O empresário Daniel Ruiz mostra o estrago nas caixas de energia do imóvel: seis meses sem pagar aluguel por conta dos prejuízos (Gustavo Tilio)
Os imóveis desocupados que estão disponíveis para locação e venda vêm sendo o novo alvo de ladrões, em Campinas. Representantes do setor imobiliário apontam para o crescimento dessa modalidade de crime nos últimos meses e apostam em alternativas para proteger os imóveis.
As medidas vão desde a retirada de placas indicativas de venda ou locação até o abono de parcelas do aluguel devido aos reparos necessários após os furtos.
Segundo estima o conselheiro estadual do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) de Campinas, Douglas Vargas, 20% dos imóveis que existem no município estão para locação e, por estarem desocupados, tornam-se potenciais alvos de furtos.
Há dois meses, um imóvel localizado no bairro Taquaral, teve toda a sua fiação e produtos metálicos levados. Para alugar o espaço, foi preciso dar uma carência de seis meses no aluguel ao novo inquilino, que iniciou um processo de revitalização do local. De acordo com Vargas, os prejuízos ultrapassam os R$ 50 mil.
Do endereço foram levados materiais em alumínio que serviam de sustentação para vidraças, torneiras, válvulas, telhas e toda a fiação do quadro de força. Pontas de fio em quadros de energia também foram retiradas.
O empresário Daniel Ruiz, de 37 anos, foi quem alugou o imóvel. Ao Correio Popular, ele contou que, além dos furtos, havia até fezes humanas por lá.
“Toda a parte de vidro estava quebrada. Não tinha parte da vidraça, nem do alumínio que sustentava o vidro. Foram furtadas toda a parte hidráulica e elétrica, além de telhas. Não sobrou um fio. Levaram calhas, caixa d’água. O que eles podiam tirar, eles carregaram, até parte das pedras de granito”, descreveu.
O contrato foi fechado há um mês e, devido à quantidade estragos, Ruiz recebeu seis meses de carência no valor do aluguel. No imóvel, ele pretende instalar um complexo de saúde e estética, com restaurante, academia, barbearia e bronzeamento feminino.
No entanto, mesmo com as reformas e a ocupação do espaço, o empresário ainda teme que o espaço possa voltar a ser invadido. “Vai melhorar, mas não vai acabar [os crimes]. A região ali é passagem de vários ferros-velhos da região. Logo, esse ferro-velhos acabam atraindo a atenção de muitas pessoas que furtam e repassam para esse tipo de negócio em troca do dinheiro. Os receptadores se beneficiam pagando baixíssimos valores. O vizinho ao meu ao lado está tentando colocar fiação, mas foi furtado duas vezes”, lamenta.
De acordo com Vargas, foram sucessivas invasões nesse endereço. Em uma das ocasiões, a Polícia Militar (PM) foi acionada, mas, ao chegar no local, os ladrões já haviam fugido com os materiais.
A maior dificuldade, nesses casos, é a comprovação da origem dos produtos furtados. Isso porque, muitas vezes, eles são trocados por entorpecentes ou vendidos para receptadores rapidamente, o que também faz com que proprietários deixando de notificar a polícia, por meio de um boletim de ocorrência.
Como muitos casos acabam não sendo reportados à polícia, a Creci também não dispõe de levantamento de quantos imóveis já foram alvo de ladrões. “E não tem muito o que se fazer nesta situação”, aponta, sobre a sensação de impotência. “Colocar segurança é inviável. E isso tem atrapalhado o mercado de locação e venda, porque os proprietários começam a ficar com medo de disponibilizar os locais. Já chegaram até a responsabilizar os corretores, culpando-os pela ocorrência dos crimes”, afirma Vargas.
Ele ainda menciona o aumento de pedidos para a retiradas de placas indicando venda ou aluguel, para que não chame a atenção para o fato do imóvel estar desocupado.
A diretora Regional do Sindicato das Empresas de Compra Venda, Imóveis (Secovi), Kelma Camargo, vê com preocupação esse aumento de casos e destaca a necessidade de apoio entre a vizinhança para criação de uma rede capaz de acionar a segurança pública diante de atitudes suspeitas.
No bairro Cambuí, o presidente do Conselho de Segurança (Conseg), Eduardo Cruz, denunciou outros dois furtos a residências na região. De acordo com ele, mesmo com intensificação do policiamento, por meio de duas operações deflagradas na semana passada e na última terça-feira, os casos não diminuíram.
Há cerca de um mês a região sofre com assaltos nas ruas e, segundo Cruz, locais desocupados e estabelecimentos comerciais também passaram a ser alvos.
“Não são só as casas abandonadas. Claro que elas também são invadidas, porém, estabelecimentos comerciais e de serviço, que estão em pleno funcionamento, estão sendo seguidamente assaltados. Digo seguidamente porque existe um caso no Cambuí em que um estabelecimento teve um cano de cobre do ar-condicionado furtado em uma madrugada e, logo depois de consertado, foi furtado novamente. Isso em dois dias seguidos”, relatou.
Apenas na noite de quarta-feira (4), Cruz apontou que dois locais foram furtados. Um deles, uma sorveteria, teve a ação filmada por câmeras de monitoramento.
A reportagem do Correio Popular ainda localizou uma proprietária que instalou cercas de segurança no alto do seu imóvel, depois que residências vizinhas registraram furtos de fiação no mesmo período.
Em relação aos locais desocupados, Cruz solicitou um levantamento para a Polícia Militar e Prefeitura de Campinas sobre o número de imóveis nessa condição para alertar os proprietários. Segundo ele, resposta ainda não foi formalizada, mas o Conselho já tem orientado para que proprietários façam a manutenção dos imóveis, com limpeza das áreas e poda de árvores, para reduzir o risco de criminosos invadirem as construções para furtos ou as usarem como esconderijo, sem serem flagrados por câmeras de segurança, por exemplo.
Na quinta-feira (5), uma blitz da Polícia Militar fiscalizou veículos na Avenida Norte-Sul, no Cambuí. É a terceira ação, desde a semana passada contra a criminalidade na região.