Plantação de uvas na belíssima Vinícola Micheletto em Louveira: atualmente 97% da área vitícola do município ainda é dominada pela tradicional variedade de mesa Niágara Rosada (IAC/Louveira)
Louveira deu mais um passo para a consolidação do município como polo produtor de uvas de qualidade e vinhos finos. O Centro de Frutas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - por meio da parceria da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo com a Prefeitura de Louveira - iniciou neste mês um projeto de viticultura sustentável para desenvolver cultivares de uvas italianas resistentes a fungos na produção de vinhos finos, com a aplicação em campo de pesquisas e tecnologias do IAC.
A medida vai proporcionar um salto de qualidade na produção de vinhos finos, que ganha a cada ano um capítulo de expansão e reconhecimento de Louveira nesse setor.
Daniel Micheletto, engenheiro agrícola da Divisão de Agricultura do município de Louveira, disse que a expectativa é a de dobrar a capacidade de produção e a qualidade das uvas, com a introdução de pelo menos uma variedade tinta e outra branca, gerando empregos e ampliando a atividade que evolui a cada ano. "Pelo menos duas variedades deverão se adaptar e ser incorporadas, juntando-se às outras de uvas em teste, como as americanas, européias e híbridas, tanto para mesa, como para suco, vinho comum e vinho fino", explicou. "As pesquisas vão possibilitar uma importante diversificação vitícola, contribuindo para a sustentabilidade econômica da tradicional atividade de Louveira.
Os experimentos previstos deverão beneficiar pequenos e grandes viticultores para a produção de vinhos finos, que atualmente já são bem-sucedidos no mercado com os produzidos com variedades de uvas francesas. Os estudos com o IAC focam na utilização de variedades italianas, que é uma demanda da região. "A formalização dessa parceria, sugerida e patrocinada pelo município junto ao IAC, visando ao estudo de variedades italianas, tem relação com dois objetivos principais: a busca por variedades mais resistentes a fungos- principalmente o míldio - e a introdução de variedades ligadas à cultura dos colonizadores da região, que devem agregar muito à questão turística rural local", disse Micheletto.
Atualmente 97% da área vitícola louveirense ainda é dominada pela tradicional variedade de mesa Niágara Rosada. Por volta de 2008, a tecnologia de dupla poda e colheita de inverno para variedades de uvas européias mostrou-se viável e vem se expandindo no Sudeste brasileiro, com a produção de vinhos de excelente qualidade e já premiados em âmbito internacional. Mas hoje, por uma série de coincidências, as principais variedades cultivadas com esse objetivo são de origem francesa, principalmente syrah, cabernet franc e sauvignon blanc.
IAC
José Luiz Hernandes, pesquisador do IAC, explicou que o Centro de Frutas, com área de pesquisa em Jundiaí, vai avaliar cultivares de uva italianas resistentes às doenças por meio de novos materiais genéticos. A expectativa é a de reduzir os gastos com defensivos, economizando, consequentemente, mão de obra, combustível, água e equipamentos. "São resultados que minimizam o impacto ambiental da viticultura e os riscos à saúde de agricultores e consumidores", esclareceu.
O propósito do melhoramento genético é reunir numa só planta a qualidade das viníferas e a resistência às doenças das plantas selvagens, permitindo a produção de vinhos finos com menores custos e impactos ambientais. "A proposta envolve dois experimentos no Centro de Frutas do IAC. No primeiro, serão avaliados o desempenho agronômico e a adaptabilidade de cinco cultivares tintas de uvas comerciais italianas, chamadas: Montepulciano, Sagrantino, Rebo, Negro Amaro e Primitivo, além de uma francesa, Marselan, usada nos comparativos", explicou. "Esses materiais serão enxertados em três porta-enxertos, sendo dois do Instituto Agronômico - IAC 572 Jales e IAC 571-6 Jundiaí -, e o Paulsen 1103", afirmou.
Nesta parceira pela viticultura de Louveira, o IAC oferece os protocolos de pesquisa e o acesso a esses novos materiais genéticos, enquanto a prefeitura vai apoiar as ações de pesquisa e difusão de tecnologia. Hernandes ressaltou que a vinda dessas novas cultivares de uva italianas envolve a introdução desses materiais, respeitando-se as normas de defesa sanitária, que compreendem quarentena e biossegurança, além de negociações com as instituições detentoras dos direitos de cada material.
No segundo experimento, serão avaliadas cultivares de uva PIWI (Pilz widerstandsfähig), que significa resistente a fungos, em alemão, e, por isso mesmo podem ser cultivadas com menor uso de fungicidas. Essas cultivares serão adotadas em condição de dupla poda. Duas cultivares de uvas brancas e duas tintas, chamadas Sauvignon Kretos, Sauvignon Nepis, Merlot Kanthus e Pinot Kors serão estudadas .
"Com as uvas "PIWI" é possível produzir com quase nada de defensivos. Este material é quase desconhecido no Brasil. Agora é que estão começando trabalhos de pesquisa com PIWI nos estados de Santa Catarina e São Paulo", comentou Teixeira. Ele esclarece que, normalmente, as uvas para vinho exigem muitos tratamentos químicos para o controle de doenças. Essa condição traz impacto ambiental, aumento de custos e eleva o risco à saúde dos agricultores. As PIWIs são cultivares de uvas obtidas pelo melhoramento genético, oriundas de cruzamentos de variedades viníferas com espécies selvagens. "Esses materiais vão viabilizar a produção de uvas com o mínimo de defensivos agrícolas e a elaboração de vinhos de qualidade no município", ressaltou.