Setor de pescados do Mercadão esteve lotado de consumidores ontem : sardinha, bacalhau, corvina, tilápia e cação são os peixes mais procurados (Rodrigo Zanotto)
A sazonalidade da Páscoa deve afetar positivamente o comércio de chocolates e pescados em Campinas, embora de maneira mais tímida. Projeções da Associação Comercial de Industrial de Campinas (ACIC) estimam um aumento de aproximadamente R$ 10 milhões nas vendas, o que representa um crescimento de 0,20% em relação ao valor registrado no ano passado, da ordem R$ 142 milhões. Entre os comerciantes, o cenário é de otimismo e recuperação dos caixas afetados durante os anos de pandemia. No Mercado Municipal de Campinas, o Mercadão, uma multidão se aglomerou no espaço das peixarias em busca dos pescados. Entre os produtores e comerciantes de chocolate, tem até quem vai aproveitar a data para se lançar no mercado.
O espaço apertado do corredor das peixarias do Mercadão ficou tomado pelas centenas de pessoas que esperavam pela vez de comprar pescados. O peixeiro Hugo Daniel Barros, de 25 anos, teve dificuldade para conversar com a reportagem e enfrentou olhares furiosos de clientes que o aguardavam. "Me chamaram para dar uma força aqui porque a correria é intensa. Não é a primeira vez que venho (na Semana Santa), sempre me chamam. Não para, correria o tempo todo", disse. "Eu estive aqui no ano passado e, na minha opinião, esse ano tá mais cheio", concluiu. A peixaria em que Barros trabalha contratou três peixeiros a mais para dar conta da demanda.
Há 38 anos no local, o comerciante no ramo de especiarias Tito Camarini, de 78 anos, teve que se desdobrar junto à equipe para vender o seu Bacalhau Salgado Seco, produto mais procurado no período. Camarini espera fazer caixa para atravessar o tempo de reformas do prédio que, conforme revelado pelo Correio Popular, deve começar em aproximadamente 40 dias. "Em termos de movimentação, eu não gosto muito da Semana Santa, não dá tempo de fazer aquele atendimento com calma ao cliente, que me agrada muito. Mas a gente espera um aumento de no mínimo 10% nas vendas para nos ajudar na recuperação desse período difícil e para aguentar as pontas até o fim das obras", disse.
De acordo com os peixeiros, os pescados mais procurados são a sardinha, bacalhau, corvina, tilápia e cação. A atendente de lanchonete Márcia Vieira, de 32 anos, vive em Campinas há apenas seis anos, mas já tem o Mercadão como referência. "Eu sou nordestina, então de peixe fresco eu entendo. Aqui tem mais variedade e preço melhor, então vale a pena enfrentar as filas", falou. O queridinho da Márcia é a corvina, peixe com valores mais em conta. Sobre preço, a atendente disse que não notou grande diferença em comparação com o ano passado. Um levantamento feito pelo Correio Popular em fevereiro mostrou que os peixes mais populares, caso da corvina, não tiveram reajuste do ano passada para cá. Já o preço médio geral teve um aumento de 20%, conforme analisado.
Segundo a ACIC, além do aumento de vendas, a Páscoa neste ano deve gerar mais empregos temporários que no ano passado. O ticket médio de gastos dos consumidores também aumentou. Em relação às vendas, o montante registrado no ano passado foi de R$ 142,5 milhões, valor que, conforme a estimativa, deve ser superado em cerca de R$ 10 milhões, ficando na casa dos R$ 151,5 milhões. Já as contratações temporárias somaram 343 em 2022, ante 353 (já registradas) em 2023. Por fim, o ticket médio variou positivamente em R$ 5, saltando de R$ 115 para R$ 120 entre os anos.
O economista e diretor da ACIC, Larte Martins, aponta um crescimento ainda abaixo das vendas anteriores à pandemia. "Avaliando a previsão de vendas da Páscoa atual, ainda ficam abaixo das vendas anteriores à 2020. As vendas de ovos de Páscoa e chocolate devem crescer menos em 2023, em função da situação econômica e financeira do segmento, que teve os custos de produção elevados. O impacto do dólar, da inflação e do cacau elevaram em 4,35% os custos de produção", analisou na divulgação do números.
Uma empresa do ramo de chocolates sediada em Campinas estima um crescimento de cerca de 10% em relação ao ano passado. A assessoria de comunicação informou que a produção ficou na casa dos 4 milhões de ovos, que são enviados para todo o Brasil. A Páscoa representa para a empresa 20% dos negócios da categoria.
Outra empresa, agora do ramo de sobremesas, decidiu aproveitar o período para crescer no segmento de chocolates. O sócio fundador Mateus Matana, de 32 anos, disse que vê no período uma "ansiedade" por parte dos clientes que é benéfica ao negócio. "As pessoas esperam a Páscoa para comer o chocolate. A diferença de outros períodos sazonais, como Dia das Mães, por exemplo, é de que é uma data para todos, da criança ao adulto", explicou. A loja investiu na temática de 'corte' para atrair os clientes. Os produtos variam entre R$ 50 e R$ 250. "Para nós, que trabalhamos com outros produtos ao longo do ano e estamos querendo crescer no ramo de chocolates, é uma ótima ferramenta de projeção", concluiu.
Cuidados
O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Campinas realizou uma pesquisa de preços com os produtos comercializados em razão da Páscoa, como ovos, chocolates em barra e colomba pascal. O órgão registrou variações de até 60% para o mesmo produto em diferentes comércios da cidade. Apesar de alto, o percentual é menor que o ano passado. "O mercado se regula com base na demanda dos clientes. As pesquisas de preço ajudam, justamente, a conscientizar o comerciante de que se ele não praticar preços dentro da normalidade, ele vai perder vendas. Por isso é importante ficar atento às pesquisas de preço", alertou o assessor especial do Procon, Francisco Togni.