DIREÇÃO SEGURA

Lei Seca não elimina mortes no trânsito por consumo de álcool ao volante

No ano passado, 34 pessoas perderam a vida em acidentes provocados por motoristas embriagados em Campinas

Bianca Velloso/ bianca.velloso@rac.com.br
22/06/2023 às 09:11.
Atualizado em 22/06/2023 às 09:11
O Detran São Paulo promove em todo o estado blitz da Operação Direção Segura Integrada visando reduzir e prevenir os acidentes de trânsito causados pelo consumo de bebida alcoólica combinado com direção (Detran)

O Detran São Paulo promove em todo o estado blitz da Operação Direção Segura Integrada visando reduzir e prevenir os acidentes de trânsito causados pelo consumo de bebida alcoólica combinado com direção (Detran)

Decorridos 15 anos da promulgação da Lei Seca, Campinas ainda amarga mortes no trânsito devido a uma combinação perigosa envolvendo bebida alcoólica e direção. Mesmo com as mudanças que endureceram as punições para quem é pego embriagado ao volante, 34 pessoas perderam suas vidas em acidentes provocados por motoristas bêbados no ano passado. Essa triste constatação é da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), após as autoridades de trânsito da cidade analisarem 62 sinistros com resultados fatais. Em cinco anos, o aumento de óbitos foi de 35%, dado que 22 pessoas morreram em 2018 em acidentes envolvendo o consumo de álcool.

A atribuição da alcoolemia, quantidade de álcool que está presente no sangue, é feita com base em informações do Boletim de Ocorrência da Polícia Civil e do Instituto Médico Legal. O professor Creso de Franco Peixoto, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disse que nenhuma morte no trânsito é aceitável.

“Entra uma questão de caráter filosófico, (o número) sempre será alto. Se perguntarmos qual é o número que possa se entender admissível [...]é claro que o número admissível é zero”. Durante a pandemia de covid-19 houve uma redução. Em 2020 e 2021 foram registradas 38 mortes, 19 em cada ano, que tiveram como agente causador o álcool. O professor Creso Peixoto avaliou que essa queda foi ocasionada pela baixa circulação de veículos nas vias, em função do isolamento social adotado no período. “Se o volume de tráfego reduzir, é claro que o número de acidentes, mortos e feridos vai diminuir. Porque o que importa é saber se o motorista evoluiu na capacidade de guiar e entender que ele tem que fazer sua direção mais segura. Portanto, a pandemia reduziu o tráfego e naturalmente reduziu a série total. Mas não quer dizer que houve uma melhoria na qualidade de dirigir”.

Com relação às medidas de combate que podem ser adotadas para zerar essas mortes, Peixoto disse que as leis são importantes e que devem ser mais amplas. “Leis no trânsito, que estabeleçam regras bem claras e de efetiva minimização do álcool, colaboram. Na realidade, nós teríamos que ter inclusive uma lei mais ampla, que desse equipamentos de avaliação mais frequentes”, sugeriu.

Atualmente, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), dirigir um veículo sob influência de álcool é caracterizada uma infração gravíssima, multiplicada por 10, ou seja, a multa é 10 vezes maior para uma infração gravíssima, totalizando uma penalização no valor de R$ 2.934,70. Além da suspensão da habilitação por 12 meses e retenção do veículo. Se o teor alcoólico for igual ou maior a 0,3 mg/L, o motorista terá que responder criminalmente e poderá ficar preso de seis meses a três anos. 

Segundo o doutor em engenharia com foco em mobilidade urbana, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, ao consumir álcool, o motorista fica com as reações ao dirigir mais lentas, o que pode levar a impossibilidade de evitar um acidente e até mesmo causar um. “No meu ponto de vista, o fato de não termos tantas blitz com bafômetro atualmente, aumenta o número de pessoas consumindo álcool e dirigindo. Deveríamos ter mais fiscalização para a redução. Além disso, campanhas publicitárias com impacto social devem ser periodicamente veiculadas para desestimular o consumo de álcool e direção”, aconselhou.

Em nota a Emdec destacou o trabalho na Campanha “Beber e dirigir pode matar”, que busca conscientizar os motoristas que o álcool é um dos principais fatores de risco para acidentes. “Além disso, a Emdec realiza operações integradas de fiscalização, juntamente com as forças de segurança (Guarda Municipal, Polícia Militar e Civil) e secretarias municipais”, informou o documento.

O presidente da empresa, Vinicius Riverete, reforça tolerância zero para consumo de bebida alcoólica e direção. "A Lei Seca foi criada para diminuir o número de acidentes de trânsito causados por motoristas alcoolizados. Hoje, 15 anos depois, infelizmente, o álcool ainda é um dos principais fatores de risco para acidentes. A tolerância é zero quando o assunto é o consumo de bebida alcoólica e a direção. Não se trata apenas de evitar a penalidade, mas principalmente ter a consciência de que ao adotarmos comportamentos seguros no trânsito, estamos preservando vidas".

O técnico de produção Nilson Reis, 52 anos, perdeu um amigo de infância em 1995 em um acidente de trânsito. Sebastião Donizeti Firmino foi atropelado por um motorista que estava voltando para casa após participar de um churrasco e ter consumido bebidas alcoólicas. “Era um domingo, 24 de setembro, por volta de 18h30. Ele tinha completado 25 anos uma semana antes”, relembrou Reis.

Sebastião Firmino estava caminhando até uma praça para encontrar um grupo de amigos. Ele estava usando um walkman, dispositivo portátil de leitor de fitas cassetes, com fones auriculares. “Por isso que eu falo que esses fones são perigosos. Ele estava com o foninho caminhando no acostamento, não tinha calçada. O fusca pegou ele de costas”, contou o amigo que acredita que Firmino poderia ter escutado o carro se aproximando, caso estivesse sem os fones no ouvido. O motorista do carro perdeu o controle em uma lombada e atingiu o jovem de 25 anos. Ele fugiu do local sem prestar socorro a Firmino que teve traumatismo craniano e morreu no local.

Nilson Reis disse que dirigir após beber é uma atitude que não vale a pena. “Perdi um amigo querido, que conheci na infância. As pessoas não têm noção da falta que uma pessoa faz. Foi uma morte estúpida”, lamentou. O técnico de produção disse que a morte do amigo dele foi causada por uma pessoa irresponsável. Reis defendeu que os motoristas devem pensar no próximo quando dirigem. “Devem ter em mente a responsabilidade de cuidar da família e dos outros em primeiro lugar”.

O motorista que matou Sebastião não sofreu nenhuma penalização pela morte que causou. “Ele pediu perdão à família. Mas nada repara”. Nilson ainda contou que na época o motorista mentiu dizendo que não prestou socorro porque tinha uma criança no carro. O grupo de amigos de Sebastião foi investigar e encontraram o carro em uma oficina. O mecânico disse que ele estava com mais quatro pessoas e não havia nenhuma criança entre eles.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, dirigir um veículo sob influência de álcool é caracterizada uma infração gravíssima (Kamá Ribeiro)

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, dirigir um veículo sob influência de álcool é caracterizada uma infração gravíssima (Kamá Ribeiro)

BLITZ EM INDAIATUBA

O Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo comandou, no último sábado, dia 17, blitz da Operação Direção Segura Integrada (ODSI) e registrou sete recusas ao teste do bafômetro. A ação do Detran-SP, que tem o objetivo de reduzir e prevenir os acidentes causados pelo consumo de bebida alcoólica combinado com direção, abordou 286 motoristas na avenida Presidente Vargas, com apoio de equipes das polícias Militar, Civil e TécnicoCientífica.

Além da de Indaiatuba, segundo a assessoria de imprensa do órgão estadual, outras12 blitze da Operação Direção Segura Integrada foram realizadas no Estado, com ações também nos municípios de Jales, Penápolis, Cubatão, Mauá, Franca, Ribeirão Preto, Votorantim, Botucatu, Pindamonhangaba, Bauru e na capital paulista.

No total, 8.617 veículos foram abordados, dos quais 34 foram autuados por direção sob influência de álcool. Durante as operações, 218 motoristas se recusaram a fazer o teste do etilômetro. Em Jales, um dos casos gerou autuação por recusa com crime de trânsito, que ocorre quando o condutor se nega a fazer o teste, mas apresenta sinais evidentes de embriaguez, conforme avaliação dos agentes responsáveis pela fiscalização.

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