O empresário Laurival Antonioli iniciou o plantio voluntário há 18 anos em uma praça pública de 5 mil metros quadrados que leva o nome da mãe dele, Angelina Casellatto Antonioli, no Jardim Independência (Gustavo Tilio)
O amor pela natureza levou o empresário Laurival Antonioli, hoje com 77 anos, a plantar mais de mil árvores em Campinas. São centenas de espécies típicas da região, exóticas e frutíferas que se destacam na paisagem e levam novas formas, cores e aromas para essencialmente duas áreas: o Distrito de Barão Geraldo, onde ele nasceu, e o Jardim Nossa Senhora Auxiliadora, onde reside, bairro próximo à Lagoa do Taquaral, principal área de lazer da cidade. “Árvore é vida”, destaca Antonioli.
O empresário iniciou o plantio voluntário há 18 anos em uma praça pública de 5 mil metros quadrados que leva o nome da mãe dele, Angelina Casellatto Antonioli, no Jardim Independência, em frente ao supermercado da família, em Barão Geraldo.
O mato que tomava conta do local deu lugar a um bosque urbano formado por árvores em diferentes fases de desenvolvimento. Há frondosas sapucaias, com cerca de 20 metros, que disputam em altura com uma caixa d’água existente no local. Também se multiplicam joão bolão, cacaueiros, coqueiros, jatobás, mognos, palmeiras, jabuticabeiras, pés de café, jaqueiras, mangueiras e muitas outras espécies.
Elas convivem com o pau-brasil, árvore que deu nome ao País e que é nativa da Mata Atlântica. A espécie também é conhecida por diversos outros nomes, como arabutã, ibirapiranga, ibirapitá, ibirapitanga, orabutã, pau-de-tinta, pau-pernambuco e pau-rosado. Uma das árvores do local tem em torno de 20 metros de circunferência. São necessários dois homens para abraçá-la. Há também araucária, listada entre as árvores ameaçadas de extinção no Brasil e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Trabalho contínuo
Mas a missão do plantador de árvores segue em frente. “Enquanto estiver andando e tiver energia, vou continuar plantando”, diz. Uma das mais novas “moradoras” do bosque é um ipê-rosa. A muda, a enxada, galões com água e fertilizante dividem espaço em um carrinho de pedreiro que um funcionário do supermercado leva até o local reservado para o plantio. A cova já estava aberta, cercada por uma caixa de madeira. Ali, Antonioli faz o que gosta, põe a mão na terra e espalha vida.
“Se deixar, eu passo o dia inteiro aqui”, afirma. Para ele, plantar é 20%. Os outros 80% exigem dedicação e cuidados, como regar, limpar o entorno e acompanhar o desenvolvimento da planta. Um olhar mais atento identifica outras caixas espalhadas pelo bosque. Elas servem para marcar onde estão as novas mudas e evitar que as pessoas pisem ou arranquem inadvertidamente, pensando que seja mato.
A muda de ipê-rosa saiu de um pequeno viveiro que o empresário mantém nos fundos do supermercado. A árvore deve começar a florir dentro de quatro anos, enfeitando a praça com suas flores, mas atingirá a fase adulta ao oito anos.
Além de produzir as mudas que utiliza, o plantador também doa. “Já distribuí mais de 500 mudas. No começo, até anotava e tinha controle da quantidade que doei, mas depois larguei mão”, explica. Ele ainda guarda o caderno em que anotava para quem deu as mudas, quantas e de quais espécies.
Entre tantas árvores que fecundaram e se desenvolveram por suas mãos, o empresário tem a sua preferida. É um abacateiro cuja muda saiu da plantação que o pai dele, “seo” Ângelo, tinha em Barão Geraldo. Laurival se lembra bem do início do cultivo, que surgiu a partir de mudas que uma tia ganhou do então namorado.
O empresário é a terceira geração da família que cultiva essa paixão pelas plantas. Tudo começou com o avô João Batista Antonioli, que desembarcou no Brasil em 1889, um dos muitos imigrantes italianos que vieram trabalhar na agricultura, época em que o País começava a deixar de usar a mão de obra escrava.
Legado que fica
“Eu vi esse bosque crescer. É muito bonito o trabalho realizado”, diz o mecânico João Batista Alves, que era um adolescente quando as primeiras árvores foram plantadas no Jardim Independência. Hoje, aos 32 anos, já se mudou do bairro, mas o visita constantemente para ver os parentes. O bosque se tornou uma homenagem à mãe de Antonioli e um presente aos moradores de Barão Geraldo.
É mais um “filho” do empresário em constante crescimento, assim como sua família. Miguel, o primeiro bisneto, chegará em agosto. Laurival tem três netas e dois filhos. Ele considera o plantio de árvores como um hobby, que o transformou em um botânico amador. Conhece os detalhes das árvores, quando foram plantadas, onde estão e as suas características.
De acordo com a época do ano, o bosque ganha novas características e atrai aves que se alimentam de seus frutos. É o caso do coró-coró, de penas pretas e bico fino, e que é uma espécie florestal, ou seja, uma testemunha viva da qualidade do bosque formado em Barão Geraldo.
As árvores plantadas não seguem uma ordem, as variedades se misturam ao longo da praça. Antonioli já tentou plantar em outros locais do distrito, mas o trabalho não foi bem recebido e as mudas foram arrancadas. Porém, isso não o desanima. “Eu plantei em áreas que não são minhas”, afirma, com certa resignação.
O bosque na Avenida Santa Isabel também é uma farmácia natural a céu aberto. A casca do ipê-rosa, por exemplo, é considerada um remédio poderoso, principalmente como cicatrizante e contra inflamações, tumores e alergias. Já os frutos maduros do joão bolão ou jamelão, que lembram azeitonas, podem ser ingeridos ao natural ou transformados em compotas, licores, vinho, vinagre e geleias.
A fruta doce é rica em vitamina C, fósforo e também em flavonoides e taninos, muito importantes para o combate de doenças cardiovasculares. Além disso, a casca do caule tem propriedades anti-inflamatórias e antidiabéticas, assim como as folhas, que ajudam a diminuir a quantidade de glicose no sangue.
Antonioli conhece bem a praça onde formou o bosque. A gleba é uma área remanescente do sítio de seu pai, onde nasceu e foi criado com os quatro irmãos. A propriedade rural acabou loteada e deu origem ao Jardim Independência. Desde a infância, ele cultiva árvores frutíferas e canteiros, mas foi o único filho a manter essa prática ao longo da vida.
Quando começou a plantar, o local era tomado por mato alto e capim barba-de-bode, que se desenvolve em terrenos estéreis. O plantador de árvores iniciou os trabalhos com amoreiras e depois vieram as mudas de pau-brasil. Os elogios da vizinhança lhe entusiasmaram a continuar a ocupação da praça. Em 2007, já eram 300 mudas, incluindo jacarandá, cedro, salgueiro, peroba, pupunheira, pata-de-vaca e outras.
A grande variedade, na opinião do empresário, é importante para as pessoas conhecerem árvores diferentes e as suas várias aplicações. Além de produzir mudas, o empresário colhe outras em locais por onde passa, como o Parque das Águas e outras praças. Hoje aposentado, ele divide o hobby de plantar árvores com atividades de cuidar da casa e da esposa. Antonioli considera que nenhum herdeiro compartilhará o gosto pelo cultivo da terra, mas isso não o desanima. Ele brinca que passará dos 90 anos de idade e seguirá aumentando o número de árvores do bosque enquanto as forças permitirem.