Campinas fechou junho com dívidas atrasadas que somam R$ 2,6 bilhões; sozinho, município supera valor individual de quatro estados: Tocantins, Amapá, Acre e Roraima (Rodrigo Zanotto)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou em junho a primeira queda no número de inadimplentes em 21 meses. O total de devedores no mês foi de 1,05 milhão de consumidores, redução de 4,18% em comparação ao 1,1 milhão de maio, de acordo com balanço divulgado pela Serasa. A última vez que a empresa havia registrado diminuição no total de devedores na RMC foi em setembro de 2021, quando o número era de 961.011, 1,05% menor do que 971.160 do mês anterior.
A partir de então, o número de devedores entrou em curva ascendente, ultrapassando a marca de 1 milhão de inadimplentes em novembro daquele ano - 1.002.583. Nesse período, o número de devedores ficou estável apenas em janeiro deste ano, quando era de 1,073 milhão, ligeira redução de 0,24% na comparação com 1,076 milhão de dezembro de 2022. Com a queda em junho, o número de consumidores com contas em atraso voltou ao patamar do mesmo mês de 2022.
Além de queda no total de inadimplentes, a RMC registrou em junho deste ano estabilidade no montante das dívidas, que somaram R$ 6,38 bilhões. O valor é 0,16% inferior aos R$ 6,39 bilhões de maio deste ano. Em comparação ao mesmo mês de 2022, quando era de R$ 5,25 bilhões, a alta é de 21,55%, de acordo com a pesquisa mensal realizada pela Serasa. Em junho passado, a soma das dívidas seria suficiente para comprar 91,1 mil carros populares.
COMPARAÇÃO
Em junho, a Região Metropolitana de Campinas seguiu a tendência da inadimplência no país. Nesse mês, o número de devedores no Brasil chegou a 71,45 milhões de consumidores, queda de 0,63%, enquanto o montante foi de R$ 346,3 bilhões, alta de 0,15%.
Apesar da estabilidade no valor em junho, o montante nas 20 cidades que formam a RMC foi maior do que de 11 Estados brasileiros. O valor é 19,92% superior ao do Mato Grosso Sul, onde as dívidas somam R$ 5,31 bilhões, primeira unidade da federação abaixo da Grande Campinas. O total na região é maior do que a soma dos quatro Estados com as menores dívidas registradas pela empresa. Juntos, Tocantins, Amapá, Acre e Roraima somam R$ 5,73 bilhões.
Sozinho, o município de Campinas, que fechou junho com 433.069 inadimplentes e dívidas atrasadas que somam R$ 2,6 bilhões, supera o valor individual desses Estados. Entre essas unidades da federação, o maior valor é em Tocantins, R$ 2,21 bilhões. O Amapá soma R$ 1,48 bilhão. Acre, R$ 1,22 bilhão, e as dívidas em Roraima chegam a R$ 916,8 milhões.
“Este é um momento importante no combate à inadimplência, que nunca foi tão discutida no país”, disse a gerente da Serasa, Aline Maciel, “Por isso, reforçamos nosso propósito de ajudar os brasileiros na retomada da saúde financeira, contando com a união de parceiros para oferecer soluções e oportunidades de renegociação.”
De acordo com o Mapa da Inadimplência da empresa, os três Estados com o maior índice de inadimplência são da região Sudeste. O ranking é liderado por São Paulo, com R$ 92,32 bilhões, seguido pelo Rio de Janeiro (35,44 bilhões) e Minas Gerais (R$ 30,55 bilhões). A lista das cinco unidades de federação com maior volume é completada pelo Paraná (R$ 20,94 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 17,87 bilhões).
O levantamento da Serasa apontou que as dívidas com instituições financeiras (bancos e cartões de crédito) ocupam o primeiro lugar das causas de inadimplências, com participação de 31,13% do total. Depois aparecem as utilities, como são chamadas as contas básicas como água, luz e gás, que representam 22,07%. Uma novidade em junho é que as financeiras ocuparam o terceiro lugar (15,2%). Até maio, essa posição era do varejo, que representavam 11,31% do total.
RENEGOCIAÇÃO
A empresa de análise de crédito tem aproximadamente 49 milhões de ofertas de até R$ 50,00 para incentivar a quitação das dívidas. Os débitos envolvem cerca de 500 empresas parceiras que participam da plataforma Serasa Limpa Nome. Ela oferece descontos e condições especiais de pagamento durante todo o ano, e não mais apenas nos feirões que eram realizados pela empresa.
A empresa também fez parcerias, por algumas das principais instituições financeiras do país, para ser um dos canais de negociações das dívidas que fazem parte da Faixa 2 do programa Desenrola Brasil, do governo federal.
Nesta primeira fase, iniciada em 17 de julho, estão liberadas negociações de dívidas de bancos, como cartões de crédito e cheque especial, inscritas em cadastros de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022, para pessoas físicas com renda mensal de até R$ 20 mil.
Os descontos e condições de pagamento estão disponíveis na plataforma da empresa. O objetivo do governo é reduzir os índices de inadimplência do país, fazer com que esses consumidores voltem a ter condições de obter crédito no comércio e, com isso, aumentar as vendas e incentivar o crescimento econômico do país.
Para saber se há dívidas inseridas no aplicativo ou no site da Serasa, o consumidor precisa fazer um breve cadastro, colocando nome, CPF, data de nascimento e e-mail para validação. Em seguida, já pode acessar o app ou o site e confirmar se tem ofertas com descontos especiais. “Em até 3 minutos, e de maneira gratuita, é possível negociar diretamente pelo aplicativo da Serasa, usufruindo de toda a segurança que nosso ecossistema oferece”, disse Aline Maciel.
A segunda etapa do Desenrola Brasil está prevista pelo governo para se iniciar em setembro. Ela incluirá a chamada Faixa 1, quando poderão aderir os devedores com renda de até dois salários mínimos (R$ 2.640) ou inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), cujas dívidas negativadas não ultrapassem o valor total de R$ 5 mil. Nessa fase Faixa 1 poderão ser renegociadas dívidas bancárias e não bancárias que tenham data de inadimplemento após 1º de janeiro de 2019 e sido inscritas em cadastros de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022.
“O sobrenome é o único ativo do brasileiro. Ficar com ele sujo traz transtornos, inclusive psicológicos”, diz a economista Izis Ferreira.
Porém, como na etapa atual do programa não há teto para a taxa de juros das renegociações, a recomendação é avaliar cuidadosamente a oferta dos bancos para decidir se vale a pena aderir desde já. “Primeiro, eu buscaria a instituição para a qual eu devo e perguntaria o que ela me oferece para renegociar esse valor sem o Desenrola”, disse Izis. “Tentaria propor que eles adiantem as condições para que essa dívida, sujeita a juros, não aumente”, completou a economista.