Assim como no domingo, a cidade registrou 37,9ºC na medição do Cepagri; onda de calor deve continuar até quarta-feira
Embora a medição oficial divulgada tenha registrado 37,9˚C, alguns termômetros de rua captaram uma temperatura ainda mais alta, como na Avenida Princesa d’Oeste (foto) (Kamá Ribeiro)
Campinas registrou a maior temperatura do ano na segunda-feira (25), com os termômetros marcando 37,9 ºC, segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp. No domingo, às 15h40, a temperatura já havia chegado a esta marca e na segunda-feira (25), às 14h40, a temperatura alcançou novamente os 37,9º C.
A onda de calor é olhada com cautela pela Defesa Civil, que prevê altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar até quarta-feira, dia 27. Na região, o calor também castigou outras cidades. Algumas chegaram a ter a máxima de 40 ºC, caso de Sumaré, Piracicaba e Valinhos. Outras 13 cidades tiveram a temperatura máxima igual ou acima de 39 ºC. De acordo com o Cepagri, as temperaturas máximas estão se desviando do esperado para a época do ano, com valores que superam 5ºC acima da referência desde a última quinta-feira (21).
Até a quarta-feira, os dias devem ser marcados pela presença de sol entre algumas nuvens, o que elevará as temperaturas e manterá a sensação de calor intenso e abafado, porém, no decorrer do período vespertino, a soma deste calor com a umidade proveniente da Amazônia e do oceano, criarão condições para pancadas de chuva isoladas, seguidas por raios, vento e até mesmo granizo.
Mesmo que os modelos não indiquem risco para acumulados expressivos de chuvas, recomenda-se ter atenção em áreas de risco, uma vez que não estão descartados momentos de temporais. Já a partir de quinta-feira (28), uma frente fria se aproxima e pode derrubar as temperaturas, o que deve gerar uma sensação bem mais amena. Além disso, haverá precipitações generalizadas seguidas por mais raios e vento, portanto permanece a recomendação de atenção em áreas mais vulneráveis.
As condições climáticas estão ligadas a uma forte massa de ar quente que continua elevando as temperaturas em todo o Estado de São Paulo, de acordo com a Defesa Civil estadual. Queimadas devem ser evitadas, assim como atitudes que possam ocasionálas, por exemplo: soltar balões ou jogar bitucas de cigarro em áreas vegetadas. Em caso de avistamento de incêndio, a população deve acionar o Corpo de Bombeiros pelo telefone 199. Devido à baixa umidade relativa do ar, a Defesa Civil fez algumas orientações: evitar caminhadas ou exercícios físicos entre 11h e 15h, ampliar o consumo de água, umidificar o ambiente com vaporizadores ou recipientes com água e, por fim, a população deve buscar espaços protegidos do sol quando possível.
IMPROVISO PARA MINIMIZAR DANOS
Para minimizar a sensação térmica, a população tem usados guarda-sóis, aumentado o consumo de bebidas geladas e até buscado o ar-condicionado de lojas que estão localizadas na região central. Edite Gertrude, que tinha um voo previsto para 17h de segunda-feira (25), optou por ir ao aeroporto às 13h30 para ficar em um ambiente com arcondicionado.
No Centro, a costureira Maria Lucia da Silva, de 64 anos, e que sofre com pressão baixa, carrega um banco consigo. Toda vez que sente a visão ficar turva, ela recorre a uma sombra, abre o banco e senta-se. Geralmente escolhe locais próximos às lojas que têm ar-condicionado em busca de amenizar os efeitos do calor. Na bolsa, ela também leva uma sacola com diversos panos, que umedece e coloca sobre os ombros para se refrescar. “Sempre levo água na minha bolsa, e vi mais de uma vez pessoas caindo devido às altas temperaturas. Por causa da minha condição de pressão baixa, prefiro levar meu banquinho para evitar cair. Eu também entro em lojas, dou uma olhada, tem gente que até já me conhece. É só para fugir do calor”, contou à reportagem.
Apesar das altas temperaturas, há quem goste da sensação térmica. Esse é o caso da Rosi Mari de Lima Campos, de 57 anos, que estava com a filha e o neto no centro da cidade. “Eu adoro o calor. Eu procuro ficar na sombra, mas acho maravilhoso.”
Com a reabertura dos banheiros na região central e a disponibilização da água, Miriam Boaventura, de 53 anos, aproveitou para encher a garrafa que carrega para se manter hidratada. “Com esta garrafa de água aqui, eu não preciso comprar. Então ajuda muito”, contou.
POPULAÇÃO DE RUA É A MAIS VULNERÁVEL
Para quem vive em situação de rua, a situação se torna mais complexa. Sem auxilio de protetor solar, banho constante e até mesmo um local para se recolher, eles se veem em um desafio diário para lidar com as altas temperaturas. Uma alternativa para esses grupos é encontrada em praças, sobretudo na Guilherme de Almeida, onde está localizado o Fórum. Em frente ao Palácio da Justiça há uma torneira onde pessoas em situação de rua se revezam para tomar banho, lavar roupas e beber água.
“A gente não tem onde ficar. A situação é bem mais complicada para nós. A ‘bica do Fórum’ se torna nossa alternativa’”, afirmou Cesar Augusto Fevereiro Filho, de 40 anos, que está em situação de rua.
Pessoas que estão em situação de rua são as que mais sofrem com as intempéries climáticas; Marcio (foto) contou que fica até quatro horas sem beber água por não conseguir encontrar um lugar acessível e adequado para fazer a hidratação (Rodrigo Zanotto)
Marcio da Conceição, de 42 anos, que estava com Cesar, reflete que ainda há preconceito contra eles, já que não conseguem ter os acessos básicos para a higiene. Ele calcula que chega a ficar até quatro horas sem beber água por não conseguir chegar até um local adequado. O único benefício do calor é não depender de cobertores para suportar o frio.
A reportagem foi até a torneira citada pelos moradores e encontrou pelo menos duas pessoas tomando banho nela para se refrescar do calor. Uma delas foi a Viviane Cileda Cardoso, de 45 anos. Ela está na rua há uma semana e prevê que em breve conseguirá alugar um apartamento para viver. Enquanto isso, usa a torneira pública para se refrescar das altas temperaturas.
AÇÕES
Pensando nesse público, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, em parceria com a Sanasa, iniciou no dia 20 de setembro a Operação Altas Temperaturas. As ações consistem na intensificação da abordagem, por parte do SOS Rua, da oferta de albergamento e de água, com a Sanasa fornecendo 1,2 mil copos de água por dia. A Operação Altas Temperaturas foi adotada em função da onda de calor.
“Estamos passando por um período atípico de calor e entendemos a necessidade de manter uma atenção especial durante esse aumento de temperatura”, explicou Vandecleya Moro, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos.