Com R$ 460,98 milhões em vendas para o exterior, desempenho é inferior apenas a 2019 e 2023
RMC acumulou R$ 15,03 bilhões em exportações nos primeiros sete meses deste ano, o quarto melhor resultado em 12 anos, de acordo com o Comex Stat; desempenho positivo é 15,38% inferior na comparação com as vendas ao exterior de janeiro a julho de 2023, o recorde do período (R$ 17,77 bilhões) (Kamá Ribeiro)
As exportações de Campinas somaram US$ 84,29 milhões (R$ 460,98 milhões) em julho, o terceiro melhor resultado para o mês em nove anos, de acordo com dados da Comex Stat, plataforma de balança comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O valor é inferior apenas ao recorde de US$ 97,77 milhões de igual mês de 2019 e aos US$ 87,38 milhões em julho de 2023. Para o economista José Roberto Fonseca, o resultado manteve a sequência da retomada do crescimento industrial verificada neste ano.
“Campinas é uma cidade com a economia marcada principalmente pelos serviços e indústrias, refletindo rapidamente o que acontece no país. O aumento da atividade industrial ainda é tímido, mas o setor vem reagindo e isso é importante”, afirmou. Outro indicador dessa retomada são as importações, pois as fábricas locais são dependentes de insumos para manter a produção. As compras feitas no exterior em julho foram de US$ 314,91 milhões (R$ 1,71 bilhão), o quarto maior volume em 2024, inferior apenas ao de janeiro (US$ 370,31 milhões), maio (US$ 339,49) e abril (US$ 325,21), segundo a Comex Stat. “A importação maior está relacionada ao aumento de renda no Brasil, ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e à maior produção industrial”, disse Roberto Fonseca.
No mês passado, o déficit da balança comercial de Campinas foi de US$ 230,62 milhões (R$ 1,26 bilhão). Uma fabricante de ração animal sediada em Campinas sentiu o reflexo do cenário econômico positivo ao registrar no primeiro semestre deste ano um aumento de 8% nas exportações para 20 países.
“Pretendemos consolidar nossas vendas atuais e ampliar a nossa participação na América Central, África e Ásia”, afirmou o gerente de Comércio Exterior da multinacional, Fernando Romano. Em busca de novos mercados, a empresa participou, em março passado, de uma feira internacional em Bangkok, na Tailândia, que reuniu cerca de 700 expositores de diversos países, como Rússia, China e Índia. Ela também participará até dezembro de eventos na Alemanha e na Coreia do Sul. “Buscamos países que reúnem algumas características, como grandes produtores de pescados, importadores de alimentos para animais ou matériasprimas, que tenham relações internacionais com o Brasil e condições competitivas de logística”, explicou o executivo.
A fabricante possui em sua linha de produtos desde itens para animais domésticos até para produção em grande escala, como na piscicultura e pecuária. “Essa diversidade nos permite alçar voos cada vez maiores, não apenas pela possível absorção de maiores volumes, mas também pela evolução nos métodos produtivos, que resultam em rações, como as extrusadas, com potencial de atingir mercados em todos os continentes do planeta”, afirmou o gerente de Comércio Exterior. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de ração, atrás apenas dos Estados Unidos e China. Além da planta em Campinas, a multinacional tem outras quatro unidades no Brasil.
GERAL
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) acumulou nos primeiros sete meses deste ano US$ 2,75 bilhões (R$ 15,03 bilhões) em exportações, o quarto melhor resultado em 12 anos, de acordo com o Comex Stat. O desempenho positivo é 15,38% inferior na comparação com as vendas ao exterior de janeiro a julho de 2023, o recorde do período, US$ 3,25 bilhões (R$ 17,77 bilhões). O resultado também foi superado pelo acumulado em 2022 (US$ 3,22 bilhões) e 2013 (US$ 2,81 bilhões).
Já as importações somaram de janeiro e julho deste ano US$ 8,94 bilhões (R$ 48,89 bilhões), o segundo maior volume em 12 anos. Foi superado apenas pelos US$ 10,22 bilhões (R$ 55,89 bilhões) de 2022. Com isso, o saldo da balança comercial regional nos primeiros sete meses de 2024 teve o déficit de R$ 6,19 bilhões (R$ 33,85 bilhões). Para o economista, o resultado mostrou que a atividade industrial está melhorando na RMC, e isso tem refletido no mercado de trabalho.
A indústria regional abriu 5.974 novas vagas no primeiro semestre desde ano, o setor com o segundo melhor desempenho, de acordo com pesquisa do Observatório PUC-Campinas. Ele foi superado apenas pelo segmento de serviços, com 13.313, mas “parte das vagas desse setor também envolve a atividade industrial, através da contratação temporária de serviço terceirizado”, explicou a economista Eliane Navarro Rosandiski, responsável pelo levantamento feito pelo órgão da PUC-Campinas. De acordo com a pesquisa, as maiores contratações na área de serviços foram para serviços de administração, conservação e manutenção de edifícios, embaladores e alimentadores de produção.
JUROS
De acordo com o Observatório, o terceiro setor da RMC que mais gerou novos postos de trabalho de janeiro a junho foi a construção civil (5.063), seguido por comércio (1.062). A agropecuária foi o único setor a ter fechamento de vaga, ou seja, as demissões superaram as contratações (-278).
Para o economista José Roberto Fonseca, o desempenho industrial não é melhor por causa dos altos juros no país, um dos maiores do mundo. “Juros altos travam a economia há bastante tempo”, afirmou. Ele criticou a posição do Banco Central de ter interrompido a sequência de baixa de juros e ainda aventar a possibilidade de nova alta nos próximos meses. A Selic, a taxa básica, foi mantida em 10,5% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na reunião do mês passado, pondo fim a sete cortes seguidos. As reduções tiveram início em agosto de 2023, quando a taxa estava em 13,75%.
Apesar das reduções, a taxa real de juros no Brasil, descontada a inflação, ainda é a segunda maior do mundo. Ela é de 6,79% ao ano, inferior apenas aos 8,91% da Rússia. “Se o combate à inflação tiver apenas esta ferramenta (juros altos), não possibilita o crescimento da economia”, criticou o economista. “O problema é que o Brasil tem idolatrado a política do tripé macroeconômico, metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, no qual a única ferramenta de controle da inflação é a alta dos juros”, acrescentou o economista.
De janeiro a julho, as exportações da RMC tiveram uma participação de 6,99% do total de US$ 39,29 bilhões (R$ 214,87 bilhões) do Estado de São Paulo. Foi o melhor resultado neste ano. As importações representaram 20,82% dos US$ 42,93 bilhões (R$ 234,78 bilhões) paulistas. Seguindo a tendência verificada até julho, Roberto Fonseca disse que a Região Metropolitana deve fechar o ano com alta nas importações e queda nas exportações.
Os principais destinos das vendas ao exterior são, na ordem, Estados Unidos, Argentina, México, Chile e Alemanha. Juntos, esses cinco países representam em torno de 53% das exportações regionais. As cidades que mais exportam são Campinas, Paulínia, Indaiatuba, Vinhedo e Sumaré. Já as importações têm origem na China, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Coreia do Sul.