Para Adriana Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), os lojistas venderiam mais se tivessem investido na data
Natalino Leo, de 90 anos, está em casa de repouso: "Queria que meus netos viessem aqui, mas eles não vêm" (Vinicius Agostini/AAN)
No eixo familiar, a figura dos avós é uma das mais queridas. Comemorado neste domingo (26), no entanto, o Dia dos Avós tem se tornado cada vez mais esquecido por parte dos netos e, especialmente, pelo comércio. O Correio acompanhou, na última semana, o movimento em um dos principais redutos de compras em Campinas, o calçadão da Rua Treze de Maio, no Centro. Durante a semana que antecede a data comemorativa, não foi constatada nenhuma ação especial de vendas ou divulgação. Porém, as campanhas para o Dia dos Pais, comemorado no próximo mês, já estão a todo vapor.Os gerentes de quatro redes varejistas no Centro, que preferiram não se identificar, afirmam desconhecer a comemoração. O responsável por uma das lojas foi além do esquecimento. Ao ser questionado sobre qual é a data comemorativa deste domingo, respondeu: “É o dia do motorista?”. Numa rápida conversa, Dijanete Gomes, gerente de uma loja de roupas, confessou que sequer tinha conhecimento sobre o Dia dos Avós. “Olha, pra falar a verdade eu não sabia que existia essa data”, afirmou, rindo. “Mas mesmo que eu soubesse, não investiria em nada porque acho que as pessoas preferem presentear os mais idosos com eletrodomésticos em vez de roupas”, contou. Para Adriana Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), os lojistas venderiam mais se tivessem investido na data. “O comerciante que está antenado, sempre em busca de uma nova oportunidade, tenho certeza que, se fizesse isso (promoção ou propaganda), estaria vendendo mais". Ainda segundo a presidente, não existe a lembrança de presentar os avós porque os próprios homenageados se esquecem do dia. “Como não existe a cultura, muitas vezes nem eles se lembram da data, aí você acaba dando presente no Dia das Mães, Dia dos Pais ou até no Natal e não hoje", conclui. O presente idealEles mimam, dão presentes, tomam conta e aliviam a bronca dos pais. Em alguns casos, são até os responsáveis diretos pela criação das crianças. Um abraço, um carinho ou um simples sorriso, não importa. Hoje é dia de mostrar o quanto eles são essenciais para nossa alegria. A equipe do Correio visitou duas casas de repouso e perguntou aos idosos o que gostariam de ganhar se pudessem escolher um presente. A resposta foi quase unânime: carinho, amor, presença dos familiares e um abraço. Apenas uma, entre todos os entrevistados, disse que queria ganhar “um sapatinho bem bacana”. O nome dela é Aurora da Silva Borges, de 82 anos, portadora de Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que provoca o declínio das funções intelectuais, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social e interferindo no comportamento e na personalidade. Apesar da doença, Aurora demostra vitalidade e afirma que fica feliz quando os netos chegam para visitá-la. “Eu gosto quando eles vêm porque a gente sente falta, né?”, revela. Ao final da entrevista, ela recitou o poema Só Tu, de Paulo Setúbal. “Dos lábios que me beijaram, dos braços que me abraçaram, já não me lembro, nem sei. São tantas as que me amaram! São tantas as que eu amei! Mas tu — que rude contraste! Tu, que jamais me beijaste, Tu, que jamais abracei, Só tu, nesta alma, ficaste, De todas as que eu amei”, declamou. Para Dona Deolinda Benedetti, de 88 anos, um abraço e um beijo eram os presentes que ela gostaria de ganhar. “Ah meu filho, com essa idade a gente não pode esperar muita coisa da vida, então se eles viessem aqui me visitar eu gostaria de ganhar um beijo e um abraço, só isso”, revelou. Natalino Leo, de 90 anos, chora quando abre o coração dizendo que sente falta dos netos. “Se eu pudesse escolher um presente eu queria que meus netos viessem aqui (na casa de repouso). Eles não vêm e o tempo vai passando”, se emociona ao contar.