POLÊMICA

Evento com cenas explícitas causa discórdia e gera ações contra vereadora do PT

Ao menos dois vereadores se movimentam para pedir esclarecimentos e investigação sobre o caso; Paolla Miguel destinou verba para a festa

Luis Eduardo de Sousa/ luis.reis@rac.com.br
17/04/2024 às 10:16.
Atualizado em 17/04/2024 às 10:16
Vereadora afirmou que não conhecia o teor das apresentações e nem participou da contratação de artistas, Paolla disse que aceita crítica, mas não vai tolerar mentiras; ‘É preciso investigar o caso, saber se foi utilizado dinheiro público ou recursos de emenda, se o Executivo teve ciência e quem autorizou essa aberração’, disse Hossri (Alessandro Torres e Câmara Municipal de Campinas)

Vereadora afirmou que não conhecia o teor das apresentações e nem participou da contratação de artistas, Paolla disse que aceita crítica, mas não vai tolerar mentiras; ‘É preciso investigar o caso, saber se foi utilizado dinheiro público ou recursos de emenda, se o Executivo teve ciência e quem autorizou essa aberração’, disse Hossri (Alessandro Torres e Câmara Municipal de Campinas)

A festa “Bicuda”, realizada no distrito de Barão Geraldo no último domingo (14), causou um rebuliço no poder público de Campinas. O evento, com temática LGBTQIAPN+, foi acusado de “imoral” e “perverso” por vereadores e pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) em razão de trechos das apresentações artísticas que continham cenas de nudez e simulação de sexo. Diversas ações foram movidas nos dois poderes em desfavor da festa, que recebeu R$ 15 mil dos cofres públicos, e de seus organizadores. Adicionalmente, nenhum dos lados quer assumir a responsabilidade pelo evento que foi realizado com apoio de verba de emenda impositiva da vereadora Paolla Miguel (PT).

Na Câmara Municipal, o vereador Nelson Hossri (PSD) solicitou a abertura de uma Comissão Processante contra Paolla, enquanto Paulo Gaspar (Novo) pediu esclarecimentos acerca da festa nas ouvidorias da Câmara e da Prefeitura. A parlamentar assume que seu mandato foi procurado pela organização do evento e que houve a indicação para o repasse de verba, que, no entanto, é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura. Já a Cultura evitou dar detalhes sobre os critérios adotados para eleger projetos beneficiados. A Pasta, contudo, publicou na terça-feira (16) uma portaria determinando a adição de classificação indicativa em eventos que possuam apoio ou financiamento público. 

Na Câmara, o assunto dominou a primeira parte da 20ª Reunião Ordinária, realizada na segunda-feira (15). Vereadores de direita elegeram a vereadora do PT como responsável pela polêmica e foram ao ataque contra a colega de casa. Já Paolla se defendeu dizendo que, apesar de apoiar o evento, não tinha conhecimento das apresentações. Ela acrescentou que o mandato vai rever os critérios para apoiar celebrações do tipo. Em contra-ataque, no entanto, os opositores dizem que a parlamentar esteve no palco durante o evento e que poderia ter intervido para evitar as cenas de teor sexual. 

A Bicuda foi realizada na Praça Durval Pattaro, entre 13h e 20h30. A polêmica envolvendo esta edição da festa, que existe desde 2018, começou após viralizar um vídeo com um trecho de uma apresentação artística onde duas pessoas protagonizam simulação de sexo oral no palco. Procurada pela reportagem, a organização disse que aguarda seus advogados para se posicionar oficialmente. 

FARPAS 

Ao Correio Popular, a vereadora Paolla Miguel reforçou que não conhecia o teor das apresentações culturais, e fez mea-culpa acerca dos critérios adotados para apoiar eventos similares. Paolla acredita, porém, que o episódio virou munição para ataques à comunidade LGBTQIAPN+. 

“Nós recebemos a solicitação para apoiar o evento com banheiros químicos, palco e iluminação, mas não participamos da contratação dos artistas. Isso não foi conversado com nosso mandato nem com a Secretaria de Cultura”, afirmou a parlamentar. 

“Nós não compactuamos com isso e filtraremos melhor potenciais beneficiários. No entanto, a festa já foi realizada em outras ocasiões, inclusive com apoio da Secretaria de Cultura, e nunca promoveu nenhum episódio de violência, de reclamação da comunidade ou qualquer ocorrência. Nosso mandato aceita a crítica. Não foi legal, não compactuamos com esse tipo de coisa, mas não toleraremos as mentiras e as fake news colocadas contra nós. Continuaremos apoiando a cultura para que as populações menos favorecidas da cidade possam se manifestar livremente”, complementou. 

Ainda na segunda feira, a Secretária de Cultura anunciou que publicaria uma portaria exigindo indicação de classificação indicativa para eventos com algum investimento de verba pública. A medida foi publicada na terça-feira (16) . 

“De acordo com os princípios da Constituição Federal e normas do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Ministério da Justiça regulamenta a Classificação Indicativa com base em três critérios: violência, drogas, sexo/nudez. A classificação tem natureza pedagógica e informativa, capaz de garantir às pessoas e às famílias o conhecimento prévio para escolher diversões e espetáculos públicos adequados à formação de seus filhos, tutelados ou curatelados”, disse a pasta em nota. 

Por fim, a Cultura informou que notificou o organizador do evento pedindo explicações sobre as cenas de nudez protagonizadas na praça, que é aberta ao público em geral. Paolla Miguel disse concordar com a medida. Sobre ter patrocinado outras edições da Bicuda, a Cultura não se manifestou. Conforme a própria Pasta, a verba é repassada pelo Executivo e o vereador apenas indica o objeto de emenda. 

Em tom indignado, o prefeito Dário Saadi se posicionou em suas redes sociais. Dário afirmou que a organização da Bicuda está proibida de realizar novas edições durante seu governo. 

“Ontem de manhã, eu recebi essas imagens (da festa), que são lamentáveis, inconcebíveis, deprimentes, de um show que aconteceu no domingo à noite por indicação de emenda impositiva, de recursos públicos de uma vereadora do PT. Ontem mesmo já determinei a suspensão de atuação do promotor desse evento. No meu governo, ele não faz mais festas em Campinas.”

Falas de repúdio também partiram dos vereadores Paulo Gaspar (Novo) e Nelson Hossri. “Evento feito com dinheiro público, em espaço público, com apologia à pornografia e às drogas, de um tremendo mau gosto, que atenta aos bons costumes, à moral, à decência, e que não pode ser admitido. Isso fere uma série de legislações, porque ali havia crianças. Essas responsabilidades precisam ser apuradas tanto no âmbito da Câmara quanto da Prefeitura e secretarias direta ou indiretamente envolvidas. Precisamos entender como foi feita a negociação com esses “pseudoartistas” e como se contrata um show sem saber o conteúdo”, reclamou o vereador do Novo que protocolou representações na corregedoria do Legislativo e na ouvidoria da Prefeitura.

Hossri também falou sobre o seu pedido, feito na manhã de terça-feira (16), de abertura de uma Comissão Processante contra a vereadora do PT. “Na tarde do domingo recebi inúmeras mensagens e vídeos de famílias revoltadas, assustadas e indignadas com um evento que estava sendo realizado em Barão Geraldo. Quando vi e soube do que se tratava, fiquei perplexo. Isso merece, no mínimo, cassação de mandato.”

“Foi uma baixaria completa, coisa assustadora, em pleno domingo em um local destinado a famílias. É preciso investigar o caso, saber se foi utilizado dinheiro público ou recursos de emenda, se o Executivo teve ciência e quem autorizou essa aberração.”

O vereador fez uma representação no Ministério Público de São Paulo, com um requerimento de informação para exigir esclarecimentos. Hossri e outros 31 vereadores são investigados em um inquérito, no mesmo órgão, que apura justamente o repasse de verbas para eventos culturais por meio de emenda impositiva. 

Procurada pela reportagem, a organização do evento disse que aguarda orientação de seus advogados para emitir um posicionamento oficial. “É uma forma de eles propagarem ataques históricos contra as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e periféricas. Quando se fala em família, para eles, se considera apenas um grupo familiar composto por homem e mulher, em que a figura feminina é submissa. Enquanto isso, projetos importantes às populações carentes deixam de ser votados por essas mesmas figuras que se furtam a se posicionar quando o assunto realmente importa”, concluiu Paolla. 

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