Internada em hospital veterinário, a cadelinha Savana sofreu fraturas completas na cabeça, no maxilar, na mandíbula superior e no pulmão (Alessandro Torres)
A polícia prendeu uma pessoa em situação de rua que agrediu uma cachorrinha na madrugada do último domingo, dia 14, na Avenida Moraes Salles, em Campinas, próximo ao Colégio Sagrado Coração de Jesus, no bairro Nova Campinas. O homem foi preso na quinta-feira (18) por furto e foi indiciado não apenas por esse crime, mas também pelo ataque à cadelinha de apenas seis meses. Emerson Nogueira, de 33 anos, foi primeiramente encaminhado ao 13º Distrito Policial da cidade. Depois, foi para o 2º DP, onde foi encarcerado. Nogueira passou por audiência de custódia, mas em virtude da agressão ao animal e do cometimento anterior de outros crimes, ele não foi liberado e está preso preventivamente.
A instrutora de voo Thais Cortina, que participa do projeto Patas que Voam, rede de apoio para ONG’s e pessoas que resgatam animais, foi quem achou a cadelinha. Ela contou que caminhava pela Avenida Moraes Salles por volta das 11h30 do último domingo, dia 14, e da calçada notou a cachorrinha caída. Thais foi até um rapaz que trabalha em frente ao local e perguntou se ele sabia de algo. Ele disse que uma companheira de trabalho viu Savana (nome dado por Thais à cadela) ao chegar no local, mas que não soube o que fazer.
Thais disse que naquele momento Savana já estava com hipotermia. Ao ver a situação, foi a um hospital veterinário com a cachorrinha. Na chegada, o alarme de emergência foi acionado e “uns quatro veterinários foram atendê-la e eu fiquei esperando. Perguntaram sobre o histórico dela, e eu expliquei o que havia acontecido. Na segunda pela manhã, meu amigo e eu voltamos para perguntar aos funcionários do bar se havia câmeras no local. Na terça à noite, nos passaram as gravações realizadas. Foi quando nós vimos o morador de rua agredindo Savana”.
No momento, Savana está internada há cinco dias na UTI do Hospital Veterinário Nova Campinas (HVNC). Foram detectadas fraturas completas na cabeça, no maxilar, na mandíbula superior e no pulmão. De acordo com Rita de Cássia Marinello Bisco, fundadora e diretora do Hospital, Savana chegou desacordada, com os membros gelados e sangramento nasal. Ela explicou ainda que, a princípio, acreditava-se que a cachorrinha havia sido atropelada, uma vez que a radiografia indicou duas fraturas cranianas (por trauma) e o ultrassom detectou uma contusão pulmonar.
A instrutora que resgatou Savana revelou que o quadro é tão grave que ela pensou que a cadelinha não sobreviveria na madrugada de quarta para quinta-feira. “Não é possível tirá-la da UTI e a diária é de R$1.800, sem contar os exames necessários. A dívida da Patas que Voam com o hospital já chega a R$15 mil, fora aquilo que já foi pago. Eu estou entrando em contato com alguns blogueiros para que eles postem algo a fim de arrecadar doações para ajudarmos a Savana. Temos conseguido muita ajuda, mas não chegamos a 1/3 do valor necessário”, lamentou.
A diretora do HVNC comentou que o estado atual de Savana ainda é crítico, mas que ela está sendo assistida por intensivistas 24 horas por dia. "Tudo está sendo feito por ela, estamos dando todo o suporte necessário. No entanto,não sabemos ainda o que as violentas lesões causaram de dano em seu cérebro e pulmão, que foram as regiões mais afetadas, pois ela é uma filhote de, no máximo, seis meses. Ela precisará de tempo para responder aos tratamentos.”
PATAS QUE VOAM
O projeto Patas que Voam se intitula como uma “corrente do bem, formada por comissários, com o intuito de ser uma rede de apoio para ONG’s e pessoas que resgatam animais”. Thais disse que o projeto existe há cerca de um ano e surgiu em virtude do grande abandono de animais domésticos nas redondezas do Aeroporto de Viracopos.
“O Valdiney Santana, que é comissário de voo e fundador do projeto, decidiu ajudar socorrendo sozinho os animais, mas por ser muito difícil, ele decidiu, a época, agrupar alguns voluntários, todos comissários. Atualmente, nós somos seis. Infelizmente, o projeto não tem sede ou um abrigo pra colocar os animais. Quando há um caso sério, nós não temos onde abrigá-los. E pela dificuldade de arranjar um lar para aqueles que são resgatados e tratados, lares temporários são pagos pelo projeto. O Valdiney mesmo já chegou a ficar com um cão por não ter quem o adotasse. Foi um pinscher, que havia levado um chute no rosto e quebrou todo o maxilar, que teve de ser retirado. Ele ficou quatro meses internado e a conta do hospital ficou em R$20 mil, mas o projeto bancou tudo com doações de amigos e seguidores do Patas que Voam”, relembrou. Thais acrescentou que o grupo está recebendo doações para ajudar a custear o tratamento de Savana.
AUMENTO DE DENÚNCIAS
Rodrigo Lima, embaixador do movimento Cadeia para Maus-Tratos, que busca sensibilizar a sociedade sobre a importância da proteção animal e o impacto negativo que os eles têm sobre os animais e as pessoas como um todo, acredita que em decorrência do crescimento da cobertura midiática de casos como o de Savana, a tendência é que o número de denúncias aumente cada vez mais. Ele ressaltou, contudo, que grande parte dessas denúncias são realizadas sem nenhum tipo de prova, o que explica a baixa resolução dos casos. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo revelou que em 2024 apenas 10% dos casos foram solucionados.
Sobre a punição a quem comete estes atos, o embaixador explicou que, em geral, os agressores ficam “um ou dois dias presos até a audiência de custódia e acabam sendo liberados, mas existem casos emblemáticos, como o de um rapaz que atropelou um cachorro de forma deliberada e que retornou com o carro para fazê-lo novamente. Ele ficou preso por bastante tempo”.
Por fim, Lima analisou o que pode ser feito para melhorar o quadro atual. Para ele, uma opção seria o desenvolvimento de parceria entre as prefeituras e o governo estadual, uma vez que a dificuldade de obter provas é altamente corriqueira, para ensinar boas práticas aos tutores de animais. Ele completou dizendo que “com isso, esse número com certeza baixaria muito. As denúncias de crimes de maus-tratos, muitas das vezes, acontece porque os tutores dos animais sofrem de falta de conscientização no trato com eles, o que poderia ser evitado com educação.”
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