Maria Tereza Peregrino e o namorado, Anderson: ela confessou o crime ( Leandro Ferreira/AAN)
A comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acusa a reitoria de omissão na condução de uma política de lazer e cultura dentro da universidade e que, mesmo proibindo, é conivente com as festas que levam milhares de pessoas ao campus sem que, segundo eles, haja estrutura de segurança e de atendimento à saúde. Passados cinco dias do assassinato do estudante Denis Casagrande, de 21 anos, esfaqueado durante briga em uma festa clandestina, a comunidade cobra da reitoria medidas para evitar que outras mortes ocorram no campus. Em nota, a assessoria de imprensa contestou ontem que a Unicamp não tenha uma política de cultura e lazer. Uma manifestação sobre o assunto deverá ser divulgada amanhã, quando o reitor José Tadeu Jorge concederá uma entrevista à imprensa.A comunidade quer que a universidade participe da organização das festas, cuidando da infraestrutura, da segurança, da assistência médica e exige um debate sobre uma política de lazer e cultura e também de segurança dentro do campus. Por enquanto, evita o debate sobre a presença da Polícia Militar no policiamento preventivo, mas defende que a universidade deve ter equipe de vigilância com “prioridades para as pessoas e que não se preocupe apenas com a proteção do patrimônio material”.“Ao proibir as festas, a universidade lava as mãos sob sua responsabilidade de definir uma política de cultura e lazer. Proibir não significa que as festas não irão ocorrer. Nunca teve festa autorizada pela reitoria. Historicamente todas as festas são clandestinas, mas não dá para dizer que sejam de fato, porque são amplamente divulgadas, atraem pessoas de fora da comunidade. A universidade se omite para não assumir sua responsabilidade em uma política de lazer e cultura”, disse Carolina Pinho, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).Segundo ela, a comunidade está aberta a discutir essa política necessária, mas nunca é chamada. “Nós queremos um debate de verdade, com responsabilidades divididas. Não dá mais para a universidade ficar fazendo de conta que não tem festa, com 3 mil, 4 mil pessoas.”O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), Antônio Alves, defende a continuidade das festas dentro da Unicamp porque são momento de vivência da comunidade. “A questão é que a Unicamp tem de regulamentar a forma como elas ocorrem e isso significa fornecer toda a infraestrutura necessária, que vai desde a segurança até atendimento médico. É inadmissível uma atividade com 3 mil pessoas sem nenhuma ambulância para atender qualquer eventualidade”, disse.Para ele, a Unicamp está sendo omissa e tem que assumir sua responsabilidade. “Tem que parar de lavar as mãos, sentar com a comunidade e discutir uma forma de regulamentar as festas para evitar que outros fatos lamentáveis como a morte do estudante ocorram. O que temos hoje é que a reitoria finge que não há festas, mas elas estão ocorrendo”, afirmou o coordenador do STU.O Diretório Central dos Estudantes (DCE) afirmou, em nota, que há dez anos, quando em uma festa dentro do campus houve a morte de outro estudante, em um caso semelhante ao de Denis Casagrande, a resposta imediata da reitoria foi a proibição das festas. “Hoje, diante dos fatos, se vê que essa resposta se mostrou ineficaz. A criminalização dos estudantes definitivamente não é solução para a onda de violência que acaba de vitimar mais um jovem”, afirma.Para o diretório, ao tratar as atividades de vivência como se não fossem responsabilidade sua, a reitoria se exime de debater e propor políticas que levem em conta a garantia de maior segurança na universidade e em seu entorno, como a maior contratação de seguranças e a valorização de suas condições de trabalho e salário, nos serviços terceirizados.O Conselho Discente da Engenharia de Controle e Automação — curso frequentado pelo estudante assassinado — afirmou, em nota, que as atuais políticas de segurança da Unicamp precisam ser urgentemente reelaboradas. “Com o recente acontecimento, foi evidenciada a necessidade de uma equipe de vigilância com prioridades humanitárias, que não se preocupe apenas com a proteção do patrimônio material. Questões relacionadas às condições de trabalho e treinamento dos funcionários devem ser levantadas para que situações como essa não voltem a acontecer”, afirmou