Produto de empresa francesa teve eficiência de 95,5% na redução de casos graves, enquanto o governo de São Paulo tenta aval para produto elaborado no Butantan
Os estoques de vacina foram reforçados. Nos postos de Rio Preto e Ribeirão, a vacinação foi antecipada para crianças ( Cedoc/RAC)
Entre o final deste ano e o início de 2016, o laboratório francês Sanofi Pasteur deve lançar no Brasil — e em outros países — a vacina contra a dengue. Ela é tetravalente, ou seja, vale para os quatro tipos de vírus da doença. Nos estudos clínicos foram administradas três doses da vacina. O valor ainda não foi estabelecido, nem o modo de operação: se ela estará disponível na rede pública de saúde. A vacina será uma alternativa para o combate à dengue, enquanto a que está sendo desenvolvida pelo governo estadual continua em fase de testes. A previsão, neste caso, é de liberação em 2018. Pedido de liberação Esta semana, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma autorização especial para usar a vacina, que estaria pronta, segundo Alckmin, faltando apenas a fase final de testes. A vacina da instituição privada é feita na França, em fábrica em Neuville-sur-Saône, próximo a Lyon. A capacidade de produção é de 100 milhões de doses por ano. Ela é chamada de vacina de vírus vivo atenuado recombinante. É produzida com a estrutura do vírus vacinal enfraquecido da febre amarela e recoberto por proteínas estruturais dos 4 vírus da dengue, que permitem a resposta do sistema imunológico. O período de teste supera os 20 anos. Um dos estudos de eficácia de fase III da vacina contra a dengue da Sanofi Pasteur, realizado em cinco países da América Latina, incluindo o Brasil, envolveu mais de 20 mil participantes entre crianças e adolescentes, com idade entre 9 e 16 anos e mostrou que a vacina reduziu 60,8% dos casos de dengue na população vacinada, comprovando eficácia contra os 4 sorotipos. Outros benefícios A vacina contra dengue também reduziu de forma significativa os casos graves da doença, em 95,5%, além de reduzir em 80,3% o risco de hospitalizações. Os resultados desse estudo foram publicados no 'The New England Journal of Medicine' e são consistentes com os divulgados no estudo clínico de eficácia de fase III conduzido na Ásia, que avaliou mais de 10 mil crianças entre 2 e 14 anos. Para o infectologista Francisco Aoki, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é natural o processo longo de desenvolvimento de vacinas, uma vez que é preciso verificar a eficiência e riscos do produto. “Seria muito bem-vinda a vacina contra a dengue, mas existe a segurança do procedimento. É preciso testar em humanos, por exemplo, uma fase de investigação”, afirmou. “A eficácia teria que ser averiguada, e a vacina não se desenvolve de uma hora para a outra, sem contar que qualquer procedimento novo terá que ser testado novamente”, disse.Butantan A vacina produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, segundo estudos, estaria disponível, após a fase de teste a partir de 2018. Até lá, terão se passado 12 anos desde que as tratativas para o desenvolvimento da vacina começaram a ser feitas com o National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos. Esse período é devido à fase de testes: são necessários cinco anos para avaliar o desempenho do imunizante no organismo humano. A resposta imunológica nos pacientes precisa ser avaliada anualmente. O Butantan fez parceria com o NIH para chegar à vacina contra a dengue em 2006. Ela é tetravalente, devendo ter ação contra os quatro tipos de vírus da dengue. Os trabalhos usam como referência a vacina similar já desenvolvida pelos Estados Unidos há mais de dez anos. O Butantan já desenvolve vacinas contra outras doenças, como difteria, tétano, hepatite e influenza. A Anvisa informou que ainda não recebeu a solicitação do governador para já usar a vacina.