TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

Ital investirá R$ 12 milhões em centro para desenvolver embalagens sustentáveis

Entre os diferenciais do Centro Avançado de Pesquisa em Economia Circular de Embalagens estão a tentativa de minimizar o uso de materiais sem prejudicar o desempenho e de reduzir as perdas e desperdício de produtos

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
12/11/2024 às 11:07.
Atualizado em 12/11/2024 às 15:07
 (Rodrigo Zanotto)

(Rodrigo Zanotto)

O Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), instalado em Campinas e referência nacional em pesquisas de embalagens, investirá R$ 12,1 milhões na instalação de um Centro Avançado de Pesquisa em Economia Circular de Embalagens (Capece). O diferencial da nova unidade será o direcionamento de esforços para a redução de perdas e desperdício de alimentos e outros produtos de consumo, minimização do uso de materiais sem comprometimento do desempenho, valorização da embalagem no pós-consumo para ampliar a reciclagem e desenvolvimento de materiais de fonte renovável.

A produção de embalagens representa 2,8% da indústria de transformação no país e movimentou R$ 144,4 bilhões no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (Abre). O plástico é o material mais usado na produção dos invólucros, com participação de 33,2%, seguido pelo papelão ondulado (23,4%), metálicas (17,4%), cartolina e papel cartão (9,3%), papel (6%) e vidros (5,4%), com os têxteis e madeiras tendo participação de 2,6% cada.

Segundo a entidade, o setor de alimentos teve a maior contribuição no aumento da produção em 2023, crescimento de 1,7 ponto percentual, com a agropecuária aparecendo em segundo lugar (1,3 pp) e o comércio em terceiro (0,4 pp).

As quatro frentes a serem pesquisadas pelo Capece “têm como pilares a avaliação dos materiais sob o ponto de vista de desempenho e proteção aos produtos acondicionados com foco em economia circular, saúde e segurança do consumidor através da avaliação de conformidade das tecnologias e materiais desenvolvidos”, explicou a pesquisadora do Ital, Fiorella Balardin Hellmeister Dantas, que coordena o projeto ao lado da pesquisadora Marisa Padula. O novo centro buscará a melhoria da performance de embalagens, desenvolvimento de estruturas que possam ser recicladas, avaliação de novos processos e tecnologias de reciclagem e a busca de materiais de fontes renováveis.

MEIO AMBIENTE

Das 81,8 milhões de toneladas de resíduos geradas no país em 2022, último levantamento disponível, apenas cerca de 4% foram destinadas à reciclagem, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Papel e papelão (40,1%) aparecem com a maior taxa de reciclagem, à frente do metal (23,9%), plástico (23,2%), vidro (11,2%) e outros materiais (1,6%). “O lixo, como conhecemos hoje, entrou em cena cerca de 75 anos atrás. Fomos totalmente seduzidos pelo novo conceito de ‘vida descartável’ que nos foi trazido através dos produtos à base de plástico. A descartabilidade era conveniente e barata”, afirmou o engenheiro ambiental Antonio Roberto Szaki. “O que geralmente acontece, entretanto, é as pessoas descartarem as embalagens e produtos inservíveis junto com o lixo comum. Para reverter esse quadro, é necessário que as empresas invistam em estratégias de marketing e conscientização, de modo que seu consumidor entenda a importância de fazer sua parte na logística reversa e reciclagem de materiais”, completou.

O investimento será direcionado principalmente para a aquisição de novos equipamentos para as pesquisas, com a nova unidade usando a parte física disponível do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea). A previsão é que a nova infraestrutura analítica esteja totalmente implementada em 36 meses. O recurso para a criação do Capece foi obtido junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com a linha de crédito sendo voltada para propostas na linha de “Transição Ecológica”. Os novos equipamentos complementarão a infraestrutura já existente do Cetea.

Um exemplo de trabalho em desenvolvimento pelo Ital é um curso de industrialização de palmito em conserva, que inclui muda, hastes, produtos, diferentes tipos de embalagens e segurança microbiológica. O instituto também desenvolve trabalhos nas áreas de manipulação de produtos cárneos, criação de embalagens para facilitar o dia a dia dos consumidores e uso de materiais para a preservação dos princípios ativos dos materiais, pois podem perder suas funcionalidades ao serem misturados com líquidos ou em contato com o oxigênio, além de outros trabalhos.

ECONOMIA

Um estudo divulgado em setembro revelou que uma garrafa PET de água mineral de 500 ml consome 53% menos água em sua produção do que uma lata de alumínio de 350 ml e 86% menos que uma garrafa de vidro de 300 ml. A pesquisa foi realizada em conjunto pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos e a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). O trabalho considerou a emissão de gases do efeito estufa na produção das embalagens; contribuição para a ocorrência de chuva ácida; consumo de água no processo de produção e outros aspectos.

A “Avaliação do Ciclo de Vida de Embalagens PET para Alimentos Líquidos” avaliou toda a cadeia de valor para a produção de uma embalagem. Também conhecido como estudo “do berço ao túmulo”, fez uma análise do impacto ambiental que vai desde a extração da matéria-prima até seu descarte final, passando pela produção, envase, transporte, comercialização e reciclagem pós-consumo. “O projeto representa um marco dentro do cenário brasileiro, tanto por sua abrangência quanto por seu conteúdo técnico. Além disso, traz luz científica ao debate, dando ao mercado as condições necessárias para que escolhas sejam feitas com base em aspectos técnicos e indicadores cientificamente aceitos. Só assim será possível evoluir nas questões ambientais, sem achismos e informações distorcidas, com olhar meramente comercial”, destacou o presidente-executivo da Abipet, Auri Marçon. 

A criação do Capece do Ital ocorre no momento em que a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE) e o Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa) firmaram uma parceria para trabalhar em conjunto na atração de investimentos e no apoio a projetos de economia circular e transição energética.  O acordo assinado prevê a realização de estudos sobre os temas, a troca de informações estratégicas, o mapeamento de oportunidades de negócios e ações para tornar São Paulo um Estado cada vez mais atrativo para projetos de transição energética e economia circular.

“Queremos garantir que o setor privado seja parceiro estratégico do governo estadual nas ações para que São Paulo consiga zerar as emissões de carbono até 2050”, ressaltou a diretora de Estratégia e Inteligência Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (InvestSP), Marília Garcez, órgão ligado à SDE.

“Além disso, em uma economia cada vez mais focada em sustentabilidade, a adoção de melhores práticas é fundamental para tornar as empresas mais competitivas”, complementou. Nos últimos meses, a Secretaria firmou parcerias com diversas empresas e entidades, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Centro de Inovação da Universidade de São Paulo (InovaUSP) e Inesfa, para, junto com o setor produtivo, a sociedade civil e a academia, desenvolver, atrair e apoiar projetos que buscam adotar meios de produção mais sustentáveis.

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