EM BARÃO GERALDO

Conscientização ambiental terá o seu próprio bloco de Carnaval

Estreia na folia de 2023 pretende engajar a comunidade, poder público e iniciativa privada

Verônica Guimarães/ vero.guimaraes@rac.com.br
31/12/2022 às 07:50.
Atualizado em 31/12/2022 às 07:50
Comunidade local precisa estar envolvida e se sentir responsável pela “saúde” do meio ambiente, na medida em que impacta profundamente este mesmo meio ambiente diariamente (Divulgação)

Comunidade local precisa estar envolvida e se sentir responsável pela “saúde” do meio ambiente, na medida em que impacta profundamente este mesmo meio ambiente diariamente (Divulgação)

Conscientizar a comunidade sobre a preservação ambiental, ocupando um espaço cultural em Barão Geraldo. Este foi o objetivo de um grupo de documentaristas ao criar o grupo de carnaval Bloco do Ribeirão (ou Bloquinho do Ribeirão), que sairá pela primeira vez no Carnaval 2023 do distrito.

Acostumados a projetos dos mais diversificados, a equipe - composta por Hidalgo Romero, Coraci Ruiz e Júlio Matos - buscava uma alternativa para levar população “barãogeraldense” a ocupar o espaço no entorno do Ribeirão das Pedras, pouco conhecido por grande parte dos moradores locais. Ideia partiu de uma série de documentários realizada pelo Laboratório Cisco - produtora da equipe - a partir de viagens aos grandes rios do país, a fim de conhecer os diversos problemas nessas regiões. Hidalgo foi quem dirigiu a série documental e explica que, ao conhecer melhor os diversos projetos ambientais, sentiu-se mais ligado ao pequeno ribeirão do distrito e se pôs a pensar sobre alternativas que pudessem integrar a população local ao ribeirão. 

"Não há como as pessoas se sentirem pertencentes ao espaço se não estão inseridas nele. Prioritariamente, precisamos de um parque linear realmente funcional, no qual as pessoas possam passar a tarde, sentarem-se para um bate-papo e, porquê não, futuramente, pescar", afirmou, enquanto caminhava margeando o ribeirão, em uma pequena área da sua extensão entre o Centro Comercial Tilli Center e o Colégio Rio Branco, na área central do distrito.

Ideia nasceu de conversa 

A Cisco, como carinhosamente é conhecida a produtora, atende à produção de projetos de documentários, filmes e séries. Uma das séries, dirigida por Hidalgo e que a TV Futura comprou os direitos de exibição, trata sobre os conflitos diversos existentes envolvendo os grandes rios do país. "Da Nascente à Foz", percorre os rios São Francisco, Paraná, Tapajós, Tietê, Parnaíba, Doce e Paraguai, mostrando suas águas e destacando as comunidades ribeirinhas. 

"Uma das grandes questões comuns a quase todos os rios que visitamos é a poluição, mas não é a maior. Os conflitos por terra são, de longe, a temática mais complexa. No entanto, a poluição é algo que incomoda muito e precisa de atenção imediata se pensarmos nas próximas gerações que vão precisar de água", revela Hidalgo.

O lançamento da série contou com uma palestra da professora de Engenharia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Emília Vanda Rutkoviski, convidada a falar justamente por ter uma identificação e envolvimento com o tema dos rios. Em uma conversa informal com ela, o documentarista descobriu que recuperar um rio em toda a sua extensão é difícil. "O mais fácil e adequado é partir para a recuperação dos ribeirões, dos pequenos cursos que deságuam nestes rios maiores, porque são muitos e originários de lugares diferentes", disse. 

Ele recorda que aquela informação mexeu internamente com ele e o fez pensar muito a respeito do assunto. "O rio é um elemento integrado à vida das pessoas: banho de rio, lavagem de roupas, pesca... ou apenas para ficar à margem dele apenas observando. A gente vira as costas para os rios no nosso dia a dia, sem nos dar conta de que ele é um recurso e não um bem. Aqui, onde a gente mora, as pessoas evitam o rio por medo da poluição, de ficar doente, dos bichos que possam aparecer. Qual a relação que a gente tem com os rios?"

Foi então que Hidalgo passou a prestar mais atenção ao Ribeirão das Pedras, que corta uma área de Barão Geraldo e poucos moradores conhecem. "Aqui temos vários ribeirões, não apenas esse. Juntamente a meus sócios decidimos que faríamos algo para levar a vivência do Ribeirão à comunidade de Barão Geraldo. Porque sou nascido aqui e não vejo as pessoas daqui se harmonizarem com as riquezas naturais daqui. Precisamos chamar atenção para isso, para a ocupação do solo às margens do Ribeirão e, principalmente, trabalhar a sua preservação."

Conhecer para atuar

Em sua trajetória para concretizar sua ideia, Hidalgo descobriu um projeto de recuperação do Ribeirão com quase duas décadas. "Conversamos com a professora Emília, que envolve os seus alunos no estudo de um pequeno rio da região. Ela, então, topou fazer esse estudo de diagnóstico do Ribeirão das Pedras - desde a saúde da água e do solo até quem são os donos de terras às margens e como se dá a relação da população local com o curso d’água. Esse diagnóstico nos auxiliaria a pensar alternativas para a sua efetiva recuperação". 

Durante as suas andanças sobre o tema, Hidalgo também descobriu em uma escola particular um outro projeto de ações que envolvem a comunidade e o Ribeirão. "O imóvel do Colégio Rio Branco tem os seus fundos voltados ao rio. Está bem à margem do ribeirão. E eles também realizam ações de educação ambiental com os alunos. Não pensamos duas vezes e decidimos unir forças. Desse modo, a escola também foi integrada ao bloquinho de carnaval."

O Ribeirão das Pedras

No bairro Alto do Taquaral existem nascentes de águas, algumas que seguem para a região sul da cidade, formando a Lagoa do Taquaral; e outras que rumam para a região norte, em direção a Barão Geraldo, formando o Ribeirão das Pedras. Após o primeiro quilômetro de extensão, recebe uma vazão um pouco maior de água, bem ao lado de onde hoje se localiza o Parque D. Pedro Shopping. 

Seguindo em direção ao distrito, passa pela Rodovia D. Pedro e entra no distrito pela Fazenda Santa Genebra, em direção à Mata Santa Genebrinha. Já na região central, atravessa a Av. Romeu Tórtima, na altura do Colégio Rio Branco, e segue até o Parque Linear Ribeirão das Pedras. De lá, ruma até as proximidades da entrada da Fazenda Rio das Pedras, onde recebe águas da Lagoa Chico Mendes, do Parque Ecológico - localizada na Unicamp.

Seguindo em direção ao Condomínio Barão do Café, o rio recebe água das lagoas da Fazenda Rio das Pedras, que são alimentadas por várias pequenas nascentes, incluindo um riozinho da Mata Santa Genebra, que atravessa a Rod. Prof. Zeferino Vaz, a Campinas-Paulínia. Finalmente, na Estrada da Rhodia, o Ribeirão das Pedras finaliza seu percurso de nove quilômetros, encontrando o Rio Anhumas.

O Bloquinho do Ribeirão

Em 2023 será o primeiro carnaval do bloco, destinado às crianças, principalmente. "O envolvimento com o meio ambiente tem que começar pelas crianças. Elas precisam estar ali, fazendo parte do rio, vivenciar a experiência de ocupar esse solo que é nosso", justifica o comentarista. Por isso, o desfile será durante o dia e já tem data definida. "Vamos sair no domingo de manhã, com a concentração marcada para às 9h. A ideia é ter todo mundo fantasiado. Vai ser uma brincadeira com muita música e meio ambiente", adianta Hidalgo.

O roteiro será um pequeno percurso do Ribeirão das Pedras entre o Centro Comercial Tilli Center até o Colégio Rio Branco. "Vamos caminhar por ali que é, justamente, onde queremos promover um parque linear, com iluminação, bancos para sentar e isso não é difícil nem caro. Um novo espaço para que as famílias possam passar o tempo e se divertir à vontade".

Ele finaliza convidando os interessados a integrar as ações. "Principalmente o setor privado que queira destinar contrapartidas à recuperação do rio. Todo mundo ganha!", finaliza.

Aulas ao ar livre 

Há mais de 20 anos o Colégio Rio Branco, ao lado do Ribeirão, realiza atividades com os alunos sobre as questões ambientais. Desde como preservá-lo até realizar a limpeza do entorno e plantio de árvores frutíferas.

Segundo o professor de Geografia da escola e um dos idealizadores das ações de estudo do meio do colégio, Donizete Praxedes da Rosa, a disciplina vem sendo aperfeiçoada com o passar dos anos, deixando de ser uma matéria meramente descritiva para adentrar em âmbitos mais profundos e analíticos. “Trabalhamos os alunos e a comunidade para se sentirem sujeitos, estando cada vez mais engajados ao planeta.” 

Ele detalhou o projeto desenvolvido na escola. "Foi todo um processo de recuperação e regeneração de uma área que estava bem degradada. Houve um avanço não apenas na região da nascente como no parque linear que queremos, efetivamente, que seja aproveitado pela comunidade. Ali, as pessoas vão poder fazer caminhadas, observar e aprender com a natureza. A geografia e a ciência nos permitiu sair das quatro paredes de uma sala de aula, oportunizando aos alunos experienciar mais o mundo em que estão inseridos". 

O professor afirma que apenas neste ano foram mil mudas de árvores plantadas nas margens do Ribeirão. "Tivemos plantio de mudas, com o marco do início da primavera e depois com os alunos no estudo do meio. Tem sido um trabalho intenso. E isso ocorre com a parceria entre os alunos, famílias e a comunidade.”

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