URBANISMO

Cidade ideal é aquela feita para as pessoas

Cidade inteligente é aquela projetada para as pessoas, e não para os carros

Cecília Polycarpo Cabalho
cecilia.cebalho@rac.com.br
16/06/2013 às 11:11.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:45

Imagine morar em uma cidade em que você consiga fazer tudo no raio de um quilômetro. Trabalhar, fazer compras, ir ao banco, café, bares e restaurantes. Em deslocamentos mais longos, você pode pegar o metrô ou o trem com facilidade. Ou mesmo utilizar uma bicicleta ou um veículo elétrico compartilhado. O trânsito é controlado e as principais vias são fechadas para automóveis. As residências são pequenas, funcionais, baratas, de boa qualidade e utilizam fontes de energias alternativas. As ruas arborizadas e os parques, acessíveis e bem cuidados.

O local fictício descrito acima ainda é distante da maioria dos brasileiros, mas começa a ser realidade nos municípios mais populosos de países da Europa, Ásia e América do Norte. São comunidades projetadas para pessoas, e não para carros, com base no conceito de cidades inteligentes. Nelas, as soluções para o adensamento populacional e mobilidade urbana lançam mão do que há de mais moderno em recursos tecnológicos e planejamento urbanístico. Esse novo paradigma, que deve nortear o zoneamento das principais metrópoles mundiais, foi apresentado no último dia 6, no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD), em Campinas.

Especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e do laboratório internacional ÁgoraLab falaram sobre intervenções arquitetônicas realizadas no exterior e formas alternativas de transporte. E avisaram: o Brasil está atrasado em relação às cidades inteligentes. A notícia boa, segundo o engenheiro e diretor do ÁgoraLab, Eduardo Moreira da Costa, é que muitos novos prefeitos estão interessados no assunto e dispostos a utilizar o conceito para elaborar projetos aos municípios.

Diretor do grupo de pesquisa Changing Places, do MIT, e especializado em sistemas de mobilidade, Kent Larson acredita que os bairros devem sim ter alta densidade demográfica e que a verticalização consciente ajuda a diminuir os deslocamentos nos grandes centros. A ideia de uma cidade espalhada, com vários condomínios fechados na periferia, é ultrapassada para Larson. Ele apresentou no CPqD fatores que tornam uma cidade resiliente, ou seja, intervenções que deixam os municípios menos vulneráveis a catástrofes e propiciam maior bem-estar aos cidadãos.

A principal delas é incentivar a oferta de serviços diversificados dentro do mesmo bairro. As vizinhanças devem proporcionar aos habitantes trabalho, moradia, lojas e diversão à distância de uma caminhada de 10 minutos. “A ideia de uma cidade setorizada, em bolhas industriais, comerciais e residenciais, é ultrapassada e impraticável nos dias de hoje. Esse tipo de urbanização pressupõe que todos tenham carro e acesso a transporte público de qualidade, o que nem sempre é viável”, explicou.

Larson e colaboradores do Changing Places fazem maquetes de Lego para planejar novos bairros. O resultado final é computadorizado e transformado em uma maquete virtual. Nos projetos da equipe, as casas são pequenas, funcionais e híbridas. A sala do apartamento é também o quarto, e pode se transformar ainda em um salão de festas, ajeitando os móveis. “Os jovens estão dispostos a morar em ambientes menores para estarem nos melhores bairros e perto do trabalho.”

Transporte

Para o pesquisador do MIT Media Lab, Praveen Subramani, o espaço que os carros ocupam hoje na cidade, no trânsito ou parados, é precioso, e deveria ser destinado a pedestres. Um levantamento feito pelo Media Lab concluiu que 30% de áreas em bairros nobres das maiores cidades dos Estados Unidos são usadas para estacionamentos. E a melhor resposta para esse problema, segundo ele, é um sistema de transporte público inteligente, interligado a veículos individuais compartilhados. Subramani trabalha com tecnologias para baterias elétricas, redes de energia e infraestrutura urbana para veículos elétricos, e desenvolveu um projeto de bicicletas, scooters e carros compartilhados. “Esse sistema oferece uma grande variedade de modelos, de acordo com a necessidade de cada usuário. Ele retira o veículo elétrico de uma base próxima à sua residência e depois o devolve em outra base, no local de destino”, explicou. O carro projetado pelo pesquisador é retrátil e ocupa 1/3 de espaço de um sedan comum em estacionamentos. “Os veículos oferecem um modelo de negócio interessante até para as montadoras. Elas precisam começar a abrir os olhos para alternativas viáveis ao caos que as metrópoles se encontram hoje.”

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