Pendências financeiras com bancos e cartões de crédito seguem como o principal motivo para o endividamento, com participação de 29,16% do total de dívidas dos inadimplentes; em segundo lugar aparecem as contas básicas de água, luz e gás (21,85%) (Rodrigo Zanotto)
A inadimplência na Região Metropolitana de Campinas (RMC) teve queda de 2,99% em junho, encerrando um ciclo de cinco altas seguidas. No primeiro mês de redução em 2024, o número de consumidores com contas em atraso ficou em 1.124.485, contra o recorde de 1.159.218 de maio, de acordo com balanço divulgado pela Serasa. Para a empresa de análise de crédito, a redução está relacionada à queda do desemprego e ao pagamento da restituição do Imposto de Renda para parte da população. “A injeção de dinheiro no mercado e outros indicadores econômicos, como a redução da taxa de desemprego nos últimos meses, podem continuar influenciando o indicador de forma positiva”, explicou a gerente do Serasa Limpa Nome, Aline Maciel.
A RMC registrou no primeiro semestre deste ano o saldo de 25.134 empregos com carteira registrada, alta de 11,66% em comparação aos 22.510 de igual período de 2023. Os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o resultado de janeiro e junho é o terceiro melhor em quatro anos, inferior apenas aos de 2021 (37.982) e 2022 (34.045), quando o mercado de trabalho estava em fase de recomposição após a onda de demissões em virtude da covid-19.
A salgadeira Erlen Aguiar conseguiu tirar o nome da lista de inadimplentes após renegociar a dívida com um cartão de crédito. “As faturas atrasadas geraram uma bola de neve por causa dos juros”, contou. O crédito rotativo dessa modalidade de pagamento tem a taxa de juros mais alta do país. A praticada pelas principais instituições financeiras estava entre 174,53% e 419,15% ao ano no final do mês passado, de acordo com levantamento feito pelo Banco Central. Já a taxa cobrada pelo cheque especial ficou em no máximo 159,5%.
MUDANÇA NO COMPORTAMENTO
As dificuldades financeiras provocadas pela dívida levou Erlen a mudar o comportamento como consumidora. “Agora tomo muito cuidado, anoto tudo e somente faço compras a prazo se tiver certeza que conseguirei pagar”, disse a salgadeira. O aposentado Hermano Alves Marinho sempre manteve os gastos sob controle e faz apenas compras à vista para evitar a inadimplência. “Estou com 73 anos e até hoje nunca tive uma conta em atraso. Tudo é muito controlado”, afirmou.
De acordo com a Serasa, em junho também houve queda no total da dívida na RMC. O valor ficou em R$ 7,35 bilhões, redução de 3,03% em comparação aos R$ 7,58 bilhões de maio. Ednei Ribeiro de Oliveira é um dos consumidores com dívidas incluídas nesse montante. Ele se aposentou há um ano com um salário mínimo (R$ 1.412) e continua trabalhando como motorista para conseguir cobrir as despesas. “As contas mais velhas já consegui pagar, mas ainda tenho dívidas com cartão de crédito”, explicou.
Edinei Oliveira espera receber os retroativos da aposentadoria para quitar os débitos nos próximos meses. Ele conseguiu o benefício por meio da Justiça, após o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) negar a concessão. Os retroativos, explicou, são referentes à diferença entre o tempo em que já teria direito a se aposentar e a data da sentença judicial.
CAUSAS
As dívidas com bancos e cartões de crédito seguem como o principal motivo para o endividamento, com participação de 29,16% do total de dívidas dos inadimplentes. Em segundo lugar aparecem as contas básicas de água, luz e gás (21,85%), que registraram uma queda em relação ao mês anterior de 1,25 ponto percentual. Em terceiro lugar aparecem as financeiras (17,69%), seguida pelos serviços (11,81%), segundo o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas da empresa de análise de crédito.
Após ser a única cidade da RMC com alta significativa na inadimplência em maio, a situação se inverteu em Campinas. O município fechou junho com 446.806 devedores inscritos, queda de 7,74% em relação aos 484.274 do mês anterior. Foi o terceiro menor mês de número de inadimplentes em 2024 na cidade, superior apenas ao registrado em janeiro (443.563) e fevereiro (445.773). Sumaré também teve uma ligeira redução de 0,99%, com 108.893 devedores no sexto mês do ano.
A queda no total de consumidores com contas em atraso não foi mais acentuada porque as outras 18 cidades da Região Metropolitana tiveram alta na inadimplência em junho. Em comparação com igual mês de 2023, a RMC registrou aumento de 6,33% no número desses consumidores. Em junho do ano passado, eram 1.057.476. Ou seja, 67.009 novos nomes foram incluídos na lista de inadimplentes na Grande Campinas em 12 meses. O número é semelhante à soma da população de duas cidades da Região Metropolitana, Pedreira e Santo Antônio de Posse.
A queda na RMC acompanhou o desempenho nacional. Junho foi o segundo mês consecutivo de redução no total de inadimplentes no país, que foi de 72,5 milhões. O número apresentou uma queda de 0,05% em relação a maio (72,54 milhões). De acordo com a Serasa, os consumidores de 41 a 60 anos formaram o grupo com maior participação entre os devedores (35,1%). Depois aparecem as faixas de 26 a 40 anos (34,1%), acima de 60 anos (18,9%) e até 25 anos (11,9%). Quanto ao gênero, a distribuição se dá de forma equitativa entre mulheres (50,3%) e homens (49,7%),
ENSINO SUPERIOR
A Serasa divulgou que há 6,1 milhões de ofertas disponíveis para dívidas com mais de 59 instituições de todo o Brasil, com descontos de até 95%. A renegociação está aberta para cerca de dois milhões de estudantes, com uma média de três mensalidades em atraso por aluno. A disponibilidade de renegociação dos débitos é para que possam dar continuidade aos estudos no segundo semestre.
De acordo com um levantamento da empresa, 52% dos alunos entrevistados já tiveram de trancar o curso por causa das dívidas com a faculdade – no início do ano, o número era de 49%. Entre os principais motivos para interromper os estudos aparecem o desemprego (27%), priorizar o pagamento de outras contas (22%) e redução de renda (12%). A pesquisa também revela que 90% dos estudantes arcam sozinhos com as despesas do curso, e a maior parte das dívidas atuais figura entre a faixa de R$ 1 mil e R$ 5 mil.
Segundo o levantamento da Serasa, para 42% dos entrevistados o principal objetivo para regularizar as dívidas é poder retornar à faculdade e seguir os estudos. Outros 37% querem limpar o nome e 13% estão mais preocupados em voltar a ter crédito no mercado. “As dívidas podem, inclusive, atrapalhar o rendimento dos estudantes”, analisou Aline Maciel. As ofertas no setor educacional estão disponíveis na maior plataforma de renegociação de dívidas do Brasil, com as condições podendo ser acessadas por meio de aplicativos para smartphones e no site da Serasa.
Esses meios também podem ser usados por outros consumidores interessados em renegociar as dívidas com outros credores. A empresa de análise de crédito divulgou que 1,19 milhão de devedores fecharam acordos em junho para renegociação de contas atrasadas. A repactuação totalizou R$ 8,03 bilhões de desconto concedidos. O valor médio dos acordo fechados ficou em R$ 753,91.