PARCERIA ECOLÓGICA

Iniciativa coloca comunidade à frente de projeto ambiental no São Marcos

Ao lado da Fundação FEAC e da Prefeitura, moradores participam de recuperação ambiental do Córrego da Lagoa e fiscalizam voluntariamente áreas verdes e de lazer já restauradas

Luiz Felipe Leite/luiz.leite@rac.com.br
03/08/2024 às 09:06.
Atualizado em 03/08/2024 às 09:06
A entrega da praça que está sendo cuidada com uma participação relevante dos moradores foi a primeira etapa do projeto de criação do Parque Linear do Córrego da Lagoa; ações são parte do Projeto Desenvolve Amarais, que pretende desenvolver a região formada por bairros importantes da região Norte da cidade (Rodrigo Zanotto)

A entrega da praça que está sendo cuidada com uma participação relevante dos moradores foi a primeira etapa do projeto de criação do Parque Linear do Córrego da Lagoa; ações são parte do Projeto Desenvolve Amarais, que pretende desenvolver a região formada por bairros importantes da região Norte da cidade (Rodrigo Zanotto)

A recuperação ambiental do Córrego da Lagoa, localizado na região do Jardim São Marcos, em Campinas, e de todo o entorno daquela área, é um dos principais objetivos de uma iniciativa que uniu moradores, a Fundação FEAC e a Prefeitura de Campinas. O processo de recuperação passa pela criação do Parque Linear do Córrego da Lagoa. A primeira etapa terminou em abril, com a entrega de uma praça no local. Uma tarefa voluntária surgiu desde então: a fiscalização do espaço por parte dos habitantes dos arredores.

A construção do parque linear e as outras ações fazem parte do Projeto Desenvolve Amarais. A iniciativa visa a promover o desenvolvimento territorial da região dos Amarais, que envolve os bairros Jardim São Marcos, Vila Esperança, Santa Mônica e Jardim Campineiro, todas na zona Norte da cidade. Já o Córrego da Lagoa faz parte da bacia do Ribeirão Quilombo e abrange vários bairros da área de abrangência do projeto da fundação. Todos os custos serão divididos entre a FEAC e a Prefeitura. No caso da Administração Municipal, a contribuição se dará por meio de contrapartidas de empresas que receberam autorizações para empreendimentos imobiliários na cidade. 

Segundo os responsáveis pela proposta, a área do córrego, onde vivem cerca de 20 mil pessoas, passou por várias transformações territoriais, de rural para urbana, nas últimas décadas. A população foi aumentando vertiginosamente, e o processo de urbanização intensificou a degradação ambiental, com efeitos como desaparecimento de lagoas, poluição de riachos e desmatamento. Ainda na avaliação dos especialistas por trás da proposta, é justamente por isso que existe atualmente uma grande necessidade de recuperação de áreas verdes por ali.

MORADORES CUIDAM DE PRAÇA 

Na praça já finalizada e entregue à população, que fica no final da Rua 18, foram colocados brinquedos para as crianças da comunidade, calçamento, bancos, área verde e gramado, além de plantas ornamentais colocadas pelos próprios moradores da região. A comunidade esteve envolvida no projeto desde o início. A população foi consultada se queria uma praça no local, e os moradores até se tornaram fiscais para que, depois de limpo o terreno, as pessoas não mais jogassem entulho e lixo no local. Os moradores também ficam de olho em focos de incêndio, casos de vandalismo etc. 

É o caso de Benedita Rosa Santana e Silva, carinhosamente chamada de “Dona Ditinha”. Moradora do Jardim São Marcos há 48 anos, ela foi uma das lideranças comunitárias à frente da interlocução com os responsáveis pelo projeto. Atualmente ela trabalha com serviços de buffet, mas ela contou como a área do entorno do Córrego da Lagoa estava antes de as intervenções começarem. “Era muito entulho, lixo, mato alto e até focos de incêndio. Além disso, pessoas de fora da região se aproveitavam da falta de estrutura para, por exemplo, venderem drogas. Agora isso tudo parou. Para você ter uma ideia, a Administração Regional da Prefeitura vinha limpar o local várias vezes por mês. Desde abril, eles só precisaram vir aqui uma vez. Todos nós, moradores, ficamos de olho para evitar que tudo isso aconteça. E de forma voluntária”, contou. 

Gino Ferreira Dias é outro morador que está colaborando com o espaço. Ele caminha diariamente pelos arredores e observa se alguma situação fora do comum está acontecendo na praça. Tudo ao lado da esposa, Sandra. “Eu vivo aqui há mais de 40 anos e várias coisas boas já aconteceram depois do início da revitalização dessa área. Não é somente por ela estar cada vez mais bonita, mas também por ser aproveitada pelos moradores. As crianças, por exemplo, brincam por aqui. Os mais velhos usam o espaço para ler, coisas que não aconteciam antes. É tudo muito bonito de se ver, sem dúvidas”, disse. 

A manicure Lucinéia Dias compartilhou uma história familiar sobre o envolvimento dos moradores do entorno com a área do Parque Linear do Córrego da Lagoa. Todos os dias, durante a noite, o marido dela aproveita para regar as plantas e as árvores plantadas pelos próprios habitantes. “Ele fica bravo se encontra lixo por aqui, por exemplo, mas recolhe tudo, rega as plantas. De vez em quando trazemos nossas filhas para brincar. Dá para perceber muitas mudanças boas, até na qualidade do ar. Tomara que isso ajude o córrego a ficar plenamente recuperado.” 

DEBATE E COLABORAÇÃO INTERSETORIAL 

No momento, especialistas estão discutindo junto com a Secretaria Municipal do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas (Seclimas) qual será o modelo de reflorestamento utilizado no Parque Linear do Córrego da Lagoa. A ideia é que mudas frutíferas sejam integradas e que o parque também comporte hortas. A contratação de um plano arquitetônico também está em andamento, sob responsabilidade da Fundação FEAC. A meta é que o projeto seja entregue para a Administração Municipal até o ano que vem para que as demais intervenções no parque sejam feitas. 

Para o diretor-executivo da Fundação FEAC, José Roberto Dalbem, o projeto do Parque Linear do Córrego da Lagoa representa o início de uma colaboração intersetorial para o desenvolvimento socioambiental de Campinas. "O desenvolvimento ambiental é uma parte crucial desse processo, e estamos comprometidos em executar um projeto que traga benefícios reais para a comunidade", afirmou. 

DESENVOLVE AMARAIS 

O Projeto Desenvolve Amarais prevê ações conjuntas para projetos de desenvolvimento territorial, buscando melhorar a qualidade de vida da população local por meio de ações interdisciplinares nas áreas social, econômica e ambiental. Trata-se da sequência de um protocolo de intenções assinado entre a Fundação FEAC e o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), em 27 de abril, para o desenvolvimento territorial da região do projeto. Isso ocorreu no mesmo dia em que a praça do Parque Linear do Córrego da Lagoa foi entregue para a população. 

BENEFÍCIOS 

Para Rafael Moya, gerente de Desenvolvimento Territorial da Fundação FEAC, a ideia é de que as futuras ações envolvam outras secretarias, além da Seclimas, como a de Serviços Públicos e a de Esportes, para a continuidade da transformação da região do Jardim São Marcos, Amarais e adjacências. "Entendemos que o Parque Linear vai além de uma ação ambiental clássica, ele envolve espaços de convivência, áreas para a juventude, questões de saúde do território, desenvolvimento sustentável e qualidade de vida para os moradores”, pontuou. Ainda de acordo com o especialista, a proposta de desenvolvimento territorial da fundação é abrangente e deve ir além, se expandindo para outras áreas do município de Campinas. “Esse piloto regional trará muito aprendizado, possibilitando replicar boas práticas. O desenvolvimento territorial não acontece rapidamente. Um território aprende com o outro, e a ideia de projetos espelhos ajuda a sistematizar o conhecimento, o que é fundamental para a FEAC.” 

PARQUES 

Parques lineares são áreas de lazer e conservação ambiental que se desenvolvem ao longo de corredores naturais ou artificiais, como rios, canais, ferrovias desativadas e estradas. Esses espaços verdes contínuos oferecem diversas funções e benefícios à comunidade. 

Em entrevista concedida ao Correio Popular no último dia 30 de julho, a advogada especialista em Direito Ambiental, presidente da Comissão Municipal de Campinas e integrante da Comissão Estadual de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Renata Franco, comentou sobre a importância dos parques lineares para a cidade. Segundo ela, esses parques são extremamente benéficos. "O que o poder público está fazendo é fomentar a construção desses parques em áreas degradadas de Campinas. Aumentar a área verde é uma meta para a maioria das cidades por diversas razões: drenagem, controle de temperatura e benefícios diretos à população, como mais áreas recreativas. Isso proporciona uma maior interação entre os cidadãos e as áreas verdes, resultando em uma melhora na qualidade de vida", opinou.

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