A agente de organização escolar Shislaine de Souza, que estava com sintomas de covid, teve que ir para casa (Kamá Ribeiro)
O Centro de Saúde Jaime César Corrêa Lima, no Parque da Figueira, suspendeu os atendimentos ontem em Campinas, após uma enfermeira ser agredida por uma paciente no período da manhã. Os atendimentos devem ser retomados hoje.
Segundo o coordenador do Distrito de Saúde Sul, Jorge Mendes Ávila, uma paciente compareceu na unidade de saúde para solicitar uma receita, que ainda não estava no prazo para a retirada, conforme o protocolo estabelecido pelo CS. Ao ser informada disso, a mulher agrediu a enfermeira que prestava o atendimento. Depois, a usuária foi embora.
A polícia foi acionada e um boletim de ocorrência foi registrado no 5º Distrito Policial de Campinas. A profissional que sofreu as agressões também passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
A Secretaria de Saúde não autorizou a reportagem a conversar com a funcionária vítima de agressão e nem com a equipe da unidade de saúde.
Devido à ocorrência, o CS cancelou todos os atendimentos no final da manhã e tarde de ontem e colocou cartazes nos cercados da unidade informando que estaria fechada.
Entre as 13h30 e 14h, a reportagem do Correio Popular esteve em frente ao Centro e flagrou 10 pacientes que buscavam atendimento. Leonice Gonçalves, de 59 anos, precisava dos remédios controlados para o pai e o irmão. Para o pai, eram duas receitas com três medicamentos, já para o irmão, uma receita de nove remédios. “Agora vou ter que ir em outro posto”, lamentou.
Além da medicação, muitas pessoas buscavam a vacina da covid-19, da gripe e testes para coronavírus. “Não tenho nem condições de ir para outro lugar, sinto-me tão mal”, disse a agente de organização escolar Shislaine Muniz de Souza, de 40 anos, ao se deparar com os portões fechados. “Sou funcionária da escola e estou com um encaminhamento para fazer teste de covid. E aí? Como posso voltar a trabalhar sem ter uma certeza sobre o diagnóstico?”
Shislaine disse que há quatro dias vem sentindo dores no corpo e na cabeça e a garganta fechada. Ela mora a cerca de dois quilômetros do centro e foi andando até o local. Sem conseguir o atendimento, ela se preocupou com o que iria fazer. “Vou ter que ir pra casa doente. Não vai ter outro jeito.” Sobre os atendimentos serem interrompidos devido à agressão, ela lamentou, mas também criticou todo o serviço ser cancelado. “Acho lamentável ter chegado ao ponto de agressão, mas acho lamentável também outras pessoas serem punidas por um ato que não foi feito pela população. Essa pessoa que foi agredida poderia ter sido retirada, feito um boletim de ocorrência, mas os outros funcionários poderiam seguir trabalhando. Não vejo motivo de fechar o posto. Eu fico postergando porque sempre o atendimento é complicado. E quando vi que não aguentava mais, vim, mas não consegui. Agora vou chamar um Uber, porque não tenho condições de voltar a pé sem atendimento.”
A biomédica Isadora Nunes, de 28 anos, que sofre de uma doença autoimune, foi em busca da dose de reforço da vacina contra a covid-19. Ela também ficou surpresa, mas se solidarizou com os funcionários. “Não dá para tirar a razão”, disse sobre a suspensão dos atendimentos. “Vai atrapalhar minha agenda, mas pior é passar por uma agressão.”
A expectativa é de que os atendimentos sejam retomados a partir de hoje. Em nota, a Secretaria de Saúde de Campinas também esclareceu que as consultas que não foram realizadas ontem serão reagendadas “para o mais breve possível”.
Nota oficial
Por meio de nota, a Pasta da Saúde se manifestou: “A Secretaria Municipal de Saúde lamenta o ocorrido e reforça que a violência jamais é a resposta, sendo o diálogo o melhor caminho para a solução dos conflitos. A pasta informa ainda que o Centro de Saúde Figueira destaca-se por importante protagonismo no atendimento durante a pandemia e na campanha de vacinação contra a covid-19 e a gripe”.