Nove em cada dez indústrias da região de Campinas esperam sofrer algum impacto econômico devido à disseminação do novo coronavírus — ou Covid-19, como foi recentemente rebatizada a doença — na China. De acordo com dados divulgados ontem pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Campinas, a preocupação é com a alta do dólar e, consequentemente, elevação dos custos de produção. É considerado também um provável desabastecimento de matéria prima e insumos importados do China, que já teve sua produção industrial comprometida pela doença. Diretor da entidade, José Nunes Filho, comentou que alguns setores importantes da indústria local, como eletroeletrônico, automotivo e máquinas e equipamentos, importam mais de 80% de seus insumos e componentes da China. Os reflexos já foram sentidos. Aproximadamente 2,2 mil trabalhadores da Flextronics — cerca de 80% do quadro de funcionários —, instalada em Jaguariúna, pararam anteontem e retornam somente no próximo dia 26. A fábrica da LG, em Taubaté, anunciou que a produção de celulares será paralisada em março, por tempo indeterminado. A fábrica protocolou nesta segunda-feira férias coletivas de 10 dias, valendo a partir do dia 2 de março. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, na semana passada, cerca de 2,5 mil trabalhadores da Samsung, em Campinas, pararam por três dias. Ficou acordado em assembleia, que dois deles serão repostos futuramente. Para o diretor de comércio exterior do Ciesp-Campinas, Anselmo Riso, caso a situação não mude rapidamente na China, os impactos serão sentidos em muitos outros setores. Nunes analisa que o segundo impacto deve ser a majoração no valor das matérias primas. Contudo, contextualiza que a valorização do dólar não é um problema nacional, mas sim mundial. A tendência, pontua, é que a moeda norte-americana permaneça num patamar em torno de R$ 4,10 até o final de 2020. Ontem, a cotação era de R$ 4,36. Otimismo Os dados da sondagem industrial de janeiro deste ano, apresentados ontem pelo Ciesp-Campinas, porém, retratam otimismo por parte dos associados da entidade. Nunes Filho explica que a boa expectativa para 2020 está fundamentada em aspectos macroeconômicos do País. "Estamos vivendo uma economica com Taxa Selic de 4,25%. A mais baixa da história! A inflação prevista para esse ano é de 3,22%", comentou. Esses fatores, elogia, implicam para que o dinheiro seja destinado sadiamente para a produção e não para a especulação financeira. "Quem tem dinheiro vai precisar investir no seu negócio, no de terceiros ou na bolsa de valores. O consumo será movimentado", completou. Nunes Filho disse que a projeção do Ciesp-Campinas é que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 3% neste ano. De acordo com a sondagem industrial de janeiro passado, 33,33% dos empresários que participaram da pesquisa (quantidade não informada pela entidade), aumentaram o volume de produção em relação do dezembro de 2019. Outros 33,33% mantiveram a mesma quantidade, enquanto 8,33% registraram um crescimento acentuado. Já 25% contabilizaram queda. Nunes Filho destacou que 33,33% dos respondentes disseram ainda que o nível de utilização de capacidade instalada de sua empresa está entre 70% e 79%. Esse dado, frisou, indica uma forte retomada e que, em breve, haverá investimento. Metade dos industriais afirmaram que o valor total das vendas aumentou no último mês. A pesquisa ainda indicou que a tendência é que novos postos de trabalho sejam gerados. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, a indústria da região fechou 1.717 postos de trabalho em 2019. Destes, 1.368 em empresas de grande porte, sendo 923 no setor de veículos e 658 para funcionários que tinham somente o Ensino Fundamental completo. Nunes Filho examina que a condição empregatícia está mudando. No passado, afirma, 80% do emprego estava enquadrado dentro da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No momento, muitas pessoas são agentes atuantes da economia e são considerados desempregados pelo governo. Um exemplo, motoristas de transporte por aplicativo e consultores de negócios. Então, o nível de desemprego apreciado não é o existente. O levantamento indica que metade dos respondentes sentiu melhora na economia nacional em comparação com os últimos seis meses. No que diz respeito ao Estado, 33,33% tiveram essa percepção. A economia paulista teve crescimento de 2,8% em seu Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, segundo dados do Banco Central divulgados na última segunda-feira. Com esse desempenho, o estado teve expansão maior que o triplo da média nacional, que esteve em 0,9%. "Os números do Banco Central mostram que nosso trabalho tem apresentado ótimos resultados e vem sendo decisivo para a recuperação da economia brasileira", avaliou Henrique Meirelles, Secretário de Fazenda e Planejamento do Estado. OMS informa que subiu para 1.870 o número de mortos A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ontem que foram registrados 72.528 casos de coronavírus na China, incluindo 1.870 mortes. Em coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça, representantes da entidade informaram que, nas últimas 24h, na China foram diagnosticados clinicamente e/ou confirmados em laboratório 1.891 novos casos de infecção pelo vírus. O diretor do hospital Wuchang, na cidade chinesa de Wuhan, centro do novo coronavírus, morreu ontem de uma pneumonia resultante do Covid-19, informou o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. Liu Zhiming, neurocirurgião de 50 anos, é o primeiro diretor de um hospital a morrer da doença, informou o jornal. Em relação ao navio em quarentena na costa do Japão, a OMS afirmou que outros 99 passageiros foram diagnosticados com o vírus. "Nas últimas 24 horas, houve 110 novos casos de Covid-19 fora da China, incluindo 99 no navio de cruzeiro Diamond Princess", relatou o diretor-geral da Organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Até o momento, são 25 países fora da China registrando a doença, com 804 casos e três mortes. Há ainda 92 casos de coronavírus em 12 países com transmissão entre humanos, informou também a entidade. No Brasil, o número de casos suspeitos subiu ontem de três para cinco, segundo informou o Ministério da Saúde. Os dois novos pacientes em investigação são de São Paulo, estado que totaliza quatro suspeitas — a outra é no Rio Grande do Sul. Os pacientes são três homens e duas mulheres. No total, 45 casos já foram investigados e descartados no Brasil, que continua sem registro da doença. (Das agências) Índice de confiança segue em alta O Índice de Confiança do Empresário Industrial paulista (ICEI-SP) seguiu em trajetória de expansão em janeiro, ao subir de 62,4 para 63,8 pontos. O resultado reforça a retomada da confiança do setor industrial paulista, com o indicador gradualmente se aproximando do seu pico prévio de 65,7 pontos registrado em janeiro do ano passado, período anterior ao movimento de forte queda da confiança observado entre março e maio. Assim, ao permanecer acima dos 50 pontos, a situação é de otimismo por parte do setor. O índice encontra-se acima de sua média histórica (50,2 pontos) e 1,9 pontos abaixo do observado em janeiro de 2019 (65,7 pontos). Já a indústria da região de Campinas exportou US$ 224,3 milhões em janeiro deste ano, cerca de 18% a menos que os US$ 273,5 milhões contabilizados em dezembro de 2019. Em contrapartida, as importações cresceram quase 20% no mesmo período, saltando de US$ 735,6 milhões para US$ 881,9 milhões. Os dados foram analisados ontem pelo diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Campinas, Anselmo Riso, que julga o resultado preocupante. "Não conseguimos identificar ainda se essa será uma grande tendência até o final deste ano ou se já é um reflexo específico em decorrência do que estamos vivendo agora com a crise do Coronavírus", disse. Riso acrescentou ainda que, apesar da boa perspectiva para 2020, que envolve novos investimentos no setor, as industriais demonstravam que as ações seriam mais acanhadas no primeiro setor. Com o surgimento da doença, as grandes aplicações devem ocorrer somente a partir do segundo semestre. Na comparação com janeiro de 2019, quando foram vendidos US$ 254,7 milhões para o Exterior, a indústria da região de Campinas apresentou resultado 11,9% inferior nas exportações. As importações também foram menores, 3,6% a menos que os US$ 914,8 milhões registrados no primeiro mês do ano passado. O levantamento do Ciesp-Campinas apontou também que máquinas, caldeiras, aparelhos mecânicos e suas partes totalizaram cerca de US$ 30 milhões em exportações no primeiro deste ano. No que diz respeito às importações, o segmento que mais se destacou foi o de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, aparelhos de gravação e reprodução, responsável por praticamente um terço dos US$ 881,9 milhões importados na região em janeiro passado. A categoria movimentou perto de US$ 260 milhões.