‘Sanasinha’, como é conhecido, encontrou uma solução para reciclar esse material
Espuma expansiva, além de servir para colar e preencher as garrafas PET, também dá volume e formato ao ‘barkito’, para possibilitar sua utilização para navegação (Kamá Ribeiro)
Ex-fotógrafo da Sanasa, Edvaldo da Silva Alves, também conhecido como 'Sanasinha', sempre foi focado e empenhado na luta pela preservação do meio ambiente. Como repórter fotográfico, ganhou 25 prêmios em concursos voltados ao meio ambiente. Diante do grande número de garrafas PET descartadas no Rio Atibaia, 'Sanasinha' encontrou uma solução criativa para reciclar esse material. Ele retorna essas garrafas ao rio, mas em um formato diferente, para não dizer inusitado e que garante a navegação em um formato de ‘barkito’, como prefere chamar. Edvaldo Alves desenvolveu uma espécie diferente de barco utilizando garrafas PET, espuma expansiva e arame na construção.
“O nome dele é ‘barkito’, um barco magrelinho e fino. É diferente de um barco comum porque é preenchido com 150 garrafas PET que são lacradas. Em algumas eu joguei internamente espuma expansiva e outras estão coladas lado a lado. Eu usei arame de piso e torcido para dar forma como uma 'caixa'. Dentro dessa 'caixa' eu coloquei as garrafas. Para colar uma garrafa na outra eu usei a espuma expansiva”, explica. Essa espuma expansiva também foi utilizada no acabamento do 'barkito'.
Edvaldo Alves fez testes com essa espuma para certificar-se de que ela iria de fato flutuar. Agora ele planeja empermeabilizar para que não entre água no ‘barkito’. O fundo do barco é um formato de “V”, segundo ele, isso ajuda na estabilidade. “Assim ele não vai virar fácil. Se eu fizesse reto, ele iria 'pregar' na água e iria virar fácil”, diz.
Edvaldo Alves se inspirou em modelos que já viu na internet, mas quis fazer diferente. “Eu via na internet alguns barcos que o pessoal fazia, mas eram barcos que as garrafas ficavam aparecendo e assim a navegação fica difícil. Tive a ideia de prender essas garrafas através de arame e preencher com espuma expansiva”, contou.
Para elaborar esse modelo de embarcação pensou na forma de navegação. “Pensei em não ser igual aos outros e fiz um barco diferente que vai cortar bem a água, porque os outros que aparecem as garrafas não são bons”, avaliou.
Para o processo de construção do 'barkito' Edvaldo recolheu as garrafas do rio com uma rede, o que já fazia enteriormente para dar destino correto a esse material que poluia o meio ambiente, e também contou com a ajuda de vizinhos que coletaram essas garrafas PET.
Ele disse que tudo envolveu muita criatividade e que muitas vezes acordava durante a madrugada para rescunhar e desenhar o modelo do barco. Tudo foi filmado e registrado para aprimorar e fazer mais 'barkitos' no futuro, que poderão ser usados para pesca e para recolher mais garrafas do rio. “O próximo barco não vai gastar muito material. Ainda vão ser 150 garrafas, mas eu vou colocar jornal como forma para o próximo. Eu vou fazer ele em duas partes, depois é que vou colocar as garrafas e preencher os espaços entre elas”, planejou.
A conclusão do ‘barkito’ simbolizou uma vitória. “Sensação de alívio porque quanto mais barcos eu fabricar daqui por diante, menos garrafas eu vou encontrar no rio”, falou com animação. Mais do que ajudar a natureza, ele também planeja ajudar instituições de caridade da região. “Tive a ideia de fazer esse barco para pesca, comercializar e passar parte do dinheiro para alguma instituição”, declarou.
Edvaldo Alves disse ainda que um amigo tinha planos de comprar um barco para pescar ou mesmo construir um de madeira, no entanto, ele sugeriu fazer o 'barkito', pois um barco de madeira é mais caro e muito pesado. “Ele pensou em comprar um caiaque, mas agora mudou de ideia e vamos fazer um de garrafa”, disse.
Ações
A preocupação com o meio ambiente é algo que está presente na vida de Edvaldo desde a infância. “Desde moleque, com 14 anos, venho tratando do meio ambiente”, lembra Edvaldo, que naquele tempo brincava de ‘pescar garrafas’. “Tenho sangue de índio, sou do Paraná. Acho que está no sangue, porque a minha família toda gosta de pesca e meio ambiente”, contou.
A criatividade vai além dos rios. O ex-fotógrafo já fez um mural com o símbolo da empresa que trabalhou por 36 anos e 7 meses com garrafas PET. “Em uma gincana que teve lá, eu usei garrafas PET também. Fiz a casinha da Sanasa com garrafas PET e em cada garrafinha eu coloquei uma foto de degradação da natureza, fotos que eu tinha feito no dia a dia”, lembrou com satisfação.
Edvaldo Alves também pratica outras ações que visam preservar o meio ambiente e que vão além das garrafas PET. Ele cria peixes em uma piscina na chácara onde fica sua oficina, local onde a criatividade flui tão livre, quanto as águas do rio que ele tanto luta para preservar. Depois que os peixes ficam grandes, ele os solta no rio. Além disso, cultiva e planta mudas de árvores frutíferas como forma de preservação. Essas ações representam, parte do que vive diariamente. “Eu tenho uma filha de 13 anos que se chama Mariana Carvalho. Ela me disse que quando for para a faculdade, vai querer ser engenheira ambiental”, disse com um sorriso no rosto.