Em resposta à crise hídrica, a Prefeitura de Artur Nogueira cogita a construção de uma nova represa no córrego Poquinha, além da adutora provisória, mas o Estado não demonstrou viabilidade de apoio a este projeto específico (Alessandro Torres)
A secretária de Estado de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, visitou Artur Nogueira no último sábado (3) para acompanhar de perto a crise hídrica que assola a cidade, considerada a pior de sua história. A visita ocorreu dois dias após uma reportagem do Correio Popular revelar o cenário de desespero enfrentado pelos moradores, que estão submetidos a um severo racionamento de água.
A represa Cotrins, principal fonte de abastecimento do município, opera com menos de 15% de sua capacidade. A contínua diminuição do nível do reservatório ameaça o abastecimento de água para os pouco mais de 51 mil habitantes da cidade até o fim do período de estiagem. No entanto, a Prefeitura afirma que não há risco de desabastecimento.
Nem mesmo em 2014, ano em que todo o Estado enfrentou uma severa crise hídrica, o nível do reservatório esteve tão baixo.
Acompanhada por Anderson Esteves, superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), e pela tenente-coronel Claudia Bemi, diretora da Defesa Civil, a secretária realizou uma visita técnica ao reservatório para avaliar ações imediatas de apoio à situação. Ontem, o governo decretou situação de emergência na cidade. Também ontem, o DAEE iniciou o desassoreamento da represa Cotrins, com o objetivo de melhorar as condições de captação de água.
Em caráter emergencial, o Estado avalia a instalação de uma adutora provisória no córrego Boa Vista, popularmente conhecido como Poquinha. A medida visa abastecer uma das Estações de Tratamento de Água da cidade, dobrando o volume disponível e reduzindo a severidade do racionamento.
Adicionalmente, a Defesa Civil prometeu enviar mais 25 mil litros de água ao município hoje, destacando que outros 25 mil litros foram enviados na semana passada, juntamente com 300 cestas básicas.
O Correio Popular aguardava uma entrevista com a secretária Natália Resende, na tarde de ontem, mas a assessoria de imprensa desmarcou, alegando falta de agenda. Em nota, a assessoria informou que o governo "está atento à situação e apoiará com ações emergenciais, no contexto do Plano Estadual de Resiliência à Estiagem."
Em resposta à crise hídrica, a Prefeitura de Artur Nogueira cogita a construção de uma nova represa no córrego Poquinha, além da adutora provisória. O Estado não demonstrou viabilidade de apoio a este projeto específico, mas anunciou que deve lançar, nos próximos dias, um chamamento para prefeituras interessadas na perfuração de poços artesianos. "Nos últimos 16 meses, foram investidos R$ 144,3 milhões na perfuração de 139 poços em 125 municípios."
Durante a visita, a secretária também prometeu autorizar o início das obras da barragem de Pedreira. "Vamos autorizar em breve o início das obras na divisa dos municípios de Pedreira e Campinas, às margens do rio Jaguari, e a barragem de Duas Pontes, em Amparo, junto ao rio Camanducaia. Essas são obras fundamentais para garantir segurança hídrica na Região Metropolitana de Campinas, que é uma das mais afetadas pelos períodos de seca", afirmou.
Em junho, o juiz da 6ª Vara Federal de Campinas, Haroldo Nader, cobrou do DAEE explicações sobre os projetos citados pela secretária, que formarão o maior reservatório de água da Região Metropolitana de Campinas (RMC). A Justiça solicitou à autarquia do governo estadual a apresentação de um documento com a análise de segurança da população a jusante (abaixo) dos empreendimentos, além do procedimento específico para declaração de utilidade pública da supressão vegetal da área da barragem de Pedreira, nas proximidades do limite com Campinas.
O Estado anunciou a previsão de instalação de um Sistema Adutor Regional das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), com quase 90 quilômetros de extensão. Este sistema distribuirá a água das barragens para os municípios da região. Os estudos técnicos para a implementação desse sistema já foram contratados e estão sendo desenvolvidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
"Parte dos investimentos previstos nos estudos para o Sistema Adutor Regional das Bacias PCJ já foram contemplados no novo contrato de concessão da Sabesp desestatizada. Um exemplo é a abertura de uma nova captação na barragem Paiva Castro, no rio Juqueri, associada a uma adutora que conduzirá a água à Estação de Tratamento de Campo Limpo Paulista, aumentando a segurança hídrica na região de Várzea Paulista, que hoje é atendida apenas pelo Rio Jundiaí e seu afluente Mãe Rosa", explicou Natália.
Na última quinta-feira (1º), a reportagem conversou com moradores de Artur Nogueira sobre a crise hídrica. Segundo apurado, o racionamento deixa a maior parte dos bairros sem água durante quase todo o dia. No bairro Bom Jardim, um dos mais afetados, comerciantes relataram interrupção dos serviços nos primeiros dias de racionamento.
Sem a certeza do abastecimento, muitos moradores estão armazenando água em galões para suportar o dia, repondo os recipientes nos poucos momentos em que a água está disponível nas torneiras.