercadão, estará com a sua parte interna temporariamente fechada. Todo o atendimento será realizado nas tendas que foram instaladas no estacionamento. De acordo com a empresa de Serviços Técnicos Gerais (Setec), todos os permissionários deverão concluir a transição de seus comércios dos boxes internos para os provisórios até domingo (23).

Entre os comerciantes, o clima é leve e há até uma percepção de aumento no movimento e nas vendas. No entanto, alguns estão preocupados com a segurança, já que agora os produtos têm como barreiras apenas as paredes das tendas e uma cortina que funciona como porta. A Setec informou, no entanto, que a Guarda Municipal (GM) fará a segurança durante o período da noite para proteger os produtos.

Ao todo, são 143 permissionários no espaço, dos quais 93 serão afetados por ocuparem a área interna do prédio. Os demais, que ocupam os boxes na área externa, paralelamente à Rua Ernesto Khulmann, não serão atingidos.

Até sexta-feira (21), a maioria dos boxes internos já haviam sido esvaziados. Alguns permissionários corriam contra o tempo para dar conta de retirar todos os produtos. Durante as obras, que devem durar 12 meses, o espaço ficará com as portas trancadas.

O comerciante Celso Tasso, de 66 anos, tem uma loja de chapéus e calçados no Mercadão há 37 anos. É a primeira vez que ele tira seu comércio de dentro do prédio histórico, mas está confiante com a “bonança que virá” após a reforma.

“É bem trabalhoso fazer a mudança, porque é muito volume. Não coube toda a minha mercadoria no espaço que peguei (na tenda). Eu tive que levar muita coisa para casa e até alugar um contêiner para colocar calçados, chapéus, mas está dando tudo certo. Espero que o movimento não diminua e a reforma seja boa para nós”, declarou Tasso.

SEGURANÇA

Márcio Santana, de 53 anos, e o filho Giovanni Santana, de 20, gerenciam uma loja de grãos há três anos. Eles notaram um aumento de clientes nos últimos dez dias, período em que estão na tenda, mas estão apreensivos quanto à segurança. “Como aqui fora passa mais gente, por causa do hortifruti, a gente tem vendido mais. Acredito que não será tão penoso ficar os 12 meses, como imaginávamos. O que preocupa é a segurança. Não sabemos se nossos produtos serão vigiados e para entrar aqui não há tantas barreiras”, disse Giovanni.

Irineu de Jesus Caldeira, de 36 anos, que tem um box de temperos e especiarias, tem a mesma apreensão. “Essa tenda é frágil. A porta é apenas uma cortina. Apesar de ter tapumes em volta do prédio, é fácil atravessar. Dá medo mesmo”, declarou. Mesmo assim, o comerciante, que já tem 20 anos de mercado, está otimista com o futuro. Ele também sentiu uma melhora nas vendas nos últimos dias.

Em nota, a Setec disse que firmou um acordo com a Guarda Municipal (GM) para aumentar a segurança no local. Além disso, disse que todo o entorno do mercado será fiscalizado por câmeras.

“Foram instaladas, e já estão em operação, as novas câmeras da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (CIMCamp), pelas quais todo movimento é monitorado. A segurança patrimonial contratada pela Setec já está com um canal direto de comunicação com a GM via rádio, e, em testes realizados, o atendimento de ocorrências foi feito menos de um minuto após o registro das chamadas”, informou o texto.

A autarquia complementou dizendo que as rondas da GM serão mais frequentes durante o período de obras.

O Mercadão recebe cerca de 100 mil visitantes por mês. Com as intervenções, a Administração pretende aumentar esse número. 

MUDANÇAS

Conforme informado com exclusividade pelo Correio Popular, as obras no Mercadão começaram no fim de maio com a interdição do estacionamento, embora a ordem de serviço tenha sido acionada em primeiro de junho.

Pelo prazo de 12 meses estabelecido pela Administração, a obra deve estar completamente concluída em 14 de julho de 2024.

A reportagem teve acesso ao projeto arquitetônico completo, o que permitiu detalhar com maior precisão como deve ficar o espaço.

Será possível notar a requalificação do prédio já na parte externa. A fachada ganhará nova pintura, seguindo o mesmo padrão de cores hoje existente – vermelho e bege em tom claro. As irregularidades das paredes também devem ser corrigidas, mas sem mudar a estrutura, visto que o prédio é tombado.

Ainda na parte de fora serão instalados toldos no entorno de todo o prédio. Atualmente, os equipamentos só existem em alguns boxes, a gosto dos permissionários. Com a mudança, toda a área externa será sombreada.

Por fim, serão instalados projetores de led para a iluminação.

O presidente da Setec, Enrique Lerena, adiantou, em entrevista ao Correio Popular, que tem a intenção de fechar parte do estacionamento – no trecho paralelo à Rua Dr. Ernesto Kulmann – e transformar em uma grande praça de alimentação. “É uma ideia inspirada no mercadão de Joinville-SC e servirá para atrair maior fluxo de pessoas. Hoje em dia, o que atrai é comida”, declarou.

Como a mudança implicaria na perda de parte do estacionamento, Lerena revelou que há estudos no sentido de se construir um estacionamento vertical no lado oposto, com entrada pela Rua Álvares Machado. No entanto, o projeto dependeria de aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas, Condepacc. Independentemente da construção dessa edificação, o presidente da Setec confirmou que pretende concessionar o estacionamento a uma empresa privada.

A parte elétrica será renovada integralmente, com a troca de toda a fiação e dos componentes elétricos. A mudança vai proporcionar maior segurança aos permissionários em relação à manutenção de seus produtos, com menor chance de alguma interrupção ou adversidade.

A nova iluminação será em led, com diferentes tipos de luminárias que serão projetadas estrategicamente. Com isso, o intuito da Administração é que haja uma redução no custo de energia, o que beneficia os permissionários.

A maior mudança estrutural do prédio será a instalação do mezanino, uma plataforma suspensa sobre todo o espaço interno, que funcionará como praça de alimentação.

Segundo o projeto, serão instalados quatro bares e três restaurantes. O acesso será através de uma escada e um elevador, ambos instalados ao centro. O mezanino também contará com dois sanitários. Haverá uma barreira de vidro cercando toda a estrutura e a iluminação também será composta por projetores de led.

Lerena declarou que os permissionários de todos os boxes da parte interna receberão a orientação de organizar os seus produtos de forma padronizada, de modo a valorizar o novo espaço.

“O novo modelo exigirá uma organização maior, mais elaborada, além das boas práticas de armazenamento de alimentos que já cobramos deles”, disse.

Ainda no rol de alterações estruturais, todo o piso será trocado para um modelo aderente. A fachada dos boxes terá uma padronização, com placas informando o nome do estabelecimento.

A rede de esgoto será renovada, isolando a água utilizada do contato com o ambiente, o que acontece hoje através dos ralos que cortam os corredores. Até o início da reforma, esse era um dos problemas mais apontados pelos permissionários, em razão do mau cheiro exalado.

À reportagem, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) disse que se sente honrado por tirar a reforma do papel.

“Desde que eu cheguei em Campinas sempre vi o Mercadão como um prédio simbólico, por atrair moradores de todas as classes sociais, o que reforça a gênese da cidade de acolher moradores de todos os estados brasileiros e de outros países, em busca de produtos diversificados e de qualidade. Participar dessa reforma como prefeito é uma honra por restaurar um prédio projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o que renovará a arquitetura do Centro da cidade”, declarou.