Coreto-patíbulo do Largo do Pará, com beiral tomado por limo, virou ninho de pombas r (Dominique Torquato/AAN)
Patrimônios históricos de Campinas, os coretos nas praças da região central são ameaçados pelo vandalismo e pela falta de manutenção. Os palcos, onde no passado tocavam as bandas, se transformaram em teto improvisado para moradores de rua e reduto para drogaditos. Sem investimentos, beirais emboloram, forros despencam, adornos apodrecem, instalações são arrebentadas. O coreto da Praça Carlos Gomes, instalado em 1914, foi construído pela Companhia Mac-Hardy. As iniciais da empresa - CMC - decoram os gradis. O bem preserva detalhes originais belíssimos, como os adornos metálicos e os atlantes curvados (estátuas de homens sustentando o entablamento). Verdadeira obra de arte. Mas nem tudo agrada. A cobertura está tomada por rombos. Por conta dos vazamentos, o forro de madeira apodreceu e está despencando. Apesar disso, aquele coreto centenário ainda é o mais frequentado da cidade. No passado recente, havia noites de seresta e shows musicais. Ainda acontecem eventos gastronômicos ou apresentações artísticas ocasionais. Mas a situação do coreto reflete a degradação da praça toda. Moradores de rua se espalham pelos bancos e canteiros, e colocam roupa para quarar nos gramados. "Conheço a praça há décadas. Ver o forro do coreto aos pedaços corta o coração. Daqui a pouco, a madeira despenca e machuca alguém", reclama um servidor municipal, que pediu para não ser identificado. Drogas e papelão A Praça Corrêa de Lemos, bem na frente do Teatro Castro Mendes, preserva um coreto belíssimo, doado a Campinas pelo comendador William Vlan Veck Lidgerwood, dono da manufatura que fez história em Campinas na segunda metade do século 19. O equipamento, com adornos metálicos, foi instalado originalmente no antigo Jardim Público (atual Praça Imprensa Fluminense). Mas, por conta de uma revitalização do espaço, o coreto foi transferido para a Vila Industrial. Na mudança, se perderam adornos artísticos de alvenaria na parte inferior da peça, mas o trabalho de fundição se manteve intacto. A Praça Corrêa de Lemos chegou a sediar apresentações artísticas ocasionais, como um festival de rock no ano passado. Mas ninguém se lembra das românticas bandinhas de meados do século passado. Hoje, o palco se limita a teto improvisado para moradores de rua e ponto de consumo de drogas. O zelador Selmar Rocha, de 55 anos, mineiro, conta que mora em Campinas desde os 18, e que já teve o prazer de fazer footing nas praças. Mas só resta saudade. “Agora, o coreto amanhece todo dia tomado por caixas abertas de papelão, que servem de cama pra quem não tem onde morar”, lamenta. Pombas e limo Os moradores de rua também se esparramam no entorno do coreto histórico do Largo do Pará. O espaço segue muito movimentado, com equipamentos de ginástica, feiras de artesanato, parque infantil. Mas os frequentadores antigos, moradores do próprio Centro, reclamam muito do descaso com o patrimônio. A cobertura do coreto, por exemplo, virou ninho para dezenas de pombas. A lâmpada no forro foi arrancada e o limo escuro toma conta do beiral. “A praça como um todo está largada, com brinquedos quebrados e coreto inutilizado”, afirma a dona de casa Bárbara parreira, de 69 anos, que há 40 mora em Campinas. “E a cena que mais agressiva é ver esse povo dormindo pelos canteiros, enrolados em cobertor.” Aquele coreto, inicialmente, decorava o largo em frente da antiga Casa da Câmara e Cadeia (atual Praça Bento Quirino), mas foi removido do local ainda em 1893. Não existem informações sobre quem o fabricou.