NA RMC

Exportações superam marca dos US$ 5 bi pelo segundo ano

Indústrias alcançaram o segundo melhor desempenho em vendas ao exterior

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
20/12/2023 às 08:47.
Atualizado em 20/12/2023 às 08:47
Representantes da indústria de autopeças na Região Metropolitana reforçam a importância de o Brasil não se isolar economicamente e se tornar também um país exportador (Divulgação)

Representantes da indústria de autopeças na Região Metropolitana reforçam a importância de o Brasil não se isolar economicamente e se tornar também um país exportador (Divulgação)

As exportações das empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) alcançaram o segundo melhor desempenho em um intervalo de 11 anos, totalizando US$ 5,04 bilhões (R$ 24,6 bilhões) no acumulado de janeiro a novembro. Este feito representa o segundo ano consecutivo em que as vendas ao exterior superaram a marca dos US$ 5 bilhões, conforme apontado pelo estudo mensal da balança comercial divulgado pelo Observatório PUC-Campinas. Em 2023, o resultado ficou abaixo apenas dos US$ 5,17 bilhões (R$ 25,27 bilhões) registrados nos 11 primeiros meses de 2022.

O levantamento foi realizado com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Quanto às importações acumuladas neste ano, atingiram US$ 13,59 bilhões (R$ 66,42 bilhões), representando o segundo ano consecutivo de redução. Esse montante reflete uma queda de 20,2% em relação aos US$ 17,05 bilhões (R$ 83,34 bilhões) registrados no mesmo período de 2022. Comparando com 2021, quando o valor alcançou US$ 13,83 bilhões (R$ 67,6 bilhões), a redução é de 1,74%.

Segundo o economista Paulo Ricardo da Silva Oliveira, pesquisador do Observatório PUC-Campinas e responsável pelo estudo, o desempenho das importações reflete a situação da indústria regional, que enfrentou um período de estagnação ao longo deste ano, acompanhando a tendência nacional. "A indústria de transformação andou de lado, como nós economistas gostamos de dizer", afirmou.

O pesquisador destacou que as empresas regionais atuam como importadoras de matérias-primas e itens necessários para a fabricação de seus produtos, e a queda nas importações evidencia a redução da atividade industrial. "Os problemas estruturais do déficit comercial regional são causados pela dependência das importações de insumos externos", disse ele, que também é professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.

Com isso, o saldo comercial na RMC entre janeiro e novembro deste ano apresentou um déficit de US$ 8,56 bilhões (R$ 41,84 bilhões), retornando essencialmente ao nível de 2019, último ano antes da pandemia de covid-19, quando o déficit foi de US$ 8,35 bilhões (R$ 40,81 bilhões). Em contraste, em 2022, a diferença entre exportações e importações nos primeiros 11 meses permaneceu no vermelho, totalizando US$ 11,86 bilhões (R$ 57,97 bilhões).

RESULTADO

Uma fabricante de autopeças, com três unidades na RMC - Campinas, Sumaré e Engenheiro Coelho - e uma quarta em Limeira, está direcionando seus esforços para as exportações como estratégia para impulsionar suas vendas. O presidente da empresa para a América do Sul, Carlos Delich, enfatiza a importância de o Brasil não se isolar economicamente e se tornar também um país exportador. Atualmente, aproximadamente 45% das exportações da filial brasileira têm como destino a Europa, seguida pela América do Sul com 27,9%, América do Norte com 22,1%, e Ásia e Pacífico com 3,8%.

As instalações na região funcionam como uma plataforma de exportação, com a empresa almejando ampliar a variedade de produtos destinados ao mercado internacional. Nos últimos anos, a empresa diversificou sua produção, incorporando a fabricação de sistemas de direção elétrica e outros componentes automotivos voltados para os Estados Unidos, México e China. No Brasil, a multinacional mantém outras quatro unidades, todas no Estado de São Paulo: Araraquara, Itu, Sorocaba e São Bernardo do Campo.

Apesar de uma queda de 6,01% em comparação com o mesmo período do ano anterior, as exportações de novembro representaram o segundo melhor desempenho da RMC em 11 anos. O montante das vendas ao exterior atingiu US$ 420,79 milhões (R$ 2,05 bilhões), comparado aos US$ 447,71 milhões (R$ 2,18 bilhões) registrados no mesmo mês de 2022, o melhor resultado desde 2013.

Em novembro, as exportações atingiram a menor participação no volume total do Estado de São Paulo em 11 anos. No último mês, as vendas ao exterior da Grande Campinas representaram 6,43% do total paulista, em comparação com a participação de 7,26% registrada em novembro de 2022. O ápice nos últimos 11 anos foi observado em novembro de 2017, quando a participação atingiu 8,74%, embora o valor absoluto fosse inferior - US$ 391,71 milhões (R$ 1,91 bilhão).

Segundo análise do economista Paulo Ricardo Oliveira, a redução da participação regional está relacionada ao crescimento das exportações de produtos agropecuários no conjunto do Estado. Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, indicam que o setor agropecuário paulista exportou US$ 27,8 bilhões (R$ 135,88 bilhões) entre janeiro e agosto deste ano, representando um aumento de 6,9% em comparação ao mesmo período de 2022.

Com esse desempenho, as exportações do setor agropecuário alcançaram uma participação recorde de 39,1% no total das exportações do Estado. Em comparação com o agronegócio nacional, essa participação foi de 15,8%, refletindo um incremento de 0,2 ponto percentual de janeiro a agosto de 2022. Nos primeiros oito meses deste ano, os maiores aumentos nos valores exportados ocorreram nos grupos do complexo sucroalcooleiro (25,9%), sucos (16,4%) e produtos florestais (1%).

OUTROS DADOS

O estudo conduzido pelo Observatório PUC-Campinas revela que as importações das empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) apresentaram uma queda de 19,83% em novembro. No último mês, as importações totalizaram US$ 1,17 bilhão (R$ 5,71 bilhões), em contraste com os US$ 1,46 bilhão (R$ 7,13 bilhões) registrados no mesmo período de 2022. A participação das importações regionais no volume total do estado de São Paulo foi de 20,84%, marcando o menor índice desde 2017, quando alcançou 19,74%.

O déficit na balança comercial da região em novembro foi de US$ 753,71 milhões (R$ 3,68 bilhões). O levantamento também destaca o desempenho dos últimos 12 meses, com um crescimento significativo no valor das exportações de óleos de petróleo, minerais betuminosos, coque de petróleo, betume de petróleo e outros resíduos de petróleo. No caso dos óleos, o montante foi de US$ 223,1 milhões (R$ 1,09 bilhão) entre dezembro de 2022 e o mês passado, representando um aumento de 55,52% em relação ao período anterior.

Quanto ao coque, houve um impressionante crescimento de 312,85%, com as exportações atingindo US$ 133,14 milhões (R$ 553,02 milhões). Também registraram aumento nas vendas ao exterior os tratores (6,12%), que lideram a pauta em valores com US$ 363,97 milhões (R$ 1,77 bilhão), além de partes e acessórios de veículos (11,78%) e bombas, compressores, ventiladores e exaustores de ar ou a vácuo (9%).

O coordenador do estudo projeta que a RMC encerrará 2023 com uma leve queda nas exportações (-2,20%), mas experimentará uma redução expressiva nas importações (-20,35%). Apesar desse resultado, o economista expressa otimismo diante da retomada da atividade industrial em 2024. Ele enfatiza fatores como a inflação abaixo do esperado, a redução das taxas de juros - elemento crucial para a atividade industrial - e o programa Desenrola Brasil, de renegociação de dívidas, que deverá impulsionar o consumo. "Se esses pontos se confirmarem, podemos vislumbrar certo otimismo em relação à atividade econômica", afirmou.

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