55% dos entrevistados no levantamento possuem dívidas no cartão de crédito; além dos gastos em supermercados, entrevistados atribuíram endividamento a compras de produtos (46%) e cuidados com a saúde (37%) (Rodrigo Zanotto)
Uma pesquisa divulgada pela Serasa revelou que 55% dos brasileiros endividados têm dívidas de cartão de crédito. Desses, 59% afirmaram ter dívidas em compras de supermercados, o item mais citado. A pesquisa “Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2023” ouviu, ao todo, 11.541 pessoas maiores de 18 anos em todo o país no mês passado. A apresentação dos dados acontece em um momento que a inadimplência bate novo recorde na Região Metropolitana de Campinas (RMC), tanto no número de devedores quanto no montante.
Para a diretora do Serasa Crédito, Amanda Rapouzo, o resultado da pesquisa mostra que os consumidores estão usando o cartão de crédito para “pagar contas que não conseguem quitar por outros meio de pagamento à vista.” Porém, ela alerta que essa modalidade de pagamento é um tipo de empréstimo e precisa ser encarado com muita responsabilidade, como qualquer operação financeira.
De acordo com a empresa de análise de crédito, as dívidas de cartão de crédito impactam 55% dos brasileiros endividados em 2023, dois pontos percentuais acima do que era em 2021 e 2022. Nos anos anteriores à pandemia de covid-19 esse índice era ainda maior, sendo de 76% em 2018 e 71% em 2019. Para ela, os dados mostram que a volta da rotina fora de casa levou a uma aceleração de gastos com cartão de crédito.
Entre os entrevistados pela pesquisa, 52% foram homens e 48% mulheres. Os participantes podiam apontar mais de uma fonte de dívidas. Dos inadimplentes no cartão de crédito, 46% disseram possuir dívidas por compras de produtos como roupas, calçados e eletrodomésticos, a segunda maior porcentagem. Em seguida, estão os gastos com remédios e tratamentos médicos, com 37%.
CONSUMIDORES
“Eu uso o cartão de crédito porque os produtos (que utiliza para trabalhar) acabam fora do dia do pagamento”, disse a faxineira Taís Paiva. Na terça-feira (14), ela precisou recorrer a esse meio para pagar as compras em um supermercado. Taís admite que o cartão serve como um “puxadinho” do salário, recurso usado para esticar o poder de consumo quando o dinheiro acaba. Para evitar a repetição de problemas gerados pela inadimplência, que já a levaram a renegociar uma dívida no passado, Taís busca limitar os gastos com cartão apenas ao que considera essencial.
Outra consumidora que vê nesse meio uma forma de cobrir as necessidades imediatas é a auxiliar de limpeza Vanusa de Oliveira. “Você ganha um prazo maior para pagar”, justificou. Já o operador de produção Davi Camargo avaliou que o cartão de crédito traz outra vantagem. “Eu uso para acumular pontos e trocar por prêmios”, disse. Ele evita atrasar ou parcelar a fatura por contas dos juros, que considera altos. Atualmente, os juros médios anuais do rotativo do cartão de crédito chegam 445,7%, segundo dados do Banco Central.
INADIMPLÊNCIA
Para o economista e educador financeiro Francisco Rodrigues, o alto índice de dívidas com uma despesa fixa mensal, como as compras de supermercado, explica o fato da inadimplência aumentar, apesar das diversas campanhas de renegociação de dívidas lançadas recentemente, como o Desenrola Brasil, criado pelo governo federal, e os feirões abertos por empresas de análise de crédito.
“As pessoas estão atrasando contas básicas, incluindo água e luz. O trabalhador acaba sendo obrigado a escolher o que comprar e o que pagar, porque o salário não tem sido suficiente para dar conta de todas as despesas”, afirmou.
Outro dado da pesquisa do perfil do endividamento mostrou que 83% dos entrevistados dizem que já atrasaram o pagamento de outro tipo de conta porque tiveram de priorizar o pagamento de uma conta de água, luz ou gás.
O levantamento apontou ainda que, para 83% dos participantes, o valor gasto mensalmente com essas três despesas chega a R$ 750, o equivalente a 56,82% de um salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.320.
O total de inadimplentes na Região Metropolitana de Campinas chegou em setembro ao número recorde de 1.125.141, de acordo com balanço mensal divulgado pela Serasa. O resultado representa uma alta de 4,54% em comparação aos 1.076.302 consumidores com contas em atraso de dezembro de 2022. Ou seja, 48.839 nomes foram incluídos na lista de devedores da empresa nos primeiros nove meses deste ano, número equivalente a soma de toda a população de três cidades da RMC – Holambra, Morungaba e Engenheiro Coelho.
Nos últimos quatro anos, segundo a empresa de análise de crédito, a região ganhou 139.310 novos inadimplentes. Isso representa uma alta de 14,13% em relação aos 985.831 registros de novembro de 2019, que é o último ano com dados disponibilizados pela Serasa.
O número de devedores aumentou em 19 das 20 cidades da região de agosto para setembro. A exceção é Holambra, onde o total caiu em números absolutos de 3.807 para 3.771. Em Campinas, o aumento de um mês para outro foi de 1,45%, com o total passando de 439.788 para 446.151. No acumulado de 2023, o aumento no número de devedores na cidade chega a 4,95%, quando comparado aos 425.091 de dezembro do ano passado.
De acordo com os dados da Serasa, o total de dívidas em atraso em Campinas é de 1,88 milhão, o que dá a média de 4,23 contas em atraso por inadimplente. O valor médio das dívidas por devedor é de R$ 6,28 mil.
O número de devedores na RMC em setembro seguiu a tendência de alta registrada no Brasil. Os dados do levantamento realizado pela Serasa em setembro indicaram um aumento 1,12% no número de inadimplentes no país, sendo o segundo mês consecutivo de crescimento.
Em setembro, o total de devedores no país chegou a 71,82 milhões, contra 71,74 milhões de agosto. As faixas etárias com as maiores fatias da população com nome restrito são de 41 a 60 anos, representando 34,9%, e 26 a 40 anos, correspondendo a 34,5% do total de inadimplentes. A faixa etária acima de 60 anos tem uma participação de 18,4%.
No Brasil, as contas em atraso somam R$ 366,8 bilhões, aumento de 3,32% em comparação a agosto. No total são 270,53 milhões de dívidas, com valor médio de R$ 5,1 mil por pessoa. A maior proporção de devedores é no Rio de Janeiro, onde a taxa de inadimplência é de 53,38%. No Estado de São Paulo, o índice é de 46,33%. A unidade da federação com a menor taxa é Santa Catarina, 37,09%.
A Serasa realiza a campanha Limpa Nome para renegociação das dívidas, com descontos que podem chegar a 90%. Em setembro, o total de descontos concedidos chegou a R$ 8,96 bilhões, com o valor médio de cada acordo ficando em R$ 774,88.
A empresa divulgou que, no momento, há 452 milhões de ofertas disponíveis para negociação na Limpa Nome. No total, são mais de R$ 664 bilhões em ofertas disponíveis.
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