A Academia Campinense de Letras (ACL) completa hoje 64 anos da sua fundação. A instituição, que no começo não tinha sede própria e dependia de espaços improvisados, teve no ex-prefeito Lauro Péricles Gonçalves (MDB) um benfeitor histórico. A entidade alcança essa longevidade cada vez mais integrada à sociedade. A ACL foi fundada pelo linguista, e então secretário de Educação e Cultura de Campinas, Francisco Ribeiro Sampaio. Ele também era titular da cadeira de filologia (estudo da linguagem em fontes históricas escritas, incluindo literatura, história e linguística) da PUC-Campinas. Seu objetivo era reunir os escritores, os cultos da cidade. A sessão de posse e instalação aconteceu no dia 22 de novembro daquele ano e ele mesmo foi eleito presidente. Nos moldes da Academia Brasileira de Letras (ABL), a instituição campineira é composta de 40 cadeiras de provimento vitalício. Na instalação foram escolhidos 16 nomes para integrar o corpo acadêmico de fundadores. Esse grupo elegeu outros 24 literatos para compor o primeiro quadro de imortais. Inicialmente, as reuniões ocorriam em um espaço nas dependências do Teatro Municipal, que foi demolido em 1965. Durante décadas, as sessões aconteceram em locais improvisados. Já na década de 1970, a academia dispunha de duas salas no Edifício Rio Branco, na Avenida Francisco Glicério, onde mal cabiam 20 pessoas, segundo relato do escritor Jorge Alves de Lima, de 82 anos, atual presidente da ACL. O destino começou a mudar no dia 20 de abril de 1974, na posse de Francelino Araújo Piauí, realizada no prédio do Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA). "O prefeito Lauro Péricles (de janeiro de 1973 a janeiro de 1977) foi convidado, assistiu à posse e participou do coquetel. O então presidente, Licurgo de Castro Filho, pediu ao Lauro uma verba para alugar uma sala maior. O prefeito pediu para que ele fosse ao gabinete dentro de cinco dias", conta Lima. A comitiva que foi ao gabinete pensava que teria de convencer o prefeito, mas se surpreendeu. "Eles ficaram chocados porque o Lauro apresentou um desenho, feito por ele mesmo, com os primeiros riscos da obra. Dali do quarto andar, ele abriu o vitrô e, aproveitando que na época não tinha muitos prédios, mostrou onde ficava o terreno para a nova sede", narra Alves de Lima. "Os acadêmicos me procuraram e eu tive a ideia de um prédio próprio, um templo grego. Eles ficaram arrepiados, supercontentes", rememora o ex-prefeito Lauro Péricles, com 84 anos atualmente.Lauro diz que sempre se interessou por cultura, desde a infância. "O meu primeiro livro eu ganhei da minha mãe, ainda em Poços de Caldas. Chamava-se O Patinho Feio, que ganhei quando fiquei doente. O segundo foi O Homem que Calculava, também quando fiquei doente. Tenho eles até hoje. Além disso, Campinas sempre foi uma cidade de muita cultura, mesmo que hoje tenha mudado muito", afirma. A construção Após a iniciativa do prefeito, ele foi procurado pelo engenheiro e arquiteto Lix da Cunha, dono de empreiteira de mesmo nome. "Ele me disse que se eu providenciasse o material, ele colocaria o melhor mestre de obras da empresa para fazer a obra. Tudo de graça", conta o ex-prefeito, que além de advogado e professor de português, é um dos imortais da ACL. "Dr. Lix cedeu para a obra Joaquim dos Santos Paiva e Salvador Alves de Almeida. Quem terminou o desenho do projeto foram dois engenheiros da Prefeitura, José Georgino Lobo e Demival Bernardes Siqueira", reforça Alves de Lima. A sede própria foi inaugurada em 16 de maio de 1976, na Rua Marechal Deodoro, 525, no Centro, com toda pompa e esmero que a ocasião pedia. Segundo o presidente, o paisagismo ficou a cargo do artista plástico Geraldo Mayer Jurgensen, que seguia a escola do paisagista Roberto Burle Marx. Os móveis foram projetados pelo advogado Walter Geribello, que tinha especial sensibilidade. Esses móveis que deram o toque de elegância e nobreza no Salão Nobre da ACL. No alto do prédio há a escultura de uma fênix, símbolo de Campinas, feita por Lélio Coluccini. Em 1995 foi criada a Galeria de Artes Lélio Coluccini, logo na entrada do prédio, em homenagem ao escultor italiano radicado em Campinas. Em outubro daquele mesmo ano, após assinatura de convênio, o acervo de cerca de quatro mil livros foi transferido para o CCLA por falta de espaço na sede. Dez anos depois, Lauro Péricles e Rubem Costa costuraram acordo com o Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviárias da Zona Mogiana para que a Biblioteca da ACL fosse alocada lá, onde está até hoje, para ficar mais próxima da Academia.Projeto O acervo da ACL é o novo projeto de Jorge Alves de Lima. Ele pretende usar o espaço da parte de cima da Academia para, enfim, trazer a biblioteca, que atualmente tem mais de oito mil livros, para seu lugar de direito. "Estamos estudando um projeto para fazer na parte de cima, onde tem uma espécie de alçapão. É um bom espaço. Gostaria de fazer ainda este ano, no meu mandato, mas não sei se vai ser possível por conta dessa pandemia", diz ele, que foi colega de Lauro Péricles, na Faculdade de direito. O prédio da ACL pertence à Prefeitura e foi cedido para a Academia. O espaço também é utilizado para reuniões e eventos de algumas secretarias e outras entidades que não têm um salão próprio. As reuniões solenes ocorrem sempre na primeira semana de cada mês, com a presença de pelo menos uma escola da periferia, que leva entre 30 e 60 alunos. Cada um sai de lá com uma sacola com cinco livros de presente.