Evento tratou de informações importantes para a inclusão de mais mulheres na política, com explicações sobre como construir uma plataforma política, fazer uma campanha e arrecadar fundos para uma candidatura (Alessandro Torres)
A Câmara Municipal recebeu na manhã de sábado (4) o evento “Portas Abertas: Pula para 50 - Mais Mulheres na Política”, promovido pelo Núcleo Campinas do Grupo Mulheres do Brasil, que busca estimular a participação feminina na política e fomentar a adoção de políticas afirmativas e a eliminação das desigualdades de gênero, raça e condição social. O nome do evento faz menção ao desejo de que cotas partidárias reservadas às mulheres sejam ampliadas saltando de 30% para 50%.
O acontecimento contou com uma discussão sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na política e as oportunidades para aumentar a sua participação e representação, com exemplos de boas práticas e histórias inspiradoras de mulheres que alcançaram sucesso na área. Posteriormente, houve uma oficina em que foram abordados os passos necessários para que mulheres interessadas possam entrar na política. Os tópicos tratados faziam referência a como uma mulher pode se candidatar, construir uma plataforma política, arrecadar fundos, fazer campanha e muitos outros mais.
De acordo com a organizadora do evento, a economista Janaina Calvo, o propósito do Grupo Mulheres do Brasil não é apenas trazer mais mulheres para a política. A ideia é fazer com que elas ocupem cada vez mais cargos de comando na administração pública, elegendo prefeitas, governadoras.
Ela explica que a participação da mulher na política brasileira, na atualidade, é pequena, se comparada a outros países, chegando a menos de 15% entre os prefeitos e menos de 12% entre os vereadores. “Por isso mesmo o trabalho do grupo é focado em realmente amparar e preparar as mulheres. É nesse sentido que esse evento está sendo realizado aqui em Campinas”, comenta.
Janaina avalia que, historicamente, a participação da mulher na política tem demonstrado mais transparência, menos corrupção e um olhar diferenciado para questões sociais. Para ela, as mulheres “têm se capacitado mais academicamente, inclusive. Agora um grande desafio são as várias jornadas que uma mulher faz. No trabalho, em casa... chega a ser, em alguns casos, uma jornada quádrupla. É uma loucura. Além disso, existe uma mistificação muito grande em relação à política, por ser aparentemente um ambiente hostil, e isso, em muitos casos, deixa a mulher muito tensa, o que acaba a afastando desse cenário”.
Outro grande estigma que perpassa toda a sociedade, segundo a economista, é a questão de que, supostamente, todo político é ruim. Ela explica que isso também afasta as mulheres dessa seara, mas que é preciso explicar a elas que, por exemplo, "todas as políticas públicas focadas em geração de renda vêm da política". Janaina comenta que a partir do conhecimento as mulheres passam a entender a importância da participação na política e que são maioria do eleitorado, tendo a possibilidade de eleger uma candidatura alinhada às mulheres.
MAIS MULHERES NA POLÍTICA
Uma das líderes do Grupo Mulheres do Brasil em Campinas, Denise Ferreira, revela que além de apresentar o trabalho do grupo e suas pautas à sociedade, o objetivo do evento também é ressaltar o movimento "Pula para 50". O grupo integra a mobilização que tem como intuito aumentar a representação feminina na política, fazendo as cotas partidárias reservadas às mulheres saltarem de 30% para 50%. O pedido, inclusive, se transformou em um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional.
“Nós, mulheres, somos 53% da população brasileira, mas apenas 15% no legislativo federal. Um Congresso e câmaras estaduais mais diversas em conhecimentos e olhares são primordiais para que possamos construir um país melhor para toda a população. Este ano teremos eleições municipais e nós, enquanto mulheres e parte importante da sociedade, precisamos lutar por mais representatividade nos espaços de poder. A Câmara Municipal de Campinas conta hoje com apenas quatro vereadoras, mas antes da última eleição havia apenas uma. É preciso despertar, conscientizar e educar a população. Não somente as mulheres, mas também os homens, porque o objetivo não é ocupar o lugar dos homens, mas ocupar aquele que é nosso por direito”, esclarece Denise.
Ela acrescenta que, normalmente, um homem não sabe as necessidades de uma mulher. "Nós precisamos de políticas públicas que realmente sejam voltadas para a gente. O ‘Pula para 50’ traz em si, inclusive, a reserva de 25% de vagas (dentro dos 50% reservados às mulheres) somente para mulheres negras”.
MULHERES NA CÂMARA
Na atual legislatura, de um total de 33 parlamentares, a Câmara Municipal de Campinas conta com apenas quatro vereadoras: Debora Palermo (PL), Guida Calixto (PT), Mariana Conti (PSOL) e Paolla Miguel (PT), o que representa apenas 13,79% do quadro total de edis.
No entanto, esse número já foi menor. Desde o ano 2000 pra cá, em três eleições, apenas uma vereadora foi eleita. No pleito de 2016, apenas Mariana Conti conseguiu uma vaga. O mesmo quadro se deu em 2012 com Neusa do São João, eleita pelo PSD, e em 2008 com Leonice da Paz, eleita pelo PDT.
Nas eleições de 2000, duas mulheres entraram na Câmara: Maria José Cunha, eleita pelo PT, e Teresinha de Carvalho, mais conhecida como Delegada Teresinha, eleita pelo PSDB. Em 2004 houve o melhor resultado, com três eleitas: Marcela Moreira, pelo PT; Leonice da Paz, pelo PTB, e Delegada Teresinha, pelo PMDB.
Nas últimas duas eleições gerais, de 2018 e 2022, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) não elegeu deputadas federais, mas elegeu para deputada estadual, em 2018, Adriana Borgo, pelo PROS, e Valéria Bolsonaro, pelo PSL. Ambas de Campinas. Em 2022, o número foi um pouco maior, com a reeleição de Valéria Bolsonaro e as eleições de Ana Perugini, de Hortolândia, pelo PT, e Clarice Ganem, de Indaiatuba, pelo Podemos.
MULHERES DO BRASIL
Criado em 2013 por quarenta mulheres de diferentes segmentos, com o intuito de engajar a sociedade civil na conquista de melhorias para o país, o Grupo Mulheres do Brasil é presidido pela empresária Luiza Helena Trajano e hoje conta com 124.657 participantes no Brasil e no exterior.
O objetivo da entidade é ser o maior grupo político suprapartidário do país, sendo composto por 155 núcleos (113 no Brasil, em todas as capitais, e 42 no exterior, em todos os continentes).
A entidade trabalha com 21 pautas, como a inserção de refugiados, inclusão da pessoa com deficiência, igualdade racial, empreendedorismo, combate à violência contra a mulher e sustentabilidade.
Para estar no grupo, a pessoa interessada não pode estar vinculada a nenhum partido político. “Para nós, não importa quem está no poder, mas sim qual política pública está acontecendo a fim de impactar o bem comum. Essa é a nossa luta”, finaliza Denise.
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