Homem apertou o passo para atravessar a linha enquanto a composição cargueira se movimentava no Pátio Ferroviário; Prefeitura vai requalificar o complexo (Kamá Ribeiro)
As primeiras ações para revitalizar o Pátio Ferroviário de Campinas foram anunciadas na sexta-feira (16) pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) em reunião na unidade central do Centro de Educação Profissional (Ceprocamp). Acompanhado por secretários e parlamentares, o chefe do Executivo revelou que no local serão construídos um parque-escola, uma área de recreação e um espaço de inovação para empresas e startups, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Embora a cidade ainda aguarde a cessão de parte da área, que pertence à União, a Administração campineira defende que as movimentações sejam tomadas para agilizar o processo. É consenso entre o secretariado que o prefeito pretende avançar com o projeto antes do fim do mandato. "Se a gente for esperar a burocracia, não vamos fazer. Não estamos passando o carro na frente dos bois, tudo isso está sendo comunicado e informado ao patrimônio da União, que está providenciando essa cessão", disse o prefeito.
Para que a intervenção comece, no entanto, é necessária a aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). O projeto será protocolado pelo Executivo na próxima segunda-feira.
Nesta primeira fase, serão realizadas quatro intervenções no Pátio Ferroviário. A primeira, que já está em fase final, consiste na recuperação do prédio da oficina das locomotivas, conhecido como "Relógio". "Foram feitos reparos no telhado, algumas telhas foram substituídas, as vidraças trocadas e as ferragens pintadas", informou a secretária Alexandra Caprioli, da Cultura. A reforma foi feita como contrapartida por um empreendimento imobiliário e, concluída a obra, o prédio será entregue à Cultura.
A segunda intervenção consiste no projeto paisagístico, também elaborado com recursos provenientes de um empreendimento imobiliário. O projeto foi idealizado para reforçar a arquitetura dos prédios, que são tombados. Conforme apresentado, o espaço será um modelo de parque gramado, com árvores que favoreçam a captura de carbono, presença de pequena fauna e flora. O espaço também será composto por bancos e iluminação em LED. Caso o projeto seja aprovado pelo Condepacc, a Prefeitura realizará uma licitação para realizar a obra.
A terceira intervenção consiste na implantação de uma unidade do parque-escola. A intenção é trazer duas coisas que, na visão da Administração, faltam ao Centro: vegetação e crianças. A arquiteta Úrsula Trancoso, do Ateliê Navio, responsável pelo desenvolvimento do parque, explicou que foram utilizados parâmetros pedagógicos para a elaboração do projeto. "O ambiente em que estamos inseridos é o terceiro educador. Essa é uma linha pedagógica do pedagogo italiano Loris Malaguzzi que queremos explorar. O espaço ensina, e em Campinas, estamos querendo ensinar o quê com os espaços que estão sendo oferecidos?", questionou Úrsula.
O projeto funcionará em conjunto com o Programa Primeira Infância Campineira (PIC). "Queremos desenvolver integralmente as crianças, educando para a diversidade, a participação, a inclusão e o livre brincar, pilares importantes para a criança", complementou Úrsula.
A quarta e última intervenção trata do desenvolvimento de um espaço de inovação para empresas de tecnologia. Essa ação envolve a Secretaria de Desenvolvimento e a PUC, e a proposta foi elaborada pelos professores de arquitetura e urbanismo da universidade. Um deles é o professor Fábio Muzetti, que explicou ao Correio Popular que o projeto é um antigo sonho. "Essa ideia teve início ainda no governo do Toninho (PT), mas acabou sendo abandonada. Historicamente, a estação ferroviária, projetada por Prestes Maia, simboliza a segregação da cidade. Tudo que está à frente dele se desenvolveu, enquanto o que está atrás ficou estagnado. Resolver esse problema é um grande sonho para aqueles que estudam urbanismo na cidade", explicou.
PRÓXIMA ETAPA
Apesar da apresentação do projeto na sexta-feira (16), a Prefeitura afirmou que para iniciar as intervenções é necessário obter a cessão completa da área por parte da União. A expectativa é que, após a concretização da ação, o espaço também seja planejado para receber empreendimentos comerciais. Uma parte será destinada à construção do Shopping Popular, onde os camelôs que atuam nas proximidades do Terminal Central serão realocados.
A área pertencente à União corresponde a 200 mil metros quadrados e é considerada um ponto-chave para o desenvolvimento estratégico do município nas próximas décadas. A Prefeitura possui a cessão provisória do espaço há quase um ano. Parte da área também será preservada para futuras instalações do Trem Intercidades (TIC). De acordo com a Prefeitura, as intervenções planejadas para esta primeira fase exigirão investimentos da ordem de R$ 25 milhões.