Funcionário realiza a pintura de um banco de ônibus que precisava de manutenção: prejuízos integram a planilha que define o valor da passagem (Kamá Ribeiro)
Dados do Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano e Urbano de Passageiros da Região Metropolitana de Campinas (SetCamp) mostram que o vandalismo nos ônibus do transporte público da cidade cresceu este ano cerca de 200% na comparação com a média diária em 2021. A entidade atribui a alta à retomada de aulas presenciais - suspensas nos últimos dois anos por causa da pandemia - e alerta que esses prejuízos são repassados à planilha que contém os fundamentos para o aumento da tarifa.
De acordo com o SetCamp, no ano passado era registrado uma média de 10 casos por dia, no entanto, atualmente o número subiu para cerca de 30. A maior parte dos atos de vandalismos são as pichações nos encostos dos assentos e na parte interna dos ônibus, bancos rasgados e lacres de emergência quebrados. Em algumas ocasiões, as janelas também sãoquebradas. "Em primeiro lugar, é bom lembrar que o vandalismo é um crime contra o patrimônio público. Por isso, o mais difícil de se entender é que as pessoas que reclamam de atrasos dos ônibus e que a passagem é muito cara são as mesmas que muitas vezes praticam o vandalismo, esquecendo-se que prejudicam a comunidade como um todo. Desde os amigos, família, quem precisa do ônibus para o dia a dia", apontou Paulo Barddal, diretor de Comunicação do SetCamp.
Na região do Ouro Verde, Vila União e Corredor Amoreiras, os casos se concentram principalmente entre 9h e 15h e afetam linhas que atendem à periferia, como a 115 (Adhemar de Barros), 120 (Terminal Ouro Verde), 131 (Terminal Vida Nova), 190 (Jardim São Domingos) e 191 (Jardim Fernanda). Também foi registrado aumento de casos, sobremaneira de pichações internas dos ônibus, assentos e laterais, após a retomada das aulas, em linhas que atendem às regiões de Barão Geraldo, Sousas, Amarais e Corredor Abolição.
"Isso é uma coisa difícil de se entender, porque mostra a total falta de bom senso e educação de quem comete esse tipo de ato criminoso. Ao praticar o vandalismo, essas pessoas estão impondo às empresas mais gastos com manutenção, compra de peças, acessórios. E, muitas vezes, dependendo do grau do vandalismo, o ônibus fica parado até uma semana. E no final, todo esse custo é repassado para a planilha que define a tarifa. Daí, voltamos ao início do círculo, com as pessoas e as reclamações sobre a qualidade do transporte e da tarifa, mas se esquecem disso", alertou Barddal.
Outros casos são registrados quando a frota da VB3 está sendo recolhida para a garagem, entre 22h e 1h da madrugada e os principais pontos alvo de vândalos são a Avenida Comendador Aladino Selmi, no CDHU Amarais, e a Rodovia D. Pedro I (SP-065), na passarela entre o Jardim Santa Mônica e o Jardim São Marcos.
"A linha 206-Santa Clara do Lago é uma das que sofre problemas frequentes no horário de saída das aulas, porque os estudantes não respeitam os outros usuários, invadem os veículos e até ameaçam os condutores quando eles reclamam. Casos de vandalismo com vidros e portas quebradas também foram registrados este ano no eixo da Avenida John Boyd Dunlop e na região da Avenida Lix da Cunha", informou o SetCamp, por meio de nota.
O Sistema InterCamp é o Sistema de Transporte Público de Campinas, operado por ônibus das empresas concessionárias do transporte coletivo e mini/midiônibus do serviço alternativo, implantado em 2005. A frota totaliza mais de 1,1 mil ônibus, sendo 996 acessíveis (87%). O sistema registra uma média de 560 mil passageiros (passagens pela catraca) por dia útil e 14 milhões por mês. Transporta, diariamente, cerca de 204 mil usuários.
Em Campinas quem for flagrado pichando ou deteriorando patrimônio público ou privado será punido com multa de R$ 3.360,00.
População condena
Os usuários do transporte público de Campinas contam que o vandalismo se soma a outros problemas tradicionais na maioria das cidades brasileiras, como atraso nos horários ou viagens com o veículo lotado. "Em qualquer lugar isso acontece. Então, se o povo quebra o ônibus, alguém vai ter que pagar e, geralmente, é a própria população. Por isso as passagens são tão caras, porque os ônibus precisam ser arrumados depois de vandalizados", afirmou o autônomo João José da Silva, de 57 anos.
Para o aposentado Octacílio José de Castro, de 83 anos, muito do vandalismo se deve à falta de senso de comunidade. "Quando eu era mais novo, se alguém falasse que algo era proibido, isso era respeitado. Agora, parece que é o contrário. Se você diz para um jovem que não pode fazer algo, ele vai lá e faz. E os resultados são os ônibus todos pichados", lamentou.
Quem pensa igual é o aposentado José Pereira da Silva, de 74 anos. "Parece que as pessoas mais jovens não podem ver nada bonito que logo precisam quebrar, depredar ou danificar. Se houvesse mais rigidez com esses casos, isso não aconteceria", disse.