UM ANO DEPOIS

Menina que morreu após queda de árvore no Taquaral recebe homenagens

Família e amigos promoveram um ato no parque; Prefeitura colocará o nome de Isabela Tiburcio Fermino em espaço cultural da Lagoa

Da Redação
25/01/2024 às 08:52.
Atualizado em 25/01/2024 às 08:52
Sérgio Fermino, pai da vítima, contou que escolheu a cor rosa, pois era a preferida de Isabela: ‘em vez do preto, que é sinal de luto, decidi celebrar a vida da minha filha pela pessoa que ela foi, que amava a vida’ (Rodrigo Zanotto)

Sérgio Fermino, pai da vítima, contou que escolheu a cor rosa, pois era a preferida de Isabela: ‘em vez do preto, que é sinal de luto, decidi celebrar a vida da minha filha pela pessoa que ela foi, que amava a vida’ (Rodrigo Zanotto)

A menina Isabela Tiburcio Fermino, de 7 anos, que morreu em 24 de janeiro do ano passado ao ser atingida por um eucalipto na Lagoa do Taquaral, em Campinas, dará nome ao futuro “Espaço Cultural e Sala de Leitura”, dentro do parque. A homenagem foi acordada entre a Prefeitura de Campinas e o pai da jovem, Sérgio Fermino, que na quarta-feira (24) percorreu a Lagoa e afixou no alambrado fitas corde-rosa em memória da filha. No dia do acidente, Isabela celebrava o aniversário de uma prima junto com familiares.

O ato em memória de Isabela começou por volta das 9h, horário em que ela foi deixada no parque, naquele dia 24 de janeiro de 2003, pelo portão de entrada das quadras. O pai, ao lado de um grupo de amigos e da família, percorreu os 6,4 quilômetros da parte externa da Lagoa do Taquaral. O grupo colocou mais de 300 fitas simbolizando a saudade e a vida da jovem.

Antes, Firmino fez uma pequena oração e um agradecimento por ter convivido por sete anos com a filha. Um dos momentos de maior comoção foi justamente quando ele amarrou e beijou a fita colocada no alambrado, bem frente ao local do acidente. Os portões principais também receberam a homenagem, mas os pais ainda não conseguem entrar no parque.

“Isso é em memória dela. A cor rosa era a preferida da Isabela, então em vez do preto, que é sinal de luto, decidi celebrar a vida da minha filha pela pessoa que ela foi, que amava a vida”, disse Firmino, acrescentando que Isabela era uma ótima filha, aluna e também bailarina, além de gostar de ler. Segundo ele, essa data foi batizada de “Isabela Day” e anualmente será realizada uma homenagem a ela.

Sobre a homenagem, Firmino disse considerá-la como uma resposta não apenas aos pais, mas para toda a comunidade que ficou comovida com a tragédia. “É reconfortante saber que o que aconteceu com a minha filha vai ajudar a outras pessoas. Saber que a vida dela não foi em vão e que vai proporcionar alegria para outros, com um espaço seguro”, finalizou.

A área com Espaço Cultural e Sala de Leitura dentro da Lagoa do Taquaral terá livros infantis, com uma praça em frente, onde haverá bancos, iluminação e paisagismo. Isabela era leitora, adorava poesia e deixou um livro de poemas de própria autoria, lançado pela família em novembro de 2023, “Poesias de Isabela”, em que retrata situações do dia a dia e como ela enxergava o mundo.

“O objetivo do novo espaço no parque é eternizar a memória e a essência de Isabela e manter, sempre presente, o incentivo para que todos leiam, especialmente as crianças”, afirmou a Prefeitura em nota divulgada.

OBRAS

As obras do “Espaço Cultural e Sala de Leitura Isabela Tiburcio Fermino” devem ser concluídas até maio deste ano. O local fica entre a área dos pedalinhos e a Concha Acústica, e poderá ser acessado tanto pelo Portão 1 quanto pelo Portão 2 da Lagoa.

O imóvel, já existente no parque, é utilizado atualmente para serviços diversos e se transformará na unidade em homenagem a garota. Ele passará por reforma elétrica, hidráulica, pintura e retirada de divisórias, por meio da Secretaria Municipal de Serviços Públicos.

A área total, incluindo a Sala de Leitura e a praça em frente, é de aproximadamente 200 metros quadrados. Os livros infantis, o mobiliário e a decoração interna do espaço serão feitos pela Secretaria de Cultura e Turismo para receber os apreciadores de leitura.

A área também é próxima ao futuro parque infantil Espaço da Criança, de 3,5 mil metros quadrados. Ele terá brinquedos sensoriais, inclusive com água, pisos de diversas texturas, áreas para piquenique, balanços, gangorras, giragira, bancos, mesas, bebedouros, lixeiras e paisagismo. 

REFLORESTAMENTO

O reflorestamento da área dos eucaliptos que foram extraídos da Lagoa do Taquaral, após a morte de Isabela, tiveram inicio na última sexta-feira. Segundo nota da Prefeitura, no total serão plantadas 510 árvores (adultas de até 10 anos) em 32 mil metros quadrados, aproximadamente. Todas são nativas e podem atingir de três a quatro metros de altura.

As espécies são aldrago, sapucaia, carvalho brasileiro, mulungu suinã, lofantera da amazônia, monguba, caroba e guaraíba. Estas árvores foram fornecidas por meio de TACs (Termos de Acordo de Compromisso), que somam o valor de cerca de R$ 430 mil.

Também está previsto o plantio de duas mil mudas de árvores nativas que serão fornecidas pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. A proposta de reflorestamento foi apresentada pelo IPA, na Prefeitura, em junho de 2023. Os trâmites estão em andamento.

A área também terá trilhas com piso intertravado, ecológico, e parque infantil, com equipamentos sensoriais, brinquedos com água e piso de diferentes texturas. A obra teve início no final de agosto de 2023.

PLANO DIRETOR

No inicio de junho de 2023, a Prefeitura anunciou o plano diretor para traçar estratégias de recuperação para o Parque Portugal e para o Bosque dos Jequitibás, local em que a queda de uma árvore também causou uma morte na cidade, em dezembro de 2022. O plano era justamente para nortear a Administração sobre as espécies de árvores que deveriam ser plantadas e o desenho de plantio, privilegiando segurança, conforto e benefícios à fauna e flora, além dos usuários. Todo o trabalho foi feito através de parceria entre o município e o Estado.

O Parque do Taquaral ficou fechado por exatos dois meses, entre janeiro e março do ao passado, depois da morte da jovem. Durante o período em que esteve fechado, todos os eucaliptos do local foram removidos, gerando controvérsia entre frequentadores contrários a ação. Já o Bosque dos Jequitibás foi fechado em 26 de dezembro de 2022, depois que um jacarandá caiu na Rua General Marcondes Salgado e vitimou o jovem Guilherme da Silva, de 36 anos. O espaço foi reaberto no início de agosto.

A adoção do plano diretor foi anunciada pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) na presença do secretário de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, dos vereadores Zé Carlos (PSB), Otto Alejandro (PL) e Higor Diego (Republicanos), de um representante do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Fernando Vidal, e dos especialistas em arvorismo Marco Aurélio Nalom, do Instituto de Pesquisa Ambientais (IPA) e Demóstenes Ferreira da Silva, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Em parceria com o município, a Esalq e o IPA realizaram a construção do plano para os parques. No caso do IPA, o instituto escolheu algumas espécies que serão usadas no plantio, nativas da mata atlântica. “São árvores que oferecem segurança aos frequentadores, que atraem a fauna e que futuramente possam gerar sementes para o próprio município”, explicou na ocasião Marco Aurélio. A área em questão corresponde a três hectares.

LIVRO DE ISABELA

O livro “Poesias de Isabela”, da Editora Adonis, é fruto de uma perda precoce, uma promessa e da intenção de corrigir uma injustiça. A obra reúne 22 poesias escritas por Isabela Tibúrcio Fermino e ilustrações de Paulo Masserani.

“Tivemos a pior perda que um ser humano pode ter, que é se despedir de um filho. Ela trouxe muita graça, ternura e amor para as nossas vidas . Ficar sem ela tem sido um desafio gigantesco”, afirmou Sérgio Firmino, pai da Isabela, na ocasião do lançamento do livro, em novembro de 2023. Ele compartilhou que o livro foi uma forma de homenagear o legado da filha e corrigir o que chama de injustiça, pois a menina ficou famosa não pela maneira como viveu e espalhou amor, mas pela sua despedida da vida.

Alfabetizada pelo pai durante a pandemia, ela passou a registrar, por meio da poesia, momentos importantes e marcantes, como amizades e aprendizados. “Quando começou a escrever, eu disse que publicaria um livro com as poesias dela. No mesmo dia ela escreveu cinco”, relembrou Gislene, a mãe.

O livro é uma homenagem póstuma, mas não é apenas isso. “É a divulgação de um legado. O leitor vai entender um pouco o universo dela e absorver coisas boas que a humanidade precisa. Uma leveza no olhar, um carinho e uma doçura. Ela elaborava estratégias para recuperar amizades de amigos que tinham brigado”. A primeira poesia de Isabela, dedicada à amizade, foi escrita aos cinco anos.

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