Projeto arquitetônico foi apresentado aos permissionários na última terça-feira
Com as mesmas perspectivas, imagens da parte interna do Mercadão (à esquerda) e projeção arquitetônica dos boxes e futuro mezanino mostram como ficará o Mercadão, após a reforma do prédio (Gustavo Tilio e Werk Arquitetura)
A Prefeitura de Campinas prevê lançar nos próximos dias a licitação para contratar a empresa responsável pelas obras de requalificação do Mercadão Municipal. Na terça-feira, a Administração realizou uma reunião com os permissionários para apresentar o projeto arquitetônico e a logística proposta pela Serviços Técnicos Gerais (Setec) durante o período de obras.
A obra do Mercadão é uma das intervenções que compõe a requalificação da região Central de Campinas, que também envolve modificações na Rua 13 de Maio e Avenida Campos Sales, além da futura lei que dará isenção no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e outros impostos para proprietários que promoverem reformas em imóveis, seja comercial ou residencial, da área.
A obra contempla a reforma física do prédio, incluindo a substituição total da fiação elétrica, nova canalização de esgoto, revitalização da fachada e construção de um mezanino sobre os boxes, na parte central do Mercado. Também compreende a instalação de iluminação especial no interior e na área externa. Os projetos arquitetônicos e de instalações elétricas e hidráulicas já foram elaborados e o processo está em avaliação final para poder ser licitado. Após essa fase, será definida a empresa que fará a reforma do Mercado Municipal.
A intervenção foi anunciada em fevereiro de 2021 pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos), mas ficou estagnada por problemas burocráticos. Os recursos já estão assegurados: são R$ 7,2 milhões, dos quais R$ 5 milhões obtidos por meio de emenda parlamentar do deputado Marcos Pereira (PR). O restante será investido pela Prefeitura. "O Mercadão será totalmente revitalizado mudando seu paradigma. Estamos apresentando o projeto para quem trabalha lá dentro e traçando planos para que a reforma cause o mínimo de impacto no dia a dia aos permissionários", reforçou.
A Secretaria de Infraestrutura é a pasta responsável pelas obras públicas do município e está conduzindo o processo da requalificação do Mercadão. De acordo com o secretário Barreiro, a Pasta acompanhou o processo de elaboração do projeto e vai conduzir a execução da obra. "O Mercado Municipal, patrimônio histórico da cidade, tombado pelo Condepacc e Condephaat, vai ficar extremamente moderno e atualizado tecnicamente com a revitalização", observou.
Os estudos para a reforma do entorno do Mercadão começaram após a decisão judicial que deu aval para registro do imóvel, em ação de usucapião impetrada pela Administração Municipal. O processo de registro tornou o Mercado Municipal apto a receber recursos externos. O documento de registro de imóvel passou por um longo processo, desde 2017, até a sua consolidação no começo deste ano, quando o juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, Mauro Iuji Fukumoto, liberou para o imóvel ser registrado como propriedade da Prefeitura de Campinas.
O projeto prevê a reforma estrutural do Mercado Municipal, com a construção de um mezanino e a reforma da parte elétrica, hidráulica e da fachada. Além disso, também já foi autorizada uma reforma de acessibilidade nos banheiros, mas neste caso a intervenção já foi liberada e está sob responsabilidade da Secretaria de Cultura.
Por mês, o Mercadão recebe a visita de 120 mil pessoas. São 104 permissionários que cuidam de 143 boxes internos e externos. Mensalmente, são comercializadas mais de 10 mil caixas de produtos. O número de visitantes deve aumentar significativamente com a conclusão das obras do BRT, uma vez que o traçado do corredor passará pelo terminal ao lado do Mercadão, o que ampliará o fluxo de pessoas no local.
Caso seja necessário, a Setec irá arcar com os custos e planejamento logístico da realocação dos permissionários em galpões, que serão implantados no estacionamento do Mercado Municipal. Essa proposta será executada caso a empresa vencedora da licitação não concorde em realizar as obras sem a desocupação do espaço pelos permissionários Conforme o presidente da Setec, Enrique Lerena, o foco principal da apresentação aos permissionários foi esclarecer como será a reforma e reiterar a preocupação da Administração Municipal para que toda a requalificação seja executada com o menor impacto possível.
"Todos nós estamos engajados num mesmo propósito, por isso, além do projeto, apresentamos uma proposta de realocação dos boxes para que o Mercado continue funcionando durante todo o período das obras", afirmou Lerena.
O permissionário Maurício Mancini, dono de um açougue no Mercadão, está preocupado com os possíveis transtornos causados pelas obras (Gustavo Tilio)
Preocupação
Proprietário de um açougue no Mercadão há cerca de dez anos, e há mais de 40 no tradicional ponto campineiro, Maurício Mancini analisou que a reforma é bem vinda e que todos gostam, mas tem que haver também preocupação como será a transição para os comerciantes não saírem prejudicados durante o período de intervenção na área.
"Ela vai ser boa quando a gente pensa no sentido que todo lugar precisa mesmo de uma intervenção, que precisa ser revitalizado, que o público e os trabalhadores merecem. Agora vai ser ruim para quem trabalha de fato no lugar. No meu caso, especificamente, ainda tenho o agravante de ter câmaras frias, para manter as carnes com qualidade, e não faço ideia de como isso será mantido caso eu tenho que mudar de lugar, mesmo que seja por algum período. A Prefeitura precisa deixar isso bem claro para todos antes de iniciar as obras", disse o comerciante.
A mesma preocupação atinge o dono de mercearia Carlos Gomes Serafim. Ele afirmou que ninguém é contra uma obra, mas acha que tudo deveria ter sido feito aos poucos e conversado anteriormente com os permissionários, que apontariam as necessidades mais urgentes. O comerciante entende que o mezanino é um luxo que não é necessário no momento em que todos ainda passam por reorganização financeira após a pandemia de covid-19.
"A revitalização é legal para todo mundo. Eu duvido que alguém vai reclamar de ver a própria casa ou o lugar que trabalha novo, limpo e moderno. O que pega para mim, e para muitos comerciantes e até mesmo cliente, é o que foi colocado como necessidade mesmo. Tem cano entupido, reboco caindo, o banheiro funcionando ruim, enfim, um monte de coisa que acho que já deveria estar na prioridade, mas preferiram junto tudo e incluir esse mezanino, que encareceu a obra. Agora vamos esperar para pelo menos não precisar sair daqui e continuar trabalhando, porque a pandemia já fez um estrago bem grande nas nossas finanças", disse.
Para Celso Tasso, dono de uma loja de calçados e roupa country, a maior preocupação dos comerciantes é como será a transição. "Eu imagino que por segurança é melhor não trabalhar junto com uma reforma que está construindo um teto sobre sua cabeça. Então é essencial que a Prefeitura pense em maneiras de fazer a mudança de local caso seja necessário sem prejudicar nenhum dos comerciantes. O Mercadão é um patrimônio da cidade e não podemos fazer as coisas de qualquer jeito", disse.