Com a ampliação da imunização contra o novo coronavírus e a flexibilização das medidas sanitárias, Campinas registrou um forte aquecimento no setor de eventos culturais, sociais e esportivos este ano (Kamá Ribeiro)
O número de alvarás concedidos pela Prefeitura autorizando eventos culturais, empresariais, sociais e esportivos em Campinas cresceu 91,83%, mesmo quando comparados apenas os primeiros seis meses deste ano com todo o ano passado. Os dados foram fornecidos pela Secretaria de Planejamento e Urbanismo (Seplurb) do município. De acordo com o levantamento, 188 eventos foram promovidos no primeiro semestre de 2022, enquanto ocorreram 98 em todo o ano passado.
O pequeno número de eventos no ano passado é justificado pelas várias alterações ocorridas sobre permissão e proibição de eventos na cidade durante as fases mais duras da pandemia de covid-19. Além disso, a digitalização de todo o processo de concessão de alvarás contribuiu para o grande aumento de eventos no primeiro semestre de 2022.
A secretária de Planejamento e Urbanismo, Carolina Baracat Lazinho, explicou que o fato dos pedidos serem feitos de forma digital contribuiu para o aumento, porque os processos se tornaram mais rápidos. Além disso, ela cita que a volta à normalidade, após um período intenso de pandemia, também ajudou nesse crescimento.
"Isto é um reflexo do retorno à normalidade e a uma rotina de festas, confraternizações e outros eventos. Tivemos festas juninas, festas universitárias, que ajudaram nesse crescimento. Ainda temos casos de covid, mas é um número muito menor. Além disso, tudo pode ser feito de forma online, o que contribui para a celeridade das ações. Quando toda a documentação está em ordem, a liberação sai mais rápido", afirmou.
Campinas tem uma categoria, criada em março deste ano, que libera a exigência de autorização para algumas atividades. Os eventos foram definidos no texto com base na quantidade de público. As atividades com até 200 pessoas estão dispensadas de alvará desde que não haja controle de acesso, barreiras que impeçam o trânsito livre ou ainda estruturas metálicas temporárias como arquibancadas, camarotes e palcos.
Junho foi o mês com mais alvarás de eventos concedidos pela Prefeitura este ano — foram 69, seguido por maio (34) e abril (29). Já no ano passado, dezembro liderou o ranking com 35 eventos, outubro teve 20, e tanto setembro como novembro, 16.
Encontros empresariais voltaram a ser realizados presencialmente, retomando o volume de eventos desse segmento na cidade (Kamá Ribeiro)
Cautela
O especialista em gestão financeira para micro e pequenas empresas, Fábio Favari, avalia que o momento é bom para o retorno dos eventos, mas que os produtores devem ter cautela para não investir grandes somas de dinheiro e deixar de obter o retorno desejado. "Um dos pontos interessantes é o pessoal observar o que ocorreu nos últimos dois anos. Sei que a maioria ficou parada, mas algumas pessoas conseguiram realizar eventos remotos e aprender com os erros cometidos neste período, para não dar um passo maior que a perna", afirmou.
Favari orienta os produtores a montar, por exemplo, uma planilha básica, com entrada e saída de dinheiro, para o profissional ter controle dos recursos e poder aplicar a experiência obtida no próximo evento, como forma de otimização. "Outra coisa que pode acontecer é a união das pessoas. Em um evento um pouco maior, há o transporte, gastronomia, bebida, shows. Esses setores podem se juntar para ter uma melhor diluição dos gastos. O importante é sempre olhar para o que foi feito e fazer os ajustes necessários para que os custos sejam mais bem aplicados. Ou, então, ter uma variedade maior para atrair um público diferente", comentou.
Mudanças
Proprietária de uma produtora, Karina Marins, trabalha realizando shows em bares de Campinas e região, onde contempla majoritariamente bandas independentes — a maioria de rock e suas várias vertentes, mas também de reggae e ska (gênero musical originado na Jamaica), entre outros. Ela avalia que a pandemia foi um grande problema durante muito tempo, principalmente porque a produtora estava dando seus primeiros passos, começando a atuar na área.
"A pandemia me pegou pelo calcanhar. A produtora tinha poucos meses de vida, tinha feito apenas alguns eventos e estava indo muito bem, o público nos abraçou e estava contando com mais eventos com a qualidade que me propus a entregar para o pessoal que curte, consome e apoia os artistas independentes. Fora isso, planos com a Mutante Radio tiveram que ser adiados, e ainda estão em fase de novo planejamento, pois são coisas grandes que merecem todo nosso cuidado, pois ainda temos algumas inseguranças em relação à covid e outras doenças que infelizmente atormentam a humanidade", disse.
Karina contou que, durante o período sem eventos presenciais, começou a fazer lives, nas quais atuou também como apresentadora. Ela considera que conseguiu se fortalecer com isso. "Foram dois anos de batalha até a gente voltar aos eventos presenciais, com restrições liberadas aos poucos. Mas tudo isso serviu para mostrar a importância que a cultura tem na vida de todo mundo e deve ser apoiada em suas mais diversas manifestações", contou.
No futuro, a produtora acredita que a área vai continuar crescendo. "Apesar das atuais dificuldades, eu vejo e vivo na pele o quanto o povo quer e está carente de eventos culturais. Todos os eventos dos quais participei ativamente na produção foram um enorme sucesso. Ver as famílias reunidas, aproveitando os eventos, ver os amigos juntos, curtindo com alegria, é algo recorrente. Mas mesmo com algum receio ainda, estou otimista", finalizou.
