Dos 20 municípios que integram a Região Metropolitana de Campinas, 14 adotaram novas estratégias para evitar episódios de violência contra unidades de ensino
Em Holambra, a Prefeitura optou por adotar o Botão do Pânico em todas as escolas municipais, estaduais e particulares do município como forma de prevenir casos de violência (Rodrigo Zanotto)
A recente série de ataques contra escolas em diferentes pontos do país levou 14 das 20 prefeituras da Região Metropolitana de Campinas (RMC) a anunciar medidas para ampliar a segurança em suas redes de ensino. As ações em comum são a adoção do Botão do Pânico para acionar rapidamente as Guardas Municipais em casos suspeitos, a implantação de videomonitoramento e o reforço da ronda escolar. Americana decidiu adotar medida mais drástica e informou que colocará vigilantes armados nas escolas. Na terça-feira (11), em Campinas, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) adiantou que também reforçará a segurança nos colégios estudais. Segundo ele, vigilantes desarmados atuarão nas unidades.
Nos últimos 15 dias, cinco ataques foram registrados no país. O mais recente ocorreu na quarta-feira (12) de manhã em Morungaba, cidade de 14 mil habitantes que integra a RMC, onde um adolescente de 19 anos foi preso com três facas no interior de uma escola. O rapaz foi rendido por pais de alunos após correr atrás de estudantes da Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef) Professor Irineu Tobias, no bairro São Benedito. Ninguém ficou ferido no ataque, mas "três crianças tiveram lesões leves devido a quedas ao correr para tentar se proteger", segundo informou a Prefeitura.
O adolescente teria se misturado aos pais e alunos pouco antes do início das aulas para entrar no prédio. A Administração suspendeu as aulas em toda a rede municipal após o ataque. A Prefeitura divulgou que "as motivações do invasor estão sendo apuradas". Em Valinhos, a Guarda Civil Municipal apreendeu na quarta-feira um adolescente de 14 anos suspeito de divulgar imagens com ameaças a escolas.
Ele estava em frente à Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Cecília Meireles e foi visto por uma equipe da GCM que fazia patrulhamento no local. Desde 27 de março passado, 14 pessoas ficaram feridas e cinco morreram, entre alunos e professores, em ataques em escolas públicas e privadas de São Paulo, Blumenau (SC), Manaus (AM) e Goiânia (GO).
Ações
Por causa do medo generalizado gerado por esses episódios, vários municípios têm se mobilizado para ampliar a segurança nas escolas. Americana, por exemplo, anunciou a adoção do Núcleo de Segurança Escolar e uma série de medidas de segurança para as 74 creches e escolas municipais, onde estudam cerca de 15 mil alunos. Uma das iniciativas prevê a contratação de uma empresa privada de segurança para fornecer vigilantes armados paras essas unidades. O pacote contempla ainda a adoção do Botão do Pânico, ampliação da ronda escolar, além de outras medidas. "Tudo o que a municipalidade puder fazer, faremos, porque o maior bem que uma sociedade tem são suas crianças e adolescentes", defende o prefeito Francisco Sardelli (PV).
Já a Administração de Monte Mor iniciou na última segunda-feira a implantação de um sistema inteligente de monitoramento de câmeras compartilhadas, com um projeto-piloto na Escola Municipal Vista Alegre, que foi alvo de um ataque de bombas caseiras há dois meses. À época, ação foi realizada por um adolescente de 17 anos, que também portava uma machadinha e ostentava um símbolo nazista no braço.
O jovem foi detido após realizar duas explosões. Ninguém se feriu. A Prefeitura da cidade também deliberou pela adoção do Botão do Pânico e pela intensificação do patrulhamento nas escolas.
Violência na sociedade
Para a psicóloga e pedagoga Rita Khater, as medidas de segurança adotadas em escolas "são bem-vindas" no sentido de dar uma resposta imediata ao problema, mas estão longe de resolvê-lo. "A violência não está na escola, vem da sociedade", diz ela, que também é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Para a especialista, a solução virá de uma ação de inteligência que identifique e combata quem estimula esse tipo de atitude e de uma mudança da sociedade, que deve buscar aumentar a consciência crítica dos jovens.
Rita considera que os agressores são resultado de uma cultura que promove e banaliza a violência. "Essa banalização faz o jovem perder a medida exata do que é matar uma pessoa", explica a psicóloga. Para ela, isso pode ocorrer através dos games, redes sociais, pessoas que estimulam comportamento violento e até mesmo por meio da cobertura da mídia sobre os casos. A professora da PUC-Campinas considera que a imprensa deveria adotar a mesma regra que segue para suicídios, que é não divulgar os casos porque estimulam outras ocorrências.
Segundo a pedagoga, os diversos casos ocorridos num curto prazo e as fake news (notícias falsas) sobre o assunto "criam uma espiral de pânico na sociedade, que resulta em medo". Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aponta que, de 2002 até a última sexta-feira (7), 22 ataques a escolas ocorreram no Brasil, que resultaram em 35 mortes, entre alunos, professores, funcionários e agressores. Do total, 13 casos se concentraram nos últimos dois anos.
Só no último final de semana, o Ministério da Justiça identificou mais de 500 perfis nas redes sociais com apologia à violência nas escolas. Para o educador e cientista político Daniel Cara, esses fatos devem ser classificados como extremismo de direita, pois envolvem cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques.
"É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais", detalha. Em Hortolândia, além de medidas de segurança, a Prefeitura promove a cultura da paz nas atividades escolares. As ações envolvem diversas atividades, dentro e fora de sala de aula, através da prática do diálogo entre adultos e crianças e entre os próprios alunos. O objetivo é buscar a resolução de conflitos por meio de brincadeiras, rodas de conversas e contação de histórias.
MEDIDAS ADOTADAS NA RMC
AMERICANA
Lançamento do Núcleo de Segurança Escolar, que inclui vigilantes armados, nova patrulha escolar, implantação do Botão do Pânico, treinamento de educadores para atuarem em situações extremas, convocação de quatro psicólogos para atuarem na prevenção de casos de violência, videomonitoramento em todas as escolas e prédios da Secretaria de Educação, com a instalação de 933 câmeras (em fase de licitação).
CAMPINAS
Criação de um número de telefone de acesso exclusivo e prioritário das escolas com a Guarda Municipal (GMC), reforço no patrulhamento, ampliação do monitoramento das escolas com o uso de câmeras de segurança, monitoramento das redes sociais e capacitação dos funcionários da Educação.
ENGENHEIRO COELHO
Usar o levantamento de vulnerabilidades de todas as escolas públicas do município, feito pelo Conselho Tutelar, para definir as ações a serem adotadas a partir das propostas apresentadas, como intensificar o patrulhamento, elevar a altura dos muros e usar cerca elétrica, instalação de fechaduras nas salas de aula que só abrem por dentro, controle da entrada e saída de alunos e adoção do Botão do Pânico.
HOLAMBRA
Adoção do Botão do Pânico em todas as escolas municipais, estaduais e particulares.
HORTOLÂNDIA
Intensificar a ronda escolar, realização de licitação para a instalação de câmeras de monitoramento em todas as escolas municipais e promoção da cultura da paz nas atividades escolares.
ITATIBA
Adoção do Botão do Pânico, aumento do patrulhamento escolar e a colocação, a partir de quarta-feira (12), de um guarda municipal no interior de cada escola da Prefeitura.
JAGUARIÚNA
Ampliação da ronda escolar, adoção Dio Botão do Pânico, treinamento dos professores e demais profissionais da educação para identificar comportamentos estranhos e elaboração de projeto de lei para adoção da atividade delegada, com uso de policiais militares de folga na segurança das escolas.
MONTE MOR
Implantação de um sistema inteligente de monitoramento de câmeras compartilhadas, adoção do Botão do Pânico e intensificação do patrulhamento nas escolas.
NOVA ODESSA
Elaboração de projeto de lei para implantação da atividade delegada, videomonitoramento e ampliação das rondas escolares.
PAULÍNIA
Reforço do patrulhamento, adoção de Botão do Pânico, monitoramento das redes sociais, introdução do videomonitoramento e criação de grupo de trabalho para implantação de novas medidas preventivas.
SANTA BÁRBARA D´OESTE
Vistoria em todas as escolas municipais para elaboração de laudos que apontarão possíveis ações destinadas à segurança, criação do Botão do Pânico e treinamento dos funcionários para identificar eventos suspeitos.
SUMARÉ
Instalação de câmeras com reconhecimento facial nas 39 escolas municipais, intensificação do controle de acesso nas unidades, ampliação das rondas escolares e combate às fake news nas redes sociais.
VALINHOS
Instalação de câmeras integradas ao Centro de Operações e Inteligência (COI) da Guarda Civil Municipal, treinamentos e simulados para situações de emergência nas instituições de ensino, avaliação do uso de fechaduras que abrem pelo lado de dentro das salas, presença de guardas civis nas escolas municipais por uma semana, estudo para contratação de vigilantes e colocação de detector de metais.
VINHEDO
Reforço do patrulhamento na entrada das escolas e creches municipais, implantação das câmeras de segurança e adoção do Botão do Pânico.