Em Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde informa que todos os imunizantes previstos no Calendário Nacional de Vacinação estão disponíveis nas unidades básicas (Rodrigo Zanotto)
Em pelo menos nove das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), há confirmações de desabastecimento de vacinas na rede pública de saúde. Algumas vacinas foram substituídas por outras com efeitos similares. Segundo levantamento exclusivo do Correio Popular, realizado entre quinta-feira (17) e sexta-feira (18), faltam imunizantes contra a Covid-19 em Cosmópolis, Monte Mor, Hortolândia e Artur Nogueira. Em Monte Mor e Holambra, também há falta das vacinas Varicela (reforço contra catapora em crianças de 4 anos), Meningocócica C (contra meningite e meningococemia) e DTP (contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B).
Em Santa Bárbara d'Oeste, foi confirmado o desabastecimento parcial e/ou total das vacinas Tríplice Acelular (DTPa), HPV, Hepatite A, Meningocócica C e Meningocócica ACWY. Santo Antonio de Posse enfrenta desabastecimento das vacinas DTP, Varicela e Meningocócica Conjugada C, enquanto em Americana faltam as vacinas Varicela, DTP para Tétano, Difteria e Coqueluche, e Meningite C. A Prefeitura de Morungaba também reporta falta de vacinas, mas não especificou quais.
Por outro lado, em Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde informa que todos os imunizantes previstos no Calendário Nacional de Vacinação estão disponíveis nas unidades básicas. As administrações das outras 10 cidades da RMC (Engenheiro Coelho, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Sumaré, Valinhos e Vinhedo) não responderam até o fechamento desta reportagem.
REFLEXO
A situação na região de Campinas é um reflexo do que está acontecendo ao nível nacional. Segundo um estudo divulgado em outubro pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), há falta de vacinas em 1.563 municípios, 64,7% do total de 2.415 que participaram do levantamento. Os nomes das cidades consultadas na pesquisa não foram divulgados.
Produzido de 2 a 11 de setembro, o estudo apontou que o imunizante Varicela não consta nos estoques de 1.210 cidades. Em seguida, há a ausência da vacina contra a Covid-19 para crianças e a vacina Meningocócica C, que protege da meningite.
Das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas, 11 participaram deste estudo. E em seis delas foram confirmadas a ausência de algum tipo de imunizante. A vacina que está mais em falta na RMC, no apontamento da Confederação Nacional dos Municípios, é contra a Varicela (6 cidades), seguida pela Meningogócica C (5 cidades). Os seguintes imunizantes também estão em situação de desabastecimento: Tetra viral (Sarampo, caxumba, rubéola e varicela - 3 cidades), Covid Criança (inativada XBB laboratório Moderna - 3 cidades), DTP (3 cidades), Dengue (Qdenga - 1 cidade), Pneumocócica 23-valente (1 cidade), BCG (1 cidade), Covid Adulto (1 cidade) e Meningocócica ACWY (1 cidade).
ALERTA
Raquel Stucchi, infectologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, lamentou a situação. "Esse desabastecimento de vacinas já tem alguns dias, é algo muito grave. Porque nós até comemoramos recentemente o aumento da cobertura vacinal, mas se a gente não tiver vacina para oferecer nos postos, voltaremos a ter uma queda da cobertura vacinal e aumentar o risco do surgimento das doenças prevenidas por vacinas. É realmente algo muito grave e que não era esperado. Não sabemos se é falta de planejamento do Ministério da Saúde, que faz as compras, se as vacinas foram encaminhadas e estão retidas nas secretarias estaduais de Saúde", explicou.
A enfermeira e coordenadora do Centro de Saúde da Vila Ipê, em Campinas, Eliana Petoilho, comentou que algumas vacinas, como a Varicela, estão sendo fabricadas em menores quantidades devido à falta de matéria-prima em escala mundial. "Então acontece um problema no fornecimento da matéria-prima. E aí as produções não são feitas em larga escala, dificultando a aquisição por parte do Governo Federal. Por sua vez, os estados recebem poucos imunizantes e distribuem menos aos municípios. É um problema que afeta toda a cadeia de distribuição de vacinação. E isso força os gestores a aplicarem medidas como priorização de pessoas a receberem as doses, etc."
A vendedora Dayana Leite de Piza, grávida de 36 semanas, recebeu ontem, dia 18, uma dose de vacina contra a gripe. Ela esteve acompanhada no CS da Vila Ipê pelo filho Gabriel (Ele recebeu uma dose da HPV) e da avó, Antônia, imunizada contra a gripe e a Covid-19. Questionada sobre a importância da imunização, ela respondeu ser um hábito levado a sério por toda a família. "Nem penso na possibilidade de alguma vacina ficar em falta. Espero que isso não aconteça aqui em Campinas", afirmou.
SOLUÇÕES
A Prefeitura de Santo Antonio de Posse afirmou que as vacinas DTP, Varicela e Meningocócica Conjugada C estão em falta há 3 meses. No entanto, elas estão sendo substituídas por outras até com maior cobertura, sendo a DTP pela Pentavalente, a Varicela pela Tetra viral e a Meningocócica pela ACWY. Já a de Americana informou que considerando os três imunizantes em falta, o atendimento encontra-se suspenso apenas contra a Varicela, considerando que a DTP vem sendo substituída pela Pentavalente e a Meningite C está sendo trocada pela Meningocócica ACWY, com o desabastecimento de forma geral acontecendo desde o último mês de junho.
A Prefeitura de Santa Bárbara d'Oeste divulgou que no momento algumas vacinas estão com recebimento parcial ou não contemplado, como a Tríplice Acelular (DTPa); HPV; Hepatite A; Meningo C e a ACWY. A média sem elas varia de acordo com cada imunizante, mas no geral fica em 45 dias, resultando no trabalho da otimização dos frascos de vacina, em alguns casos concentrando a aplicação dos imunizantes em horários e pontos estratégicos. Já em Cosmópolis, a vacina contra a Covid XBB, fornecida pelo Estado, entrou em desabastecimento ontem, dia 18, sendo que a última remessa foi recebida no último dia 24 de setembro.
Segundo a Prefeitura de Monte Mor, os imunizantes em falta na rede municipal de saúde são a Covid Multidose, utilizada em menores de 12 anos; e as vacinas Varicela, Meningo C e DTP, que, por recomendação da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, estão sendo substituídas pela Tetraviral (para Varicela), Meningo ACWY (para Meningo C) e Pentavalente (para DTP). A vacina Varicela está em falta desde janeiro de 2024 e as demais há dois meses. A Prefeitura de Hortolândia informou que, no momento, há falta apenas das vacinas contra Covid-19 infantil e adulto. Em Morungaba há falta de algumas vacinas, com cobranças ao Governo do Estado para que a distribuição delas seja regularizada quanto antes.
Conforme a Prefeitura de Holambra, estão em falta as vacinas contra a Varicela, Meningite C e DTP (difteria, tétano e coqueluche). Elas estão, no momento, sendo substituídas pelos imunizantes Tetraviral e Meningite ACWY. Já em Artur Nogueira, o único imunizante em falta na rede de saúde municipal é a vacina contra a Covid-19. Nos casos de outros imunizantes, estão sendo utilizados substitutos disponíveis, como a vacina Meningocócica ACWY no lugar da Meningocócica C, e a Tetra no lugar da Varicela.
Por fim, a Prefeitura de Campinas informou que o estoque de imunizantes na cidade é dinâmico e em alguns casos, como as vacinas contra Varicela e Meningocócica C, ele pode ser limitado em virtude da espera para entrega de nova remessa. Entretanto, o próprio Ministério da Saúde tem destinado outros imunizantes equivalentes aos municípios para substituição. A vacina Tetraviral contempla caxumba, sarampo, rubéola e varicela, enquanto a ACWY também protege contra a meningite bacteriana. Em alguns casos, a Secretaria de Saúde de Campinas também trabalha pontualmente com remanejamento de doses entre as unidades básicas ou, quando possível, orienta o morador a buscar pelo centro de saúde mais próximo caso haja facilidade de deslocamento.
O Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo respondeu que os municípios podem substituir a vacina da Varicela pela Tetraviral; a Meningo C, pela Meningo AWWY; e a DTP, pela Pentavalente. Com relação à vacina da Covid-19, o CVE aguarda envio do Ministério da Saúde.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde negou que exista uma falta generalizada de vacinas no Brasil e que mantém envios regulares de imunizantes aos estados, responsáveis por abastecer os municípios. A pasta informou que foram compradas 2,7 milhões de doses da vacina Varicela via Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/ OMS), com 150 mil previstas para serem entregues em novembro. A aquisição regular está em processo de finalização, com previsão de regularização para o primeiro semestre de 2025.
Já em relação à Covid-19, o Ministério da Saúde informou que recebeu em 4 de outubro mais de 1,2 milhão de doses para regularizar os estoques de vacinação infantil, com entregas previstas para as próximas semanas. Por fim, a pasta afirmou que a orientação para as regiões que registrarem falta da vacina Meningo C é que seja utilizada a Meningo ACWY no lugar, que possui a mesma eficácia.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram