(Divulgação)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) importou em agosto US$ 1,50 bilhão (R$ 8,19 bilhões), o segundo maior valor para o mês em 12 anos, um indicador da continuidade de crescimento da atividade industrial. A opinião é do economista Felipe Macedo, para quem o ciclo de retomada deve se prolongar. “Todos os indicadores apontam para o crescimento da economia brasileira. O PIB (Produto Interno Bruto) está crescendo acima do esperado e a melhor expectativa hoje é algo em torno de 2,5% ao ano até o final do atual governo”, afirmou.
Desde o início da série histórica em 2013, as importações do mês passado foram inferiores apenas ao US$ 1,85 bilhão (R$ 10,10 bilhões) de igual período em 2022, de acordo com os dados Comex Stat, plataforma de balança comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O resultado tem influência no PIB regional, que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos, em função das indústrias serem dependentes de insumos do exterior, com a elevação indicando alta na produção.
O desempenho da RMC reflete um cenário nacional. A produção industrial brasileira teve crescimento de 6,1% em julho em comparação ao mesmo mês de 2023, de acordo com pesquisa mensal divulgada no início de setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostrou que 18 dos 25 ramos pesquisados apontaram expansão, entre eles veículos automotores, produtos de metal, produtos químicos, máquinas e equipamentos, setores fortes na RMC.
As importações da Grande Campinas em agosto foram as maiores de 2024 e representaram uma alta de 2,11% em comparação ao mesmo mês do ano passado, quando foram de US$ 1,47 bilhão (R$ 8,02 bilhões). Já as exportações em agosto somaram US$ 405,64 milhões (R$ 2,21 bilhões). Com isso, o saldo da balança comercial apresentou déficit de US$ 1,09 bilhão (R$ 5,95 bilhões), também o maior valor deste ano.
DÓLAR
O desempenho ocorre em um período onde o dólar está em alta, acendendo um sinal de alerta de pressão sobre a inflação, disse Felipe Macedo. “A cada oscilação da moeda americana, importadores e exportadores são diretamente afetados, mas o cenário atual é de valorização do dólar e desvalorização do real, contribuindo para a alta na rentabilidade das exportações. Por outro lado, a depreciação do real frente ao dólar afeta, principalmente, a inflação e o comércio internacional. Insumos importados, por exemplo, ficam mais caros, aumentando custos de produção, ônus que é comumente repassado aos preços finais”, explicou o economista.
Durante o dia, a moeda norte-americana foi cotada ontem a R$ 5,461, maior valor em 16 meses. Foi inferior apenas aos R$ 5,474 de 21 de julho de 2022. Em 19 de setembro do ano passado, a cotação foi de R$ 4,856, ou seja, o aumento foi de 12,46% em 12 meses. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse, porém, que não haverá impacto na balança comercial do país imediatamente.
Segundo ele, o reflexo do câmbio nas exportações e importações demora no mínimo seis meses para aparecer. “Vai ocorrer somente no ano que vem”, analisou. Isso ocorre porque o ciclo das transações no comércio exterior geralmente é longo. Primeiro, é preciso buscar um comprador e depois vender, produzir e embarcar as mercadorias.
OTIMISMO
Uma empresa especializada em melhoramento genético de sementes, instalada em Campinas, aproveita o momento das exportações para aumentar a presença no mercado internacional. Em conjunto com a unidade da Argentina, ela tem planos para ampliar as vendas para os Estados Unidos, China e Europa. A meta é sair do atual 1,3% de participação em área plantada de soja em território estadunidense para 8% no próximo ano.
“Ter evoluído no mercado brasileiro, em conhecimento, equipe, processos e do ponto de vista financeiro, nos dá capacidade para crescer nos Estados Unidos. O país tem uma área de soja muito interessante, muita pesquisa, muitos players, e entrar no mercado norte-americano significa estar em contato com novas tecnologias”, destacou o diretor de Negócios para a América Latina da multinacional, Santiago de Stefano.
Na China, a empresa trabalha para obter os primeiros registros de variedades de soja e considera esse país ainda pouco explorado. “A presença de multinacionais no país é baixa, as tecnologias são mais controladas por universidades do que por empresas”, detalhou o executivo. A empresa pretender aproveitar a presença no mercado local para expandir as pesquisas. “Em edição gênica, a China está à frente do Brasil”, argumentou De Stefano. A multinacional destina 15% do faturamento anual para investimentos em pesquisa. Ela tem unidades em 15 países, com cerca de 3,4 mil colaboradores.
OUTROS DADOS
Nos oito primeiros meses deste ano, as importações acumuladas da RMC somaram US$ 10,44 bilhões (R$ 57,01 bilhões), apontou o Comex Stat. O montante representou um aumento de 5,66% em relação aos US$ 9,88 bilhões (R$ 53,95 bilhões) de janeiro a agosto de 2023. Já as exportações tiveram queda de 18,73%. Elas atingiram US$ 3,15 bilhões (R$ 17,2 bilhões) em 2024, contra US$ 3,74 bilhões (R$ 20,42 bilhões) no ano passado. Com isso, o déficit da balança comercial até agosto ficou em US$ 7.29 bilhões (R$ 39,81 bilhões), aumento de 18,54% em relação aos US$ 6,15 bilhões (R$ 33,58 bilhões) dos primeiros oito meses de 2023.
Para o economista, a redução das vendas ao exterior está relacionada ao desempenho da economia da China e Argentina, grandes parceiros comerciais do Brasil. Nos últimos 12 meses, as exportações das empresas da Região Metropolitana de Campinas para a Argentina tiveram queda de 20,6%. Apesar disso, o país sul-americano ainda ocupa o segundo lugar na ranking dos principais destinos das vendas ao exterior das empresas regionais, com uma participação de 16,53% do total. A liderança é dos Estados Unidos, com uma representação de 17,99% das exportações, com o México em terceiro lugar (7,56%), seguido da Alemanha (5,25%) e Chile (5,23%).
Já as exportações para a China tiveram aumento de 16,01%, mas o país ocupa o nono lugar entre os principais destinos dos itens produzidos na RMC, participação de 3,81%. Por outro lado, o país asiático é a principal origem das importações da região, participação de 24,13% do total. A segunda posição é dos Estados Unidos (13,9%). Na sequência estão Alemanha (6,74%), Índia (5,05%) e Coreia do Sul (4,47%).
Para o economista Felipe Macedo, a tendência na RMC até o final do ano é que as exportações continuem caindo e as importações aumentando. De acordo os dados do Comex Stat, Campinas é a cidade da região que mais exporta. Em agosto, as empresas instaladas na cidade venderam ao exterior US$ 73,8 milhões (R$ 403,02 milhões), participação de 18,19% do total. Atrás da metrópole estão os municípios de Indaiatuba (US$ 64,33 milhões), Paulínia (US$ 58,7 milhões), Americana (US$ 36,3 milhões) e Vinhedo (US$ 34,76 milhões).
Paulínia, principal polo petroquímico da América Latina, é a cidade da Região Metropolitana que mais importou, com o total de US$ 481,35 milhões (R$ 2,62 bilhões), o equivalente a 32% do total. O ranking ainda lista nas cinco primeiras colocações Campinas (US$ 301,2 milhões), Indaiatuba (US$ 128,38 milhões), Vinhedo (US$ 114,4 milhões) e Hortolândia (US$ 82,7 milhões).
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